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SONICBLAST @ Praia da Duna dos Caldeirões, Âncora | 09-12.08.2023 [reportagem]

Riffs, cerveja, praia e boa onda. A edição deste ano do SonicBlast Fest ofereceu isso tudo e muito mais… Confere a reportagem completa em baixo.

O nosso périplo pela Duna dos Caldeirões começou logo na quinta-feira, 9 de Agosto, com a warm up de recepção aos festivaleiros. Como seria de esperar, houve muito mosh, crowdsurf e cerveja a voar. A noite começou com o prog lunático dos Plastic Woods e o rock com fusão blues dos Ruff Majik, mas os ânimos aqueceram a sério especialmente com as duas bandas que fecharam a noite. Os Scatterbrainiac e os Nagasaki Sunrise soltaram descargas punk explosivas, que levaram o já numeroso público presente ao delírio neste arranque do festival. Um tiro de partida bem alto!

No arranque oficial desta edição do SonicBlast ficou bem claro que os ingredientes perfeitos para que este tipo de festival não se torne um loop de riffs stoner sem fim passa por uma programação variada, em que tanto estamos a ouvir riffs cheios de banha como, de repente, somos surpreendidos com uma estalada de hardcore punk para dar um kick no mood. E foi nesta dança que os SPY iniciaram as hostilidades do primeiro dia, no que toca a este tipo de hardcore mais pesado, cheio de riffs gordos e aquela atitude má onda que é sempre bem-vinda nestas sonoridades.

Antes, já tínhamos levado com uma boa dose de krautrock cotesia dos Mythic Sunship, e foi um bocado neste balanço entre o rápido e o lento que esta primeira trip do festival foi avançando. Com o final do dia, vieram os lendários Acid King mostrar como se toca stoner/doom com classe e levámos com uma verdadeira lição de riff worship, do mais apropriado que se possa imaginar para este festival.

Num cartaz tão vasto, é inevitável uma questão ou outra de última hora e, desta vez, coube a fava às Death Valley Girls, que tiveram um pequeno percalço com o voo e tiveram que trocar o slot que estava inicialmente programado para um pouco mais tarde do que era suposto. No final de contas, até correu bem — só beneficiaram com esta troca e lançaram o tapete para o furacão que se avizinhava. Por outro lado, houve o que tenha corrido exactamente como já seria de esperar: os OFF!, de Keith Morris, varreram à grande tudo e todos e deram uma lição de punk furioso como manda a lei.

Depois desta arruaça toda, houve ainda tempo para um pézinho de dança prog com uns Hällas cheios de groove interminável, que colocaram literalmente todo o recinto a dançar. É sempre mágico presenciarmos o efeito do hit «Star Rider», que nunca falha e mete toda a gente a trautear a melodia das notas viciantes de guitarra.

Recompostos do primeiro dia de festival, seguimos então para o segundo round desta viagem pelo SonicBlast. O primeiro destaque do dia foi para os Mondo Generator do inflamado Nick Oliveri, com o trio a disparar hits de punk sujo misturados com uma certa nostalgia stoner, a remeter naturalmente para os clássicos dos Kyuss e Queens Of The Stone Age. Ao pôr do sol e já com a noite a espreitar, houve o momento world music com o rock do deserto dos Bombino, a provar que estas oscilações de atmosferas e estilos no cartaz só beneficiam em favor da programação do festival.

No entanto, a “bronca na discoteca” aconteceu mesmo com os Scowl, da enérgica e endiabrada Kat Moss, que mostraram sem problemas que o hype à volta da banda é mais que merecido, ao dispararem descargas curtas de hardcore que levaram ao delírio os fãs do género. O verdadeiro twist da noite, no entanto, estava por vir, e chegou com a entrada do senhor Thurston Moore e respectiva banda no cenário com uma jorrada de dissonâncias e loops de noise experimental que poderá ter confundido alguns dos presentes, mas que foi a cereja no topo do bolo para os amantes de música mais aventureira.

A noite prosseguiu com a surpresa Frankie And The Witch Fingers, que levaram os amantes de psych moderno ao êxtase com uma energia contagiante. Ainda houve tempo, claro está, para sonoridades mais clássicas do género com o fechar da noite em beleza a cargo dos Elder e dos Black Bombaim, ali quase a “jogar em casa”.

O último dia desta edição do SonicBlast foi provavelmente o mais eclético na programação e reforçou ainda mais os benefícios de ter diferentes moods entre concertos. O dia foi fluindo por vários caminhos que, mesmo sendo díspares, acabaram por convergir na perfeição. O primeiro destaque vai para as jams psicadélicas intermináveis dos Earthless ,que levaram os festivaleiros à loucura nesta viagem krautrock cheia de solos e ritmos alucinantes.

Mas o verdadeiro alien do festival viria a seguir com os A Place To Bury Strangers. O trio entrou em palco e, logo na primeira música, houve guitarras partidas, muito feedback, “chinfrineira” noise e caos total. Para ajudar, como se a loucura não fosse já suficiente, os três músicos apareceram de surpresa no meio do público para uma sessão de barulho em que a plateia também interagiu, num clima de festa que acabou por revelar-se um dos pontos altos do fim de semana.

Mudamos outra vez de mood com os veteranos do sludge Eyehategod e percebe-se o porquê de haver tantos punks no recinto neste dia. Com o Mike IX Williams a evidenciar um aspecto um pouco mais saudável do que a última vez que este escriba os viu, o quarteto entrou com tudo e disparou aquela má onda habitual com uma atitude mais punk que certas bandas do meio.

A noite avançou com os Black Angels a hipnotizarem o mar de gente que encheu o recinto com o psicadélico moderno arrojado que tão bem sabem fazer e com uma componente visual perfeita para este tipo de viagem. O doom a sério e veneração do riff, em jeito de conclusão perfeita dos três dias, viria a seguir com os japoneses Church Of Misery, que deram uma verdadeira lição no que toca a este tipo de sonoridade com um concerto coeso e poderoso.

Texto e fotos: PEDRO ROQUE