Boas notícias! O Porto reconheceu oficialmente o valor cultural e simbólico do STOP, um edifício que se tornou dínamo da música independente na Invicta.
O Centro Comercial Stop, localizado no centro do Porto, foi oficialmente classificado como monumento de interesse municipal, reconhecendo-se assim o seu valor arquitectónico, histórico e sobretudo cultural, enquanto polo criativo incontornável da cidade. A decisão foi formalizada esta quarta-feira, 30 de Julho, em edital publicado em Diário da República, e estabelece ainda uma zona de protecção de 50 metros em redor do edifício.
A classificação agora atribuída sela um processo que vinha a ser discutido desde Novembro de 2023 eaprovado por unanimidade pelo executivo municipal em Fevereiro deste ano. No edital, a Câmara do Porto afirma que o Stop representa “um valor cultural de significado relevante”, reconhecendo o espaço como “um símbolo inegável do cenário musical portuense” e “um dos exemplos mais particulares da produção e dinâmica musical na Europa”.
A decisão tem por base um despacho do presidente da autarquia, Rui Moreira, datado de Abril deste ano, que aponta como objecto de classificação o “imóvel delimitado em planta na sua correspondência volumétrica de estética moderna, o volume da antiga Estação de Serviço Austin, 1949-1955”. O edifício, inicialmente concebido como estação de serviço, foi adaptado nas décadas seguintes até se transformar, de forma orgânica, num centro comercial e, mais tarde, num autêntico ecossistema cultural.
No texto publicado em Diário da República, sublinha-se o carácter único desta evolução, referindo-se que o Stop é “produto de um conjunto de fatores díspares, materiais e imateriais”, destacando-se “a capacidade resiliente de uma arquitectura cuja essência formal moderna se metamorfoseia […] em nicho cultural, um processo e projeto civilizacional que ainda se constrói”. A arquitectura moderna do edifício, baseada no conceito de “planta livre”, foi, aliás, determinante para o modo como o espaço foi sendo apropriado, primeiro por pequenas lojas, depois por centenas de músicos que ali encontraram estúdios de ensaio e gravação.
Essa “imaterialidade que se enluvou na materialidade do centro comercial” foi também um dos factores determinantes na decisão de reconhecimento patrimonial. A classificação surge agora como um marco importante na proteção e valorização de um espaço que tem vindo a afirmar-se como um polo de criação artística e de resistência cultural, sobretudo depois da crise de 2013, quando 105 das 126 lojas do centro comercial foram seladas pela Polícia Municipal.
O episódio, que deixou cerca de 500 artistas e comerciantes sem espaço de trabalho, motivou uma forte onda de contestação e mobilização por parte da comunidade artística, que culminaria com a reabertura do Stop a 4 de Agosto desse mesmo ano — embora com vigilância permanente dos bombeiros, que só cessou em Julho de 2024, após a confirmação das condições de segurança. Durante esse período de transição, a Câmara do Porto apresentou a antiga Escola Pires de Lima como solução alternativa para acolher os músicos afectados.
No início de 2025, foi anunciado que a empreitada para reabilitação da escola com esse fim deverá avançar ainda durante o segundo semestre do ano. Apesar destas tentativas de descentralização, o Stop continuou a afirmar-se como o principal símbolo da música independente no Porto, funcionando como espaço de ensaio, estúdio de gravação, oficina criativa e plataforma de encontro intergeracional entre músicos, produtores e outras figuras ligadas à cultura alternativa.
O documento oficial agora publicado reconhece também a visibilidade pública e mediática do edifício, que tem sido objeto de estudo e destaque em produções académicas, editoriais e jornalísticas, nacionais e internacionais. Para a Câmara do Porto, a classificação “representa uma mais-valia enquanto testemunho temporal, material e imaterial, de anteriores processos edificatórios e socioculturais que participaram na memória coletiva da cidade”.
O Stop, muitas vezes retratado como um “laboratório musical urbano”, sobreviveu à erosão do tempo e ao desinvestimento institucional graças a uma comunidade que, apesar das dificuldades, soube como reinventar-se e reclamar o seu espaço na cidade. Com a classificação agora oficializada, garante-se a preservação de um património que é, mais do que nunca, um espelho da vitalidade cultural portuense — e uma casa para a música feita à margem dos grandes circuitos comerciais.















