WHITE ZOMBIE

AQUELA VERSÃO: Os WHITE ZOMBIE e a sua caixinha de horrores

O Halloween traz de volta a época mais apropriada do ano para revisitar sem medos o legado ‘groove meets gore’ dos lendários WHITE ZOMBIE.

E que melhor forma de (re)visitar a carreira de Robert Bartleh Cummings, vulgo ROB ZOMBIE, que mergulhar naqueles treze anos em que esteve ao volante do Cadillac do terror a que chamou WHITE ZOMBIE? Rob pode ser o autor de sete álbuns a solo, ter dirigido onze filmes e ser o mais provável herdeiro de Alice Cooper no reino do stage show, mas os seus hits mais “esgroviados” e capazes de prender uma orelha a um amplificador de forma mais eficaz que uma mistura de piercings e rebites estão no que fez com a banda que o tornou famoso.

Entre 1985 e 1998, Rob e Sean Yseult redefiniram um estilo com os WHITE ZOMBIE e só acabaram ultrapassados, na recta final, por Marilyn Manson. A cisão prematura da dupla, que remeteu a banda para um curiosity cabinet digno de um Del Toro, evitou ver a degradação da imagem e do nome, ao contrário dos tristes cenários em que Manson acabou por mergulhar. Aqui, o termo “prematura” aplica-se porque a dupla deixou apenas cinco álbuns e, na realidade, apenas três ficaram para a posteridade, editados num curto período, entre 1992 e 1996.

«La Sexorcisto: Devil Music Volume One», «Astro Creep: 2000» e «Supersexy Swingin’ Sounds» são monumentos ao groove, ao gore hollywoodesco e mereciam ser tocados na íntegra a cada passagem de Halloween.

Como banda, deixaram apenas três versões para a história. Logo em «Nativity In Black – A Tribute to Black Sabbath», de 1994, agarraram «Children Of The Grave». Aliás, agarraram, mutilaram, roubaram uma bateria de Manson e reergueram o monstro, assente apenas no esqueleto de groove original, que aceleraram – e ainda introduziram o ADN tipicamente WHITE ZOMBIE, incluindo um sample de voz.

Escuta-se, reescuta-se e, aí pela décima audição, fica-se a questionar que tratamento teria tido «Supernaut» se calhasse, como opção, a Sr. Zombie. E que gozo dá ver um jovem John Tempesta a atacar a bateria, ao vivo, no tema. De resto, a abordagem trituradora dos WHITE ZOMBIE já se podia antever logo em 89, no EP «God Of Thunder», mas a produção e experiência ainda não chegavam para criar uma versão impressionante, mesmo que fazer um update de um clássico dos KISS não seja uma tarefa assim tão exigente.

Curiosamente, a capa, com Zombie a segurar Gene Simmons pelo cabelo já fosse reveladora das intenções do cantor para o futuro, mas nos 80s o grupo era ainda desconhecido. Talvez isso os tivesse feito escapar do crivo de Gene e não serem processados pelo uso da imagem. Por fim, em 1996, na banda-sonora de “The Crow – City Of Angels”, o grupo vai ao funk de K. C. & The Sunshine Band e recria «I’m Your Boogieman».

A revisitação sofre de algum excesso de experimentação e production gimmicks, mas hoje consegue soar mais interessante que há uns anos atrás, quando era apenas mais um tema numa colectânea de banda sonora de filme. Depois, na versão que surge em «Supersexy Swingin’ Sounds», re intitulada «I’ m Your Boogie Man (Sex On The Rocks Mix)», tudo soa ainda melhor e acaba por ser essa a versão definitiva.

Curiosamente, e apesar do peso de alguns dos originais dos WHITE ZOMBIE, são poucos os artistas que tentaram abordar os temas da banda, não contando com o próprio Rob a solo, que continua a assentar os seus concertos nos vários clássicos que escreveu. Mesmo assim, ainda se pode encontrar a colectânea «Super-Charger Hell – A Tribute To White Zombie», de 2000, onde os norte-americanos Catch 22 fazem uma versão decente de «Thunder Kiss ’65», e introduzem um solo mais veemente que o do original.

Já este ano, os orelhudos Soil conseguiram fazer um interessante disco de versões em que introduzem uma roupagem mais cinzentona, mas mesmo assim sólida, à canção. Será um claro exemplo de assistir a uma qualquer sequela de «Halloween» ou «Friday 13th»; são sempre boas, até se conhecer o original. «Super-Charger Heaven» é outro dos temas alvo de covers, mesmo que não seja dos mais icónicos do grupo.

Num outro “tributo”, «The Audiophonic Horror & Gore Tribute To Rob Zombie», de 2012, os Death Blossoms fazem uma excelente versão punk do tema. Já a dos Daemos, no disco de homenagem de 2000, soa sem chama, com os músicos a fazerem o tema por obrigação. Para fechar, temos o clássico «More Human Than Human», que recebe um tratamento tão insípido quanto desconcertante na mão dos SKAndalous All-Stars. A visão dos Shockwerks é também pouco interessante e sem energia, da mesma forma que os Razed In Black industrializam a malha.

O mesmo acontece com os Transient, em «The Electro-Industrial Tribute To Rob Zombie», de 2002. AH! E que dizer da agressão de Richard Cheese And Lounge Against The Machine? Vale apenas como piada, pois claro. Ainda hoje, a melhor versão acaba por ser a do astro-vreep, american, crawling dead, phantom in a box shadow, ripper man, the nexus one… Rob Zombie, o próprio!