dark tranquillity

DARK TRANQUILLITY @ MILAGRE METALEIRO OPEN AIR | 26.08.2023 [reportagem]

No segundo dia de MILAGRE METALEIRO OPEN AIR, os suecos DARK TRANQUILLITY foram “reis e senhores” com o seu ‘melodeath’ de qualidade superior.

O primeiro dia do Milagre Metaleiro Open Air, superou todas as expectativas – que já estavam bem lá em cima. Não só pelo memorável concerto dos MOONSPELL, mas também pelo conjunto de actuações marcantes, das quais vos falaremos detalhadamente muito em breve. Obviamente que, para o segundo dia, essas expectativas não baixaram, principalmente quando teríamos oportunidade de testemunhar, ao vivo e a cores, o regresso a solo luso de uma das bandas mais queridas pelo público português e uma das grandes embaixadoras do death metal melódico sueco, que colocou Gotemburgo no mapa do metal extremo, a par dos In Flames e At The Gates. Falamos, sem surpresas, dos DARK TRANQUILLITY.

Tal como no caso dos MOONSPELL, a carreira dos DARK TRANQUILLITY é já longa, marcada por diversas mudanças estilísticas e uma evolução que poderá ter-lhes valido a perda de alguns fãs mais antigos pelo caminho, mas que garantiu o respeito e admiração de muitos outros. Ainda em termos de comparação com a banda portuguesa e com o alinhamento escolhido, os suecos optaram por não ir tão fundo na sua discografia, sendo que o que mais lá atrás que recuaram foi até 99, ao álbum «Projector», precisamente um registo que já tinha como ambição expandir os limites estabelecidos com os três primeiros álbuns.

A entrada em palco por parte da banda de Mikael Stanne foi celebrada por um mar de gente — embora não tenhamos acesso a números oficiais no momento, a impressão é que em maior número que no dia anterior –, que vibrou sobremaneira com a abertura «Encircled», de «Atoma», um álbum longe de ser consensual, mas que no palco principal do Milagre Metaleiro Open Air não acusou qualquer tipo de falta de charme ao provocar entusiasmo no público quando foi invocado. Estranhamento, ou talvez não, foi o que se passou quando tocaram também a «Forward Momentum», outra canção do disco de 2016.

De resto, a recepção por parte do público foi efusiva e não acusou o cansaço durante toda a actuação — e a energia vinda da plateia impressionou o sempre simpático Mikael Stanne. Uma das primeiras grandes explosões aconteceu durante «Lost To Apathy», uma das músicas mais pesadas do alinhamento, que fez levantar poeira em frente ao palco com um intenso circle pit, o que também é uma boa representação do público presente neste festival — nunca desperdiça uma boa oportunidade para fazer a festa. Essa alegria e essa energia foram sendo recebidas e apreciadas pela banda, cujos elementos transpareciam uma óbvia alegria por estarem de regresso a Portugal.

É fácil perceber que a banda não só está bastante coesa em cima do palco, como também escolhe um alinhamento que facilita a harmonia, conseguindo fluir entre as suas diferentes eras, sem que exista uma ruptura brusca e momentânea por um clássico que soaria fora do contexto. Essa harmonia também foi reforçada por um bom e cristalino som de palco, essencial para que temas como «Hours Passed In Exile» e «Terminus (Where Death Is Most Alive)» não perdessem impacto.

Ainda na temática do impacto, importa destacar o aproveitamento das condições dadas pelo festival — os MOONSPELL também o fizeram, mas os DARK TRANQUILLITY conseguiram ir mais longe: o uso do ecrã gigante atrás da banda, a apresentar uma sequência de imagens, animadas ou não, relativas ao tema que estava a ser tocado funcionou na perfeição. Embora o nosso foco seja (e será!) sempre a música, os olhos ficam sempre cheios com estes detalhes que enriquecem positivamente qualquer actuação.

Felizmente esta é daquelas bandas com temas que carregam um poder tal que, verdade seja dita, até podemos estar de olhos fechados e o impacto não se perde. Um exemplo? «Therein», que continua a funcionar como a representação perfeita do que os DARK TRANQUILLITY tinham ambição de alcançar com o «Projector» e com todos os álbuns que vieram a seguir. Um dos pontos altos da noite — no meio de muitos pontod altos, este talvez tenha sido mesmo o mais alto de todos –, que terminaria ainda com «Final Resistance» e «Misery’s Crown», o primeiro de «Damage Done» (um dos álbuns mais requisitados da noite) e «Fiction».

No final, a banda saiu de coração cheio, assim como o público que ainda tinha muita música pela frente, mas para a memória de todos os presentes ficou um regresso que, por um lado, matou as saudades e, por outro, fez aumentar a vontade de repetir a dose muito em breve — ou, pelo menos, ficou o desejo de não termos de esperar novamente mais cinco anos por um regresso destes rapazes a Portugal.

Fotos: Sónia Ferreira