Se Dezembro é o mês de LEMMY e dos MOTÖRHEAD, então Outubro só pode ser de PETER STEELE e dos seus imortais TYPE O NEGATIVE.
Já passou mais de uma década sobre a partida de Peter Steele, mas a sua música ainda ecoa e, graças a «October Rust», os TYPE O NEGATIVE tornaram-se a banda de Outubro, mesmo que muitas tentem disputar o Halloween. O baixista tinha um humor corrosivo, à altura das suas dimensões – e esse humor ajudou na escolha de muitas das versões que fez com a sua banda. Outro factor de peso nestas opções foi o seu gosto musical, ou melhor, o seu gosto pela música.
Só assim se explica que os Status Quo ou The Beatles apareçam ao lado dos monstruosos Black Sabbath na lista de bandas a que prestou homenagem. A verdade é que o músico nem sempre esteve sozinho quando chegou a altura de fazer covers; em «Pictures Of Matchstick Men», por exemplo, teve Ozzy ao seu lado.
Por inusitada que possa parecer à primeira vista, a interpretação para o original dos Status Quo até faz muito sentido face à proximidade entre a melodia original e o género de melodia típica dos temas mais doom dos TYPE O NEGATIVE. Foi incluída na banda-sonora de ‘Private Parts’, o filme biográfico sobre a vida do radialista Howard Stern, lançado em 1997.
Obrigatória é a versão de «Black Sabbath». Só mesmo Peter para pegar num tema tão sagrado e não o estragar. A malha encontra-se em «Nativity in Black – A Tribute To Black Sabbath», de 1994. Um som de água a borbulhar, seguido de teclados, confere uma originalidade à reinterpretação dos TYPE O NEGATIVE, e Geezer Butler certamente não se deve ter importado mesmo nada com o volume do baixo na mistura. Poderá não ter o carácter hipnótico e desesperado do original, sim, mas aquele “Ave Satanas” é o upgrade certo.
Aliás, não foi à toa que, um par de anos mais tarde, o tema fosse mesmo rebaptizado como «Black Sabbath (From The Satanic Perspective)». Claro que, sendo um nome tão influente no som dos TYPE O NEGATIVE, os Black Sabbath ainda seriam alvo de mais uma abordagem, através de uma «Paranoid» com letra alterada, que surgiu no controverso «The Origin Of The Feces».
Das bandas clássicas, Iommi e companhia não foram os únicos a ganhar a reverência do gigante gentil, da mesma forma que Howard Stern não proporcionou a única colectânea. Os Deep Purple e uma compilação para a Nascar, em 2002, serviram de mote para os músicos avançarem através de «Highway Star», numa versão cheia de groove, com veia punk e um Peter que se deve ter deliciado a gravar layers sucessivas de takes vocais para emular Ian Gillan.
Diga-se já que a ironia do Sr. Steele esteve sempre presente, como no caso de «Hey Pete», também do «The Origin Of The Feces», de 1992, pode atestar. O original, intitulado «Hey Joe», é de Billy Roberts, mas o tema foi popularizado por Jimi Hendrix. A linha “Hey Pete, where are you going with that axe in your hand? I’m going to kill my old lady” é impagável. São os TYPE O NEGATIVE no seu melhor.
Outros nomes dos anos 60, como os The Beatles, foram também alvo de abordagens, neste caso num medley intitulado «Day Tripper». Além do tema referido no título, a versão, a última do alinhamento do «World Coming Down», de 1999, ainda encontra espaço para trechos de «If I Needed Someone» e «I Want You (She’s So Heavy)». Nunca captada em estúdio, «Back In The USSR», também do quarteto de Liverpool, tornou-se uma abordagem regular ao vivo, assim como o psicótico «Santana Medley», onde Santana é recuperado através de três temas a ele associados.
«Evil Ways», de Willie Bobo, «Oye Como Va», de Tito Puente, e «Black Magic Woman»,dos Fleetwood Mac são os temas – um pouco trucidados, diga-se. Essa abordagem, talvez das menos interessantes assinadas pelo grupo, está no DVD «Symphony For The Devil», de 2006. Os The Doors também foram alvo de uma versão, estranhamente acelerada, de «Light My Fire», mas a ironia e os temas cheesy tiveram continuidade na cover de «Angry Inch» — originalmente da banda-sonora de ‘Hedwig And The Angry Inch’, um musical transformado em filme — , incluída em «Life Is Killing Me», numa versão com veia punk e uma letra imortal. “My sex-change operation got botched / My guardian angel fell asleep on the watch / Now all I got is a Barbie Doll-crotch”.
O amor de Peter pelos hits dos anos 60 e 70 resultou também numa das versões mais conhecidas que alguma vez assinou, «Summer Breeze». O original de 1972 é dos Seals & Croft e recebeu uma abordagem muito conservadora face a outros momentos hilariantes aqui abordados. Na verdade, o tema tornou-se património dos TYPE O NEGATIVE e passa-se por «Bloody Kisses» sem perceber que está lá uma versão.
No entanto, aquela que é, talvez, a melhor versão da banda, a par de «Black Sabbath», é «Cinnamon Girl». O tema está em «October Rust», e acaba a ajudar que Outubro seja o mês desta gente. O original, escrito e gravado por Neil Young, é abordado com a típica veia punk dos drab four e tem as doses certas de groove e psicadelismo. Tudo vertentes que sumarizam muito bem o melhor que a banda fez ao longo dos anos e que a tornaram tão importante para quem teve o prazer de a escutar.
Mais de uma década após o término e a morte de Peter, talvez esteja aqui um bom conjunto de temas para os descobrir, ou simplesmente para apreciar o seu humor, aproveitando a ferrugem de Outono.