Atempado e relevante ou ligeiramente de mau gosto? Depois do enorme sucesso atingido com «The Great War», de 2019, os SABATON regressaram recentemente aos lançamentos de originais com a edição de «The War To End All Wars», um álbum em que enfiam os ouvintes numa máquina do tempo até ao início da I Guerra Mundial e a um dos períodos mais negros da história universal. Posto isto, já se previa que o 10.º álbum de estúdio dos músicos suecos não seria propriamente um estudo de pacifismo, mas a força do seu power metal bélico atinge de uma forma bem diferente quando há uma guerra real a acontecer no mundo. Não que o disco – com toda a ironia que o título derivado de H.G. Wells implica – seja a favor da guerra ou do hastear de bandeiras, afirmando-se, isso sim, como a habitual mistura de lições de história e contos de heroísmo envoltos em grandes riffs e coros bombásticos. Em antecipação ao regresso dos músicos a Portugal no próximo Verão, e antes ainda da Rússica invadir a Ucrânia, estivemos à conversa com o vocalista Joakim Brodén.
Vão ser, pela primeira vez em Portugal, cabeças-de-cartaz num grande festival – neste caso, o VOA – Heavy Rock Festival. O que é que os fãs podem esperar desse concerto?
Heavy metal, espero eu! [risos] Na verdade, estou muito satisfeito porque vai ser a primeira vez que vamos poder levar a Portugal toda a produção de um espectáculo dos Sabaton, o que vai ser uma boa novidade para os fãs. Principalmente em locais onde nunca o fizémos, porque tocamos em sítios mais pequenos, não podemos trazer muita coisa, nem queremos pegar fogo à sala com toda a pirotecnia que usamos. Não é possível levar a produção de uma arena para 15,000 pessoas para uma sala com capacidade para 1,500. Portanto, posso garantir que, desta vez, que vamos trazer MUITO mais coisas do que alguma vez levámos a Portugal antes.
Estão a preparar um palco especial para a próxima digressão?
Sim, vamos expandir um pouco mais aquilo que já temos, visto ainda estarmos na mesma era, por assim dizer. Ainda estamos a cantar sobre a I Guerra Mundial e, por um lado, não queremos ir para palco com as mesmas coisas da digressão anterior, mas por outro também não queremos retirar tudo, porque é fácil esquecer que nunca chegámos a terminar a tour do «The Great War». Aliás, essa acabou por ser uma das razões porque decidimos fazer outro disco sobre a sobre o mesmo período. Houve muitos sítios, como o Japão, a Austrália ou a América do Sul, onde nunca chegámos a tocar com esse disco… Como sabem, também não fomos a Portugal com o «The Great War». Se tivéssemos feito um disco com um tópico completamente diferente, se calhar essas músicas já não seriam relevantes, mas agora dá para tocarmos muitas músicas sobre essa era. Temos muito por onde escolher.
Quando a pandemia atingiu a Europa estavam em digressão – acho que estavam na Rússia, se não me engano. Como foi ver os países a fecharem estando vocês longe de casa?
Foi muito estranho! Sobretudo porque, no início, a Rússia, não tinha muitos casos confirmados, ao contrário do resto da Europa onde também havia muita gente a viajar entre países. Nós começamos a digressão em Yuzhno-Sakhalinsk, que fica perto do Japão. Depois fomos para oeste devagarinho e chegámos a Moscovo, que acabou por fechar passado dois dias. Tocamos em São Petersburgo e, dois dias depois, a cidade fechou. Parecia que o vírus nos andava a seguir. Só parámos em Yekaterinburg porque havia uma ordem a nível nacional para os concertos serem adiados ou cancelados. Não sabíamos bem ao que íamos quando chegámos a casa, porque na altura ainda não se sabia muito sobre o vírus. Falávamos com as nossas famílias e diziam-nos que as coisas estavam a acontecer. [risos] Perguntavam-nos como estavam a correr as coisas connosco e nós dizíamos que continuávamos a tocar heavy metal e estava tudo normal. [risos] Chegámos a Yekaterinburg na véspera do concerto e fui para a cama convencido que, no dia seguinte, íamos tocar. No entanto, à hora de almoço, chegou a notícia de que havia novas restrições e que não tínhamos autorização para actuar. Sem podermos tocar, o que fizemos? Fomos a um restaurante sérvio e comemos! Acabou por ser a nossa última refeição juntos antes de viajarmos para casa… E só vimos algumas dessas pessoas passado um ano e meio.
E quando perceberam que a pandemia tinha vindo para ficar e resolveram começar a compor música nova?
A primeira coisa que fizemos – eu, o Chris [Rorland, guitarrista] e o nosso técnico de bateria –, foi ficarmos no nosso armazém na Suécia durante duas semanas para termos a certeza que não tínhamos apanhado o vírus. Queríamos garantir que não levávamos nada para junto das nossas famílias e foi aí que começámos o processo de composição. Eu e o Chris estávamos aborrecidos e começámos a escrever, mesmo ainda sem sabermos para o que era. Depois de chegarmos a casa, começámos a tratar de outras coisas e interrompemos o processo por uns tempos. Eventualmente, falei com o Par [Sundstrom, baixista] para perceber o que íamos fazer, porque ele é quem trata do agenciamento dos concertos e dos negócios da banda e eu, tal como nos últimos quinze anos, tenho sido a pessoa responsável pela composição. Disse-lhe que ia começar a pensar na música para um novo disco e sobre o que ia ser. Como ainda havia muitas histórias para contar, como a «Christmas Truce» ou a «Hellfighters», que nunca chegámos a abordar no «The Great War», foi esse o caminho que seguimos.
E ainda te lembras da primeira música que surgiu no vosso armazém e que gravaram depois para o «The War To End All Wars»?
Sim, foi a «Christmas Truce». Já tinha começado a escrever essa canção antes do lançamento do «The Great War». [risos] Essa foi a primeira canção em que decidi começar a trabalhar porque tinha tempo para isso.
Quando estás a escrever as letras, quanto trabalho colocas na investigação da história que vais abordar?
Em boa verdade, passo muito tempo a investigar, mas deixamos essa parte para mais tarde, porque quando encontramos uma história de que gostamos, colocamos de lado num monte ideias. Se começamos a investigar muito antecipadamente, quando chega a altura de escolher as histórias, já nos parecem muito antigas e tendem a cair no esquecimento. Portanto, é complicado. Tenho de pôr de lado cada história que vejo e me deixa entusiasmado. É patético! Muitas vezes pode ser muito doloroso, porque podemos ler muitos livros e ver documentários mas, quando chega a altura de escrever, às vezes não sabemos muito bem por onde começar ou que ângulo podemos abordar. Outras vezes também temos sorte, porque basta um curto documentário online e metade de um livro para ficarmos uma ideia clara do que queremos escrever. Muitas vezes não tem propriamente a ver com os factos, mas com a história que é contada.
Já tiveram muitos fãs que acabaram por fazer investigação por causa da vossa música?
Sim, especialmente os mais novos. Os mais velhos já gostam muito de história ou então gostam apenas da música que fazemos e a história não é muito importante para eles. Na minha opinião, perdem um pouco por não quererem saber da história, mas é apenas a minha opinião. [risos] Se preferem beber cerveja e cantar as nossas canções, que seja! No entanto, os fãs mais novos mostram muito interesse e alguns acabam mesmo por tirar cursos e até se tornam professores de história. No entanto, importa referir que essa nunca foi a nossa intenção. Não somos professores, mas é bom sabermos que inspiramos as pessoas a aprenderem um pouco mais sobre a história.