TYPE O NEGATIVE: O «Life Is Killing Me» foi, segundo PETER STEELE, “uma espécie de crise de meia-idade”

Qualquer banda que permaneça no activo durante muito tempo vai inevitavelmente passar por vários períodos de transição, adaptação e inspiração. Primeiro, as tendências mudam a uma velocidade assustadora, tornando obsoleto o que em tempos foi popular. Depois, fazer música, para quem dela vive, torna-se menos uma alegria que um emprego e, claro, os velhos demónios das drogas, da bebida e da depressão começam inevitavelmente a apertar as suas garras. A vida acontece, mas não é a vida que se queria ou esperava, e esses períodos são delicados de navegar.

Gigantes, mas não imunes a estas vicissitudes, os norte-americanos TYPE O NEGATIVE também passaram por algumas fases menos boas e, segundo a própria banda, uma delas coincidiu exactamente com o período em que escreveram e gravaram o seu sexto álbum. O malogrado Peter Steele, frontman e força motriz dos nova-iorquinos, descreveu esse período nas entrevistas de promoção ao LP como “uma espécie de crise de meia-idade” e, mais recentemente, o guitarrista Kenny Hickey apontou a pressão gerada pelo sucesso como uma das principais fontes de instabilidade no seio do grupo.

Para agravar as coisas, o «Life Is Killing Me» foi editado uma década após o «Bloody Kisses», o LP de maior sucesso crítico e comercial da banda — e, nesse período, as expectativas em relação aos resultados mudaram muito também. “Acho que o «Bloody Kisses» foi um disco muito inventivo“, explicou recentemente Hickey em conversa com o We Are The Pit.

Em termos de criação, sinto que esse LP foi como um renascimento para a banda, sobretudo naquilo que diz respeito a escrever no nosso estilo. De certa forma, foi um álbum positivo mesmo sendo feito por nós. Depois fizemos o «October Rust», que ainda era muito romântico, ainda mais inventivo, e mantinha uma visão positiva de que talvez as coisas corressem bem e pudéssemos realmente realizar os nossos sonhos. A partir daí… Bem, odeio dizer isto, mas tudo começou a piorar bastante. A banda ainda era inventiva, ainda era eclética. O Peter continuou sempre a compor e manteve-se brilhante cmo sempre foi no «World Coming Down», mas aí já estávamos a admitir que os nossos sonhos não se iam realizar e que aquilo era o que nos restava.

Eventualmente, o vício tomou conta de mim, do Peter e até mesmo do Josh”, continua Kenny Hickey, entrando nos detalhes mais sórdidos. “Começámos de novo a voltar-nos para a negatividade, que era onde tudo tinha começado no «Slow, Deep And Hard». Quando chegou a altura de fazermos o «Life Is Killing Me», estávamos numa fase de desânimo, totalmente focados nos nossos vícios e… Foi um caos! Não havia uma visão. Não havia coesão. Basicamente, era irmos para a sala de ensaios e, dependendo do que saísse, tentámos juntar as peças no meio do vício, do caos e de centenas de pessoas que não deviam estar ali. Essa era a atmosfera.

Independentemente da turbulência em torno do processo de composição e gravação, a verdade é que o Sr. Steele conseguiu canalizar a sua entropia interior numa colecção de temas que, não sendo essenciais, não comprometem em absolutamente nada o legado de uma banda brilhante.