Apesar de muito lentamente face a outras situações, e com algumas reacções até contidas por parte de elementos que, no passado, não receavam expor as suas ideias, o mundo do metal começou a manifestar-se acerca do actual conflicto na Ucrânia. As primeiras declarações partiram, naturalmente, de músicos ucranianos, desde logo com os muitíssimo populares JINJER, que ainda recentemente publicaram um vídeo acerca da situação. Com parte da banda ainda na Ucrânia, chegam agora notícias do cancelamento de várias datas que o grupo se propunha fazer neste Verão. Depois surgiu o caso dos DRUDKH, que se viram obrigados a antecipar o lançamento de um primeiro tema de avanço para o seu novo álbum, como forma de assinalar o momento e num gesto que, nas palavras do grupo, “representa a esperança, e que possa reforçar aqueles que dela necessitam”. Ainda no lado ucraniano, e mais recentemente, os 1914 viram a digressão All Quiet On The Western Front, que ia passar por Portugal, ser cancelada. Afinal, o grupo ao residir na Ucrânia, a semelhança dos outros, tem o seu destino completamente incerto. Outro caso é o dos STONED JESUS, que têm datas agendadas para Portugal. O trio de stoner tem estado bastante activo nas redes sociais, fornecendo mesmo mapas e outras informações, para além de apelar aos donativos. “Cerca de 80 civis foram mortos hoje em ataques aéreos em Kharkiv”, é o tipo de informação que se pode ler, que neste caso é concluída com a frase “o nosso baterista vive lá, ele é voluntário nas ruas e apenas podemos esperar que esteja vivo”.
Quase desde o início do conflito, algumas entidades começaram a colorir os seus logótipos com as cores amarela e azul, representativas da bandeira da Ucrânia. Logo à cabeça, a organização do festival WACKEN OPEN AIR tornou público uma foto diz tudo e, na passada quinta-feira, a conta de Facebook do evento deu destaque a MOTANKA, banda ucraniana que participou na edição de 2018. Por cá, a Prime Artists, que é responsável pelo VOA – HEAVY ROCK FEST, alterou as cores do seu logótipo, à semelhança de bandas como os MOONSPELL e WHALES DON’T FLY. O artista Christophe Szpajdel tem desenvolvido trabalhos para ajudar as vítimas da guerra e Geezer Butler, dos BLACK SABBATH, cedo também se mostrou solidário com a causa. Também os ULVER, através da sua House of Mythology, prestaram a sua homenagem. Mais discretos terão sido os suecos SABATON, mas um dos seus temas, intitulado «The Last Stand», serviu de banda-sonora a um vídeo que compila imagens da guerra. Corrosivamente irónicos, têm sido os LAIBACH, com diversas tomadas de posição sobre o tema, cancelando os concertos de Outono na Rússia e, claro, publicando, logo nos primeiros momentos, um vídeo muito interessante e significativo.
Noutro plano estão os polacos DECAPITATED, cujo guitarrista, Waclaw “Vogg” Kieltyka, actualmente a acumular as mesmas funções também nos MACHINE HEAD, tem estado ocupado a distribuir mantimentos na fronteira da Polónia com a Ucrânia, por onde têm passado mais refugiados. A banda já organizou mesmo um concerto beneficente, a ter lugar a 13 de Março, com Pudelsi, Chupacabras e Ornette. No campo das ajudas, importa salientar também os alemães EQUILIBRIUM, que estão a usar o valor das suas vendas de merch para ajudar os refugiados. Também Adam ‘Nergal’ Darski tem estado, como é seu apanágio habitual, bastante activo na sua conta de Instagram, tendo criado, com os seus BEHEMOTH, uma campanha cujos lucros revertem para as vítimas da guerra. Finalmente, no campo das tours, são já muitas as bandas que estão a cancelar datas anteriormente anunciadas na Rússia, Bielorússia e Ucrânia. Não só como forma de solidariedade com o povo ucraniano, bem como de contestação à guerra, mas também porque estão impossibilitadas pelos governos dos seus países de fazerem trocas comerciais com os agentes russos. Nesta situação estão, entre muitos outros, os ALCEST, CRADLE OF FILTH, IRON MAIDEN e SLIPKNOT, com a lista de grupos a crescer todos os dias desde que as sanções foram implementadas. Numa guerra em que o exército ucraniano criou um tema e respectivo vídeo-clip, certamente que o mundo do metal ainda terá muito mais a dizer.