Três décadas depois, o longa-duração de estreia dos MAYHEM mantém todo o seu impacto inicial e continua a ser um dos melhores registos de black metal de todos os tempos.
Por esta altura toda a gente conhece a história: em 1993 Øystein Aarseth foi esfaqueado mortalmente por Varg Vikernes. Na mesma época foram queimadas igrejas na Noruega, alguns músicos foram presos, julgados e condenados por diversos crimes e, um ano depois, o lançamento póstumo de «De Mysteriis Dom Sathanas» transformou os MAYHEM nos porta-estandartes supremos do black metal.
Quando se fala do género, como era no início dos anos 90, poucos foram os que sobreviveram a todo o sensacionalismo e, ainda por cima, mantiveram uma carreira consistente – em estúdio e ao vivo. Mais de um quarto de século depois, e apesar das inúmeras mudanças de formação que sofreu ao longo dos anos, a banda oriunda de Oslo continua a canalizar um buraco negro de proporções dantescas.
Corria o gelado Inverno de 1984 quando o guitarrista/vocalista Euronymous (nascido Øystein Aarseth), o baixista Necrobutcher (Jørn Stubberud) e o baterista Manheim (Kjetil Manheim) formaram os MAYHEM em Oslo, na Noruega, inspirados por algumas das bandas mais negras que o metal tinha para oferecer na altura – Bathory, Venom, Celtic Frost e Slayer. O primeiro impacto com o underground deu-se dois anos depois, com a maqueta «Pure Fucking Armageddon», uma descarga de ruído necro que ainda hoje é vista como um dos clássicos da música extrema.
Na altura, a vaga original do black metal estava a perder terreno, com o imaginário obscuro, os picos, o corpse-paint e as correntes a serem substituídos pela imagem mais urbana do death metal e do grindcore, mas Euronymous e companhia mantiveram-se fiéis e puristas, gravando – já com o vocalista Maniac (Sven Erik Kristiansen) a bordo depois de um breve período com Messiah (Eirik Nordheim) no microfone – a sua estreia a sério.
«Deathcrush», auto-editado por Euronymous com selo Posercorpse Music, é mais um EP que um álbum, mas ninguém pode negar que os seus 17 minutos e meio são ainda mais agonizantes que a gravação anterior. Aquilo que parecia transformar-se num trunfo para a banda, acabou por dar início a um dos capítulos mais negros de uma carreira atribulada, mas marcante. E, verdade seja dita, da história do underground no seu todo.
Ainda após a primeira edição de 1.000 cópias – o disco seria mais tarde reeditado através da Deathlike Silence – Manheim e Maniac saem, sendo substituídos, respectivamente, por Hellhammer (Jan Axel Von Blomberg) e Dead (o sueco Per Yngve Ohlin). Esta formação gravaria apenas dois temas para uma compilação e «Live In Leipzig», o primeiro álbum ao vivo saído da segunda vaga do black metal.
Após a atribulada digressão que lhe seu origem, Dead suicida-se na casa que partilhava com alguns dos outros elementos e Necrobutcher decide abandonar. Como duo, Euronymous e Hellhammer recrutam Count Grishnackh (Varg Vikernes) para tocar baixo e o vocalista húngaro Attila Csihar para a gravação do longa-duração de estreia – que, por si próprio, marcaria o final de uma época para os MAYHEM e para o movimento black metal.
Para lá da má fama, a música sempre falou bem alto – ao ponto de terem influenciado diversas gerações de músicos apostados em tornar a música extrema ainda mais extrema e, eventualmente, atingido o patamar da instituição de um fenómeno que continua bem vivo. Aquilo que começou por ser uma reacção adolescente ao cristianismo no norte da Europa, espalhou-se a todo o continente e ao outro lado do Atlântico.
A passagem dos anos e a vulgarização da sonoridade não afectaram em nada a estranheza que sempre caracterizou os seus discos e as actuações, no entanto. Tantos anos e reviravoltas depois, os MAYHEM continuam a ser uma proposta única e sem igual.