«Wake Up The Wicked», o novo álbum dos germânicos POWERWOLF, chegou aos escaparates e às plataformas de streaming hoje, dia 26 de Julho. A LOUD! falou com o teclista Falk Maria Schlegel para saber mais pormenores sobre o muito aguardado sucessor de «Call Of The Wild».
No passado mês de Maio, os power metallers germânicos POWERWOLF confirmaram finalmente que o seu novo LP de estúdio, intitulado «Wake Up The Wicked» ia ser editado no Verão. O sucessor de «Call Of The Wild», de 2021, e da compilação de 2023 «Interludium», chegou por fim às lojas e plataformas de streaming hoje, dia 26 de Julho, com selo Napalm Records. Para gáudio dos fãs, algumas das versões físicas álbum contam com o lançamento adicional «Manhattan Metal Mass – Live In New York City». O disco inclui a gravação daquele que foi o primeiro concerto dos POWERWOLF nos Estados Unidos, que decorreu no Palladium Times Square, em Nova Iorque, a 23 de Fevereiro de 2023.
Segundo informações disponibilizadas pela editora da banda, após a edição do álbum, os POWERWOLF vão fazer-se à estrada, com extensas digressões pela Europa e pela América do Norte. Os músicos dão início a esse périplo no The Hollywood Palladium, em Los Angeles, nos Estados Unidos, no próximo dia 29 de Agosto e terminam a etapa no Place Bell, em Laval, no Canadá, a 15 de Setembro. O apoio nessas datas será assegurado pelos Unleash The Archers.
A seguir, os POWERWOLF regressam à Europa e, a partir de 4 de Outubro, fazem uma série de concertos na companhia dos Hammerfall e dos Wind Rose. A lista completa de todas as datas já agendadas pode ser consultada no site oficial da banda.
Vamos directos ao assunto: «Wake Up The Wicked», o vosso novo álbum. Quando começaram a trabalhar nas novas músicas?
Acho que foi depois da digressão na América do Norte no ano passado e trabalhámos um ano nas novas canções. Depois entrámos em estúdio, por isso também se pode acrescentar o tempo que estivemos por lá a gravar. Demorámos bastante tempo, estávamos muito concentrados em escrever novas canções e sim, estamos muito contentes com o resultado. Normalmente não conseguimos escrever novas canções quando estamos em tour, por isso também precisamos de algum tempo livre para nos concentrarmos em novas canções e na composição.
Estive a ler um pouco sobre a letra do primeiro single, «1589», e é uma história sinistra. Podes contar-nos um pouco mais sobre ela e como tiveram a ideia de escrever essa música?
«1589» foi o ano em que o Peter Stump, actor principal da história, foi condenado à morte. Esse foi um dos mais famosos julgamentos que tivemos na Alemanha e penso que, na altura, todos os julgamentos se baseavam em provas circunstanciais. Ou seja, se havia alguma prova, não sabemos. Nessa altura, o Peter Stump foi considerado culpado como tendo matado várias crianças, mulheres e pessoas.
E sim, foi considerado um lobisomem. Um ser humano que se transformava num lobo quando vestia um cinto ou algo parecido com um cinto. Isso, para os representantes da igreja, era um sinal de que este tipo tinha sido enviado pelo demónio. É uma história horrível! Muito pormenorizada se formos mais fundo e encaixa perfeitamente no universo dos Powerwolf. Decidimos escrever uma canção sobre isso e, depois, decidimos também criar um pequeno filme, um grande vídeo-clip para a canção.
Ficámos muito fascinados com essa história. Mesmo a execução sangrenta do Peter Stump foi muito dura nessa altura. Os julgamentos de lobisomens na Alemanha, em Colónia, em Bedburg, que também visitei… Esteve a chover o dia inteiro e senti-me muito assustado quando lá estive, como se estivesse no caminho do Peter. E, quando vi o vídeo, também consegui sentir o medo e tudo o mais… As pessoas estavam ali a culpar alguém. Ele era culpado? Será que não era culpado? Seria verdade? Seria superstição? Apenas uma crença? Será que é o quê? Ninguém sabe e isso é muito interessante para os Powerwolf.
Quando falamos desses julgamentos, pensamos sempre em Inglaterra… Nunca pensei que a Alemanha tivesse tantas dessas histórias.
Sim, e na Europa de Leste também há muitas. Eu também tinha essa ideia, mas depois encontrámos essa história. Por exemplo, nesta zona da Alemanha houve muitos julgamentos, o do Peter Stump é apenas o mais conhecido. Até há uma zona de caminhadas onde se pode percorrer o caminho dele e também ficámos um pouco surpreendidos por encontrarmos mais pistas na literatura histórica. É perfeito para nós. Foi como escavar nos livros para encontrarmos algo e, depois, encontrámos esta história.
Esperamos sempre que a mitologia esteja mais presente na Europa de Leste ou no Reino Unido, e foi por isso que fizemos o vídeo-clip lá. Queremos contar histórias emocionantes nas nossas canções. É verdade que não somos agentes históricos ou algo do género, mas ficamos sempre fascinados por lendas como a do Peter Stump. Superstição, raiva e medo. Isso é perfeito no nosso mundo.
Neste disco falam também de personagens que tiveram impacto real, como a Joana d’Arc… Essa é uma história muito conhecida, mas também encaixa como uma luva no universo dos POWERWOLF.
Sim, essa é uma expressão que assenta que nem uma luva. [risos] A história da Joana d’Arc é famosa em todo o mundo. Muitas pessoas estão fascinadas com a Joana d’Arc e nós já tínhamos a letra em mente há anos, mas não tínhamos uma canção. [risos] Por isso, trabalhámos na canção, mas depois de lermos a história dela. Foi a primeira mulher que também esteve na guerra, e isso não era comum naquela altura.
O Rei estava contra e ela também foi queimada numa fogueira. No final, foi canonizada pela Igreja e as pessoas ficaram fascinadas com a visão que teve numa altura em que tinha 13 anos ou algo do género. Como podem ver, li um pouco sobre a Joana d’Arc e agora chegou a altura de escrevermos uma canção sobre isso. E, como disseste, encaixa perfeitamente no universo dos Powerwolf. Temos estas mitologias, temos estas lendas e temos a religião. É isso que é perfeito para os Powerwolf.
Outra das canções que se destaca é a «We Don’t Wanna Be No Saints», especialmente pelo coro de crianças que lhe dá um toque muito especial. Como é que essa canção se desenvolveu?
Tínhamos em mente o título «We Don’t Wanna Be No Saints». O que podemos pôr em contraste? Temos um coro de crianças como símbolo da inocência e combinamo-lo com a nossa música. Depois criámos o título cativante e acho que ninguém quer ser realmente um santo. Todos gostamos de pecar aqui e ali… [risos] Especialmente num espectáculo dos Powerwolf.
Foi por isso que criámos esta combinação entre os miúdos inocentes e a nossa música, e resultou mesmo muito bem. Quer dizer, nós tínhamos isso em mente e o Joost [van den Broek], o produtor, disse-nos que tínhamos de experimentar, por isso gravámos um coro de crianças para ver se se adaptava à canção. Não sabiamos se ia funcionar, mas encaixou tudo na perfeição. Adoro essa canção e tenho a certeza de que a vamos tocar na próxima digressão.
Claro que um coro de crianças será sempre associado à igreja e é algo que se enquadra no universo Powerwolf…
Tenho uma história pessoal sobre isso. Cresci numa zona bastante católica da Alemanha e ia à igreja aos Domingos. Interessava-me por fazer coisas, rezar, confessar-me e tudo o resto. Tinha toda a educação e depois o padre perguntou-me se queria fazer parte do coro e eu disse que não, que detestava. Agora, é uma coisa que adoro. Naquela altura, ia à igreja e gostava de ler a Bíblia e coisas do género, mas nunca estive num coro, num coro da igreja ou num coro infantil. É um bocadinho estranho, eu sei, mas lembro-me muito bem dessa situação.
Foi nessas idas à igreja que começaste a desenvolver a tua paixão pelos teclados e piano.
Absolutamente. Na igreja, o órgão era sempre muito assustador. Nos Powerwolf, é o oposto. Quando nós entramos no palco, temos a nossa missa de metal. É pura felicidade, é adrenalina, é bom humor. A minha experiência na igreja é sempre um pouco assustadora, temos de estar calmos e não falar com o vizinho e coisas do género. Por outro lado, quando comecei a ouvir heavy metal, foi esse o instrumento que quis aprender a tocar. Sem baixo, sem guitarra, sem bateria. Foi um pouco estranho mas, entretanto, chamo-lhe destino porque encaixa perfeitamente no metal que os Powerwolf tocam.
Nunca pensei em aprender outro instrumento, como a guitarra, que é bastante óbvia no heavy metal. E demorou muito tempo a encontrar uma banda, porque antigamente não era muito popular usar teclados ou até mesmo um órgão de igreja neste género de música. Mas sim, continuei a trabalhar nisso e, agora, está tudo bem. Já estou a fazer isto há vinte anos.
Os Powerwolf são uma das maiores bandas da Europa e do mundo, por isso acho que isto mostra que, se a música for boa, tudo pode servir.
Sem dúvida. Felizmente as pessoas gostam da nossa música, o que é sempre bom para uma banda. Não vou negar que damos bastante importância ao elemento visual, ao conceito do espetáculo, para compor tudo. Mas a primeira coisa é a música. Se escrevermos música de merda, podemos usar pirotecnia, luzes e tudo o mais, mas ninguém se interessa por isso. Se a música for uma merda, tu és uma merda.
Sim, podes pintar a merda da forma que quiseres, mas continua a ser merda.
Exactamente. Era essa a expressão que estava à procura. [risos]
Outro tema que se destaca é «Vargamor», que é uma espécie de balada, mas segue o caminho clássico dos POWEROLF. Como surgiu a ideia para essa música?
De acordo com as lendas, Vargamor significa literalmente “mãe lobo” em sueco. Eram mulheres idosas que viviam na floresta e que estavam com lobos e tinham forças sobrenaturais e também a capacidade de transformar um homem num lobisomem. E nós achámos esse assunto muito interessante, mas nas escrituras mais antigas não se encontrem muitos indícios disso.
Às tantas encontrámos um romance de Benjamin Thorpe, de 1851, chamado ‘Lasse And the Vargamor’, e nesse livro pode ler-se que, na mitologia nórdica, uma mulher com forças sobrenaturais transformou um homem num lobisomem. Nós adoramos mitologia! Somos nerds. [risos] Procuramos essa merda todos os dias e, quando encontrámos algo sobre Vargamor, decidimos que tínhamos de fazer uma canção deste tipo.
Com mais um novo disco dos POWERWOLF cheio de boas canções, como vão escolher o alinhamento para a próxima digressão? Há, obviamente, as músicas que toda a gente quer ouvir…
Absolutamente!
No entanto, sendo que têm um álbum novo para tocar, aposto que têm mais vontade de tocar temas novos que antigos.
Provavelmente vamos tocar uns cinco temas novos. É uma surpresa, mas pode ser que depois tenhamos de cortar outras canções e isso é muito difícil. Eu sou o responsável por escolher o alinhamento. Preparo a setlist, envio-a aos restantes elementos da banda e é sempre uma grande discussão… [risos] É um luxo ter este problema e não é bom ter este problema, mas é muito difícil sabermos bem que temas temos de tocar e que canções queremos tocar.
No meu entender, tendo um álbum novo, devemos tocar coisas novas. É claro que temos de tocar a «We Drink Your Blood» e a «Sanctified With Dynamite», esses são os nossos êxitos maiores. É a mesma coisa que eu ver, por exemplo, uma setlist dos Iron Maiden e não tocarem a «The Trooper»… É uma porcaria. [risos] É uma música obrigatória. Portanto, é muito difícil e eu tento sempre convencer os membros da banda a tocarem mais temas.
Eu tento sempre acrescentar mais uma música, mas não podemos tocar três horas… É demasiado tempo para toda a gente. Mas sim, é muito difícil e está a ficar ainda mais difícil com o passar dos dias. E é ainda mais difícil, por exemplo, quando estamos a tocar em festivais e só temos uma hora em palco. Essa é uma situação muito complicada. Nos nossos próprios concertos podemos sempre dizer “vamos, ainda temos algum tempo livre” e, se quisermos, acrescentamos mais duas canções. Numa situação de festival, isso é impossível. Dito isto, para ser muito sincero, estou feliz por estar nesta situação [risos].
É um bom problema para se ter, sem dúvida! Em Outubro, vão fazer alguns grandes espectáculos na Europa com os Hammerfall e os Wind Rose. Já estão a trabalhar no palcoe na produção?
Acho que esta nossa nova produção é mesmo a maior que tivemos até agora. Quer dizer, os locais estão a ficar cada vez maiores… Estamos a tocar em sítios maiores e agora fazemos espectáculos em arena por toda a Europa. Em Paris, por exemplo, acho que já está tudo esgotado. Em Viena já esgotou. Os bilhetes estão a vender muito rapidamente, por isso acho que vai ser mesmo em grande.
Neste momento estamos encarregues de desenvolver o palco. Não estamos a construí-lo, mas somos os responsáveis poe todo o conceito, pelo aspecto do que vamos apresentar. Já estamos a planear algumas cenas específicas, como tudo aquilo que podemos fazer com os elementos típicos dos Powerwolf, com o fogo e tudo o mais, com enormes ecrãs LED e assim. Queremos levar o nosso público numa viagem pelo mundo dos Powerwolf. E vamos ser acompanhados por grandes bandas, Hammerfall e Wind Rose.
Acho que vão ser noites especiais para todos. E estou realmente ansioso para tocar as novas músicas ao vivo, porque isso é sempre… Confesso que fico sempre super nervoso quando tocamos músicas novas ao vivo pela primeira vez. [risos] Quer dizer, já conhecemos as músicas há muito tempo, andamos a ensaiá-las e adoramos tudo. No entanto, depois vamos para o palco, tocamos a «1589» pela primeira vez e… É impossível não pensar em como as coisas vão funcionar.
Como vão ser as reacções?!?Estou mesmo ansioso por tocar essa canção. Começamos a sério no final de Agosto, em Los Angeles. Depois, como disseste, voltamos então à Europa e o ponto de partida vai ser em Hamburgo. Também voltaremos ao sul da Europa. Eu prometo. Voltaremos a Espanha e a Portugal. Quer dizer, a última vez que tocámos em Portugal foi num festival, mas só demos dois concertos aí. Já deviam ter sido mais.