MARILYN MANSON

RETROVISOR: MARILYN MANSON queima bíblia em directo na televisão [Jon Stewart Show, 22.06.1995]

O controverso ‘shock rocker’ norte-americano MARILYN MANSON celebra hoje 55 anos e, para marcar o dia, decidimos recordar um dos seus momentos mais infames.

A 19 de Julho de 1994, o álbum de estreia de MARILYN MANSON foi lançado a um público desprevenido. Ainda pouco conhecidos fora do seu território no sul da Flórida, onde as suas apresentações ao vivo escandalosamente teatrais já lhes rendiam um culto considerável de seguidores, os músicos originalmente conhecidos como MARILYN MANSON & THE SPOOKY KIDS estavam prontos para conquistar o mundo com a sua visão pessoal do metal industrial.

Pese essa vontade, o seu primeiro ataque à sociedade teve um parto difícil. Assinado um contrato com o selo Nothing, de Trent Reznor, MARILYN MANSON e a sua banda começaram então a gravar o disco — provisoriamente intitulado «The Manson Family Album» — no Verão e no Outono de 1993 com o produtor Roli Mosimann, mas rapidamente perceberam que o resultado final não fazia jus ao que tinham idealizado.

Quando terminámos finalmente, o Roli fez o oposto do que eu esperava“, lembrou MARILYN MANSON na biografia ‘The Long Hard Road Out Of Hell’. “Pensei que ele ia trazer algum tipo de elemento um pouco mais obscuro, mas o que fez foi polir todas as arestas e transformar-nos numa banda de rock, uma banda pop, que era algo que não me interessava pouco na época. Achei que o disco que fizemos com ele era pouco entusiasmante e sem vida. O Trent pensou a mesma coisa, e ofereceu-se para nos a consertar o que tinha sido danificado“.

Com Reznor no comando, e a dupla Sean Beavan/Alan Moulder a dar uma ajuda nas laterais, canções como «Cake And Sodomy», «Lunch Box» e «Wrapped In Plastic» ganharam finalmente uma vida pulsante, tresandando a uma mesquinhez carnavalesca sem precedente e suando humor irreverente, telegrafado em parte por samples de diálogo de ‘Desperate Living’, o obscuro clássico trash de John Waters, e do programa de ‘Lidsville’, um popular programa de TV infantil norte-americano dos anos 70, a que nunca ninguém ligou na Europa.

Seriam pérolas a porcos, percebeu-se depois, com os críticos a focarem-se mais na bizarria das letras e do comportamento dos músicos do que na estranheza estética que os afirmava como uma proposta tão refrescante à data de edição do disco. Com a Interscope, que controlava a Nothing, preocupada com a promoção do agora renomeado «Portrait Of An American Family», os músicos trataram de espalhar a palavra através dos seus incendiários concertos, das entrevistas carregadas de tiradas incendiárias por parte do Sr. MARILYN MANSON e, claro, de algumas aparições na televisão.

Foi assim que, no dia 22 de Junho de 1995, pouco mais de um ano após a edição do álbum, MARILYN MANSON e companhia “aterraram” no The Jon Stewart Show e interpretaram ao vivo um explosivo medley de «Lunchbox» e «Dope Hat». No entanto, uma vez mais, não foi a música que falou mais alto, totalmente ofuscada pela blasfémia em palco, que provocou uma tempestade de críticas na opinião pública. Infelizmente, a prestação infame teve de ser cortada decido a constrangimentos de horário, mas o futuro Antichrist Superstar ainda teve tempo para incendiar uma bíblia, desencadeando uma proverbial controvérsia nacional.

Uns anos depois, o próprio Stewart acabaria por oferecer um resumo adequado da insanidade que se viveu naquele set nas suas memórias, ‘Angry Optimist: The Life And Times Of Jon Stewart’: “Na noite seguinte, o Marilyn Manson actuou no programa e acabou por incendiar o palco. E eu pensei que alguém ia morrer naquela semana.” Fruto ou não de todo o falatório, foi apenas em 1995 que o «Portrait Of An American Family» entrou pela primeira vez na tabela de vendas da Billboard.