Num LAV – Lisboa Ao Vivo esgotado, os APOCALYPTICA transformaram agressividade em beleza melódica e mostraram quão sólida e vibrante pode ser a sua ligação ao público nacional.
Ontem, Domingo, dia 17 de Novembro, a Sala 1 do LAV – Lisboa ao Vivo acolheu pela primeira vez os finlandeses APOCALYTPICA, que assinaram mais um concerto memorável em solo luso. Perante uma sala esgotada, o trio de violoncelistas voltou a demonstrar porque é um dos nomes mais emblemáticos do metal toca com violoncelos, unindo o peso da música feita com guitarras distorcidas à sofisticação da música de câmara.
No entanto, antes ainda dos cabeças de cartaz entrarem em cena, os também finlandeses ARCTIS aqueceram a sala com a sua fusão de pop e metal moderno. Com um som polido e acessível, a banda liderada por Bjorn e Alva apresentou temas do álbum de estreia, entre os quais se contaram «I’ll Give You Hell» ou «Frozen Swan» e, embora a reação do público tenha sido moderada, conseguiram conquistar alguns aplausos com a sua energia e competência.
Fundados em 1993 por quatro estudantes da Academia Sibelius em Helsínquia, os APOCALYTPICA tonaram-se famosos por tocar temas dos METALLICA com arranjos únicos para violoncelo. Nos anos seguintes, esta abordagem pioneira abriu caminho para uma carreira que transcendeu o conceito inicial, abraçando composições originais e colaborações com artistas tão diversos como Corey Taylor (dos Slipknot), Till Lindemann (dos Rammstein) ou Adam Gontier (ex-Three Days Grace). No entanto, o que os trouxe desta vez a Portugal foi o recente «Apocalyptica Plays Metallica Vol. 2», LP em que, tantos anos depois, decidiram recuperar o conceito original do projecto.
Apropriadamente, o concerto arrancou com a icónica «The Ecstasy of Gold», de Ennio Morricone e apropriada pelos METALLICA como introdução, preparando o terreno para uma noite pautada por altas doses de energia e, claro, nostalia também. A genial sequência inicial, composta por «Ride The Lightning», «Enter Sandman» e «Creeping Death» mergulhou desde logo o público num estado de euforia. Porém, foi com «Battery» que o espectáculo atingiu o seu primeiro clímax, com Eicca e Perttu a entregarem-se a uma performance intensa, marcada pelo headbanging furioso que caracteriza os melhores momentos dos APOCALYPTICA em palco.
Outro dos pontos mais emocionantes da noite chegou com «The Call Of Ktulu», uma homenagem ao lendário Cliff Burton, e a imagem do falecido baixista projectada no fundo do palco trouxe um peso emocional inegável ao momento, transformando o tema instrumental numa experiência quase espiritual para os fãs. Canções como «For Whom The Bell Tolls» ou «Master Of Puppets» foram recebidos com um entusiasmo esmagador, a «St. Anger» mostrou-se mais divisiva. Apesar da execução irrepreensível e do esforço de Eicca em justificar a escolha, o tema continua a polarizar opiniões e não há nada que se possa fazer em relação a isso.
Felizmente, a «The Four Horsemen» (que Eicca Toppinen introduziu antecipando que seria “muito cool” tocar aquele riff no violoncelo – e, de facto, foi!), a «Blackened» tocada com muita garra e uma magistral «Master Of Puppets» entoada em uníssomo, trouxeram uma nova explosão de energia, que reforçou não só a versatilidade dos músicos, mas também a força do repertório que andam de novo a explorar – os APOCALYPTICA fazem total justiça aos temas. À semelhança do que se passa nas actuações de Hetfield e companhia, o ponto mais alto da noite a nível emocional foi, sem dúvida, «Nothing Else Matters». A sala mergulhou numa atmosfera mágica, iluminada pelas luzes dos telemóveis e acompanhada em coro por uma plateia completamente rendida.
Antes de «Seek And Destroy», Perttu Kivilaakso apresentou os músicos, recebendo uma calorosa salva de palmas, e o encerramento chegou com «One», reinterpretada de forma única no novo álbum da banda. Incorporando a narração de James Hetfield, que ofereceu uma abordagem audiovisual bastante inovadora que tanto cativou os fãs de mais longa data como todos aqueles que os descobriram mais recentemente. Feitas as contas, com mais de trinta anos de carreira, os APOCALYPTICA não perderam a capacidade de mostrar que o metal não tem limites nem barreiras.