Excluindo a actuação no Rock And Roll Hall Of Fame em 1993 e a reunião em 2005, os lendários CREAM deram o seu último concerto a 26 de Novembro 1968 no Royal Albert Hall frente a uma plateia de 10,000 fãs.
Até onde se poderá esticar um tema? Quantas músicas poderão caber nele? E quantos nomes lhe estarão associados? Uma boa malha pode sempre rejuvenescer nas mãos do músico adequado — essa será a resposta. Tome-se «Sunshine Of Your Love», um original dos CREAM. Um dos primeiros power trios, se não mesmo o primeiro que estabeleceu a fórmula, tinha Jack Bruce no baixo, Eric Clapton na guitarra e Ginger Baker na bateria. Qualquer um deles se tornaria numa lenda no seu campo. Adiante com a biografia, deixe-se a música tomar a palavra.
«Sunshine Of Your Love» é simples, catchy, mas não desprovida de complexidade. Algures aos três minutos deste vídeo captado durante a actuação de despedida dos CREAM no Royal Albert Hall, em Londres, lá está Clapton a fazer o bonito. Bruce assume a maioria das vozes, com Clapton centrado nos coros. Décadas mais tarde, numa reunião, os três voltam a tocar o tema, com este a alongar-se de forma celebratória, Clapton subtilmente chega-se à frente, face ao protagonismo que ganhou no tempo que decorreu entre ambas as gravações e o seu solo torna-se mais desenvolvido, até excessivo.
No tempo que decorre entre ambas as interpretações, esta malha sofreu muitas voltas, logo a começar pela reinterpretação que Ginger Baker lhe conferiu, introduzindo sopros, percussão, vozes femininas, impregnando-o com um ritmo africano e inserindo um fabuloso solo de bateria. Antes já Hendrix chamava o tema a si e inseria-lhe aquele som de guitarra que o tornaria famoso ao ponto de muitos o considerarem um dos maiores guitarristas de todos os tempos.
São sete minutos em que cada músico do trio parece tentar tocar mais que o correspondente nos CREAM, numa saudável luta de egos. Falando de egos, Clapton, nas suas incursões acústicas não hesitaria em tomar o tema, substituir as partes de baixo por acordes de guitarra e tentar tornar o tema só seu.
Egos à parte, ainda houve espaço para outros músicos assumirem a canção, com os LIVING COLOUR a fazerem aquela que talvez tenha sido a versão mais popular. Aqui a voz ganha uma outra dimensão, surgindo com mais força, e um certo groove percorre o tema modernizando-o. A mais ousada e interessante interpretação passa pelos FUDGE TUNNEL, um daqueles nomes hoje esquecidos mas que marcaram terreno, introduzindo aqui uma toada doom, por vezes sludge, em que fazem questionar — que tema dos BLACK SABBATH é este?
Outras versões existem ainda deste original dos CREAM, algumas tão interessantes como qualquer uma das referidas, pelo que a questão se mantém: até onde se poderá esticar um tema?