the stooges

AQUELA VERSÃO: THE STOOGES e a sua «I Wanna Be Your Dog»

THE STOOGES! A 5 de Agosto de 1969, num disco de estreia, nascia um pouco do punk.

A muito desvalorizada cena de Detroit no final dos anos 60. Aquela em que os MC5 eram a revolução, dentro da revolução. Também aquela que teve nos THE STOOGES o seu nome maior. Conhecidos por vezes como PSYCHEDELIC STOOGES, ou IGGY AND THE STOOGES, formaram-se em 1967 em Ann Arbor, localidade do Michigan, estado norte-americano onde se situa Detroit. Iggy Pop, na voz, o guitarista Ron Asheton, o baterista Scott Asheton e o baixista Dave Alexander.

Vamos esquecer toda a história do grupo e a presença de Iggy. Basta tudo a apenas um único dia e tudo chega para figurarem na história do rock. Claro que fizeram mais que isso, mas o dia 5 de Agosto de 1969 marca o lançamento do álbum homónimo «The Stooges». Oito temas, mais tarde maximizados nas habituais reedições comemorativas. Uma edição de 2010, leva o alinhamento aos dezassete temas. Isto incluiria versões onde John Cale está mais presente, ele que colocou teclados em alguns temas do disco.

A meio do lado A encontramos «I Wanna Be Your Dog». Naquela capa evocatória de uns ROLLING STONES em início de carreira, surge aquele tema, com umas linhas vocais algures entre Mick Jagger e Jim Morrison, perdidos no nevoeiro psicadélico das guitarras. Não é uma «The End», porque a letra pretende iniciar algo, uma eventual relação masoquista, pode dizer-se.

Ao vivo, o tema transmutava-se, graças ao desempenho do “Iguana”. Por muitos anos, o será um hino do grupo e, também, da carreira a solo de Iggy. Fosse em 1979, na TV britânica, já na ressaca do punk; fosse há uma década atrás, de forma mais institucional, ou na cerimónia do Rock & Roll Hall Of Fame. A evolução da composição é enorme, principalmente na forma como se torna elemento de boutique para turista observar.

Prova disso, a sua integração na banda-sonora do filme ‘Cruella’, a par de outros êxitos do punk. A raiva e o espírito contracorrente que a percorrem, fizeram da música a favorita de muitos. Então se tocada ao lado de Iggy, é um “must” para a banda que o conseguir, como aconteceu com os SONIC YOUTH, em 1987. Claro que a banda, só por si, dava bem conta do recado, numa interpretação em que são adicionados toques de PLASMATICS ao original. Também não é à toa que Sid Vicious escolhe o tema para o seu «Sid Sings» de 1979, numa interpretação mais tarde recriada por Gary Oldman para a banda-sonora de ‘Sid & Nancy’.

Versão mais contida, mas não por isso menos hipnótica, é a de Joan Jett, no seu disco de 1988, «Up Your Alley», provavelmente o melhor que gravou a solo. Em «Undisputed Attitude», a testosterona dos SLAYER impede-os de assumirem a versão masoquista, e por isso transformam o tema em «I’m Gonna Be Your God». Subtilezas dos reis do thrash, que substituem “Now we’re gonna be face-to-face/And I’ll lay right down in my favorite place”, por “And now it’s time to bury my face/Between your legs with my tongue in that special place”.

Já os PERE UBU optam pela abordagem mais noisy e experimentalista. Mesmo ao vivo, o tema recebe normalmente versões que nunca chegam a disco, como no caso dos GUNS N’ ROSES que, em «The Spaghetti Incident?», escolhem «Raw Power» mas que, ao vivo, ocasionalmente revisitam «I Wanna Be Your Dog». Nos anos 80, Bowie fazia uma versão naturalmente mais adocicada; ele que, nos 70s, teve a sua ligação a Iggy Pop, com quem colaborou.

Menos interessante e sem chama, temas a revisitação dos RED HOT CHILI PEPPERS. Mais sentida, pela relação com os MC5, é a de Patti Smith. Provavelmente menos consensual, até pelo gap geracional que causa a muitos, a versão dos MANESKIN, que regularmente é interpretada ao vivo. Umas versões são melhores, outras são piores. No entanto, nenhuma delas pode esconder que a 5 de Agosto, num disco de estreia, nascia um pouco do punk. Os THE STOOGES eram os culpados.