WAYNE KRAMER

Homenagem a WAYNE KRAMER, guitarrista e fundador dos revolucionários MC5 | 30.04.1948 – 02.02.2024

O punk rock pode ter nascido em Londres durante os anos 70, mas os progenitores criaram-no em Detroit e chamavam-se MC5. Esta semana despedimo-nos de WAYNE KRAMER, um dos fundadores dos cinco da cidade dos motores.

Existem duas versões de WAYNE KRAMER. Uma está bem presente nos primeiros segundos do vídeo que captura a essência dos MC5, registado no Tartar Field, em Julho de 1970. Outra é a versão que dá nome ao canal de YouTube onde o vídeo foi inicialmente colocado, um músico que pouco fez após o final do quinteto de Detroit e que, nas últimas décadas, ajudou a promover a banda que o tornou conhecido. Ora rodeando-se de músicos de nomeada, fãs dos MC5, ora divulgando a marca.

Primeiro como MC5, e mais tarde como MC50, WAYNE KRAMER acabou por viver os seus últimos anos de vida à custa de uma fama legitimamente ganha.

Rob Tyner faleceu em 1991, Fred “Sonic” Smith foi-se em 1994. Ao lado de Kramer, formaram o núcleo duro de um quinteto que colocaria Detroit no centro do mapa rock. Outros músicos integraram o grupo, bem como a comunidade que formavam, mas tudo passaria por estes três.

Nascido em 30 de Abril de 1948, o guitarrista tornar-se-ia conhecido por integrar o furacão musical que foram os MC5. Com uma carga fortemente política e antissistema, os músicos eram a cabeça de proa de um movimento centrado em Detroit, no final dos anos 70, e de onde saíram outros grandes nomes como THE STOOGES, com Iggy Pop, AMBOY DUKES, com Ted Nugent, Bob Seger e, de certa forma, o imortal Alice Cooper.

Como registo de estreia, lançaram um explosivo álbum ao vivo, intitulado «Kick Out The Jams», em 1969. O baterista Dennis Thompson e o baixista Michael Davis, falecido em 2012, completavam uma formação que gravou esse disco, bem como os dois de estúdio que se seguiram: «Back In The USA», lançado em 1970, e «High Time», do ano seguinte.

Demasiado intensos para aquela época, ou outra qualquer, excessivamente envolvidos no consumo de estupefacientes, os cinco da Motor City levariam a banda à implosão em 1972, ficando WAYNE KRAMER a tentar segurar o barco. Seriam quase duas décadas até superar os hábitos que levaram à separação do quinteto. Na realidade, por diversas razões o grupo nunca mais se reuniu e Kramer, a partir dos anos 90, começou a reunir diferentes formações para obter proveito de um nome cada vez mais referenciado por outros músicos.

Rotulados como proto-punk, os MC5 foram recuperados e elogiados durante os anos 90, fazendo com que WAYNE KRAMER fizesse diversas incursões à volta do grupo. O trio Kramer, Michael Davis e Dennis Thompson acabaria por reunir-se sob a designação DKT/MC5, actuando no Paredes de Coura, em 2004. Com eles, tocaram vários músicos; a saber, Evan Dando, dos LEMONHEADS, Marshall Crenshaw, Nick Royale, dos ENTOMBED, THE HELLACOPTERS e LUCIFER, Deniz Tek, dos RADIO BIRDMAN, e Mark Arm, dos MUDHONEY.

Reconhecido pela revista norte-americana Rolling Stone como sendo um dos “250 melhores guitarristas de todos os tempos”, Kramer gravaria cinco discos a solo, começando nos anos 90, além de participar em inúmeros registos de outras bandas e artistas. Um dos mais recentes foi «Detroit Stories», de 2021, onde revisitou sob a batuta de ALICE COOPER os tempos de Detroit.

WAYNE KRAMER foi também produtor, tendo trabalhado com os MUDHONEY. Saltando de projecto em projecto, que incluiu fundar uma editora com a esposa, a MuscleTone Records, ou participar na criação de bandas-sonoras para TV, o guitarrista acabaria por falecer vítima de um cancro pancreático no passado 2 de Fevereiro de 2024.

Em vida, foi por diversas vezes elogiado e reconhecido pelos seus pares, incluindo uma menção no tema «Jail Guitar Doors», no qual os THE CLASH fazem referência aos problemas e esquemas de Kramer… Na morte, nomes como Slash e Duff McKagan, dos GUNS N’ ROSES, Tom Morello, dos RAGE AGAINST THE MACHINE, Ted Nugent, Alice Cooper, Vernon Reid, dos LIVING COLOUR, ou William DuVall, dos ALICE IN CHAINS, prestaram as suas sentidas homenagens ao músico. No entanto, é nos primeiros minutos da interpretação de «Ramblin’ Rose» no Tartar Field que reside o melhor “tributo” ao músico, feito por ele próprio!