MISSA ORTODOXA: Solar Eagle – «Solar Eagle» (1988)

SOLAR EAGLE
«Solar Eagle»
[Edição de autor, 1988]

A primeira vez que ouvi os Solar Eagle foi com «See», o tema que abre este EP, que me chegou num daqueles CD-Rs que trocávamos, os poucos fiéis ao verdadeiro som metálico, na primeira década do novo milénio. A voz era tão escandalosa que, na primeira audição, até me ri. No entanto, dei por mim a voltar frequentemente a «See», e acabei por ir ouvir as restantes faixas deste mini-LP que é o único lançamento desta banda excepto por «Charter To Nowhere», a anterior demo do mesmo ano ou, mais provavelmente, o álbum em cassete do ano posterior, dependendo das fontes! Também vale muito a pena ouvi-lo. Depois de ter saído um CD pirata com ambas as obras, houve finalmente lugar a uma reedição oficial em 2014, em diversos formatos, por diversas editoras (Skol Records, Heavy Forces Records e No Remorse Records).

Este «Charter to Nowhere» podia ter ido a algum lado .

Estes canadianos, formados em 1987, tocavam uma espécie de speed power metal, com estruturas algo lunáticas e letras totalmente surrealistas e surpreendentes. «Tree Of Snakes», por exemplo, começa quase como uma ópera alucinada, e a má produção não impede a apreciação da qualidade da música, da inovação dos riffs, dos magníficos solos de guitarra. Há partes mais rápidas e partes mais lentas e épicas. Nas mais lentas, a voz de Smash demonstra as suas qualidades de cantor. Nas mais rápidas a sua abordagem histriónica, ainda por cima com a voz muitas vezes dobrada, cria uma atmosfera notavelmente diferente. 

A primeira foto de sempre da banda.

De facto, tudo aqui denota o amadorismo de uma edição em nome próprio nos anos 80, logo na capa, inacreditavelmente mal-feita, sobretudo quando vista de perto. A editora fictícia que aparece na capa traseira, Give your Head a Shake Records, não é mais que a própria banda. E escreve um membro anónimo na página do Facebook: “Fiquei muito feliz quando passou a época da lycra. Tínhamos tão pouco dinheiro que eu ia às fábricas de roupa recolher restos de tecido do lixo nas traseiras das lojas e depois fazia as roupas na máquina de costura da minha mãe. Felizmente, a imagem da altura era ter roupas rasgadas. Para nós, era apenas por eu coser tão mal!

Do outro lado do oceano era indissociável de muitas bandas: chamavam-lhe spandex.

Quanto ao futuro, há um par de anos falava-se de um novo álbum (veja-se a página do Facebook da banda) e no Bandcamp há um tema novo para ouvir. Veremos se algo se materializa algum dia. Quanto a este mini-LP, é uma impressionante demonstração de como nos anos 80 o metal era uma força vital, arrojada, aventureira, como testemunham as melodias encerradas nos corredores espirais das superfícies deste vinil. Uma pérola perdida a descobrir para todos aqueles que queiram vislumbrar o espírito dos velhos tempos que as mais recentes décadas deixaram para trás.

Canadianos formados em 1987 têm um estilo único de speed power metal
Já ouviram uma águia a solar? Bolas, que boa piada!