DEATH

DEATH: 10 TEMAS que definiram CHUCK SCHULDINER

Uma visita guiada ao fundo de catálogo sem mácula do genial CHUCK SCHULDINER com os DEATH.

O que dizer de um visionário que desmonta o movimento que ele próprio criou ou de que foi pioneiro? Nascido a 13 de Maio de 1967, em Long Island, no estado de Nova Iorque, Charles Michael “Chuck” Schuldiner é frequentemente referido como “o Pai do death metal” e, no seu obituário publicado a 5 de Janeiro de 2002 na revista inglesa Kerrang!, escreveu-se que foi “uma das figuras mais importantes na história do metal“.

O caso não é para menos, convenhamos. Juntamente com os POSSESSED, da Bay Area de São Francisco, os DEATH, criação pessoal de Schuldiner e a banda que o tornou famoso (primeiro no underground e depois no mainstream da música pesada), não só ajudaram a concretizar um dos mais bem sucedidos subgéneros extremos como também desafiaram, através da mestria técnica, todos os preconceitos que se pudessem ter em relação à evolução de um género “abrutalhado” por natureza.

Da maqueta «Death By Metal», de 1983, gravada com uma banda pré- DEATH chamada MANTAS à despedida com o glorioso «The Sound Of Perseverence», em 1998, passando pelas primeiras fusões de jazz metal de «Human» e «Individual Thought Patterns», o mago Chuck viveu como Da Vinci, que pensava que “a arte nunca é finalizada, apenas abandonada”. Ao longo de uma carreira sempre em crescendo, os DEATH nunca fizeram dois álbuns iguais, mas agora percebe-se que todos estavam muito ligados; numa narrativa não-linear que culminou na formação dos CONTROL DENIED.

Em baixo, escolhemos dez momentos incontornáveis do percurso de CHUCK SCHULDINER com os seus DEATH.

01. «ZOMBIE RITUAL»
[«Scream Bloody Gore»]

As letras do álbum de estreia dos DEATH estão repletas de violência slasher, misoginia, homofobia e agressão sexual, traços que acabariam por entrar em conflicto com a narrativa de auto descoberta e aceitação que Chuck criou em torno de seus trabalhos mais sofisticados. A música, como exemplificado por esta «Zombie Ritual», é gloriosamente crua, rápida, primitiva e ridiculamente cativante.

02. «LEFT TO DIE»
[«Leprosy», 1988]

Este tema do segundo álbum abre com um solo em espiral descendente e, de seguida, ouve-se um dos melhores breakdowns que escreveram. Chuck não revela problemas ao sacrificar as suas cordas vocais e envia arrepios através da espinha com um grito daqueles capazes de rasgar uma garganta. No final dos 80s, o death metal ainda estava a encontrar o pé, mas em «Leprosy» Chuck Schuldiner mostrou que já sabia exactamente como passar a mensagem.

03. «PULL THE PLUG»
[«Leprosy», 1988]

Schuldiner escreveu algumas letras bem mórbidas no início da sua carreira com os DEATH — e esta talvez seja mesmo das mais inquietantes . «Pull The Plug» evoca emoções verdadeiramente tenebrosas, com o vocalista a gritar a angústia, na perspectiva de primeira pessoa, de alguém que está ligado “à máquina” e a quer desligar. A música, essa, é tão (ou mais) inquietante. O ritmo geral a meio tempo e um dos refrões mais memoráveis do catálogo do grupo, fazem uma canção estelar.

04. «LIVING MONSTROSITY»
[«Spiritual Healing», 1990]

O ouvinte é levado para dentro da bola de angústia que o crack estava a causar nas cidades norte-americanas na passagem dos 80s para os 90s. Schuldiner vai directo à jugular com as linhas “born without eyes, hands, and half a brain / Being born addicted to cocaine.” Sejamos sinceros, é difícil pensar num tema anti-droga melhor que este e, dado o impacto que ainda tem tantas décadas depois, até se perdoa aquele efeito azeiteiro que usaram mesmo antes do solo de guitarra.

05. «FLATTENING OF EMOTIONS»
[«Human», 1990]

Com este tema, Chuck alcançou a grandeza e estabeleceu a base para todas as canções que os DEATH fizeram a seguir. «Flattening Of Emotions» é uma referência, uma declaração de intenções; a prova que faltava para mostrar de uma vez por todas que o death metal não podia mais ser relegado à mera força bruta, mas que podia evoluir além do “trogloditismo” passado. O death metal podia adaptar-se ou morrer. Adaptou-se.

06. «TOGETHER AS ONE»
[«Human», 1991]

O lendário «Human» ganha o direito de se gabar por um dos mais geniais ajuntamentos de músicos na esfera da música extrema. Sean Reinert e Paul Masvidal, dos CYNIC, juntaram-se a Steve DiGiorgio dos SADUS e, claro, ao génio do death metal, para conceberem um dos melhores álbuns do estilo. «Together As One» é um ataque implacável, com um refrão incrível.

07. «THE PHILOSOPHER»
[«Individual Thought Patterns», 1993]

Diz-se que as letras desta canção, que encerra o «Individual Thought Patterns», foram inspiradas por Paul Masvidal, que já estava fora da banda. Musicalmente o tema é demolidor, sendo que não soaria deslocado entre as composições da primeira frase. De resto, para acompanhar linhas tão virulentas como “So you preach about how I’m supposed to be / Yet you don’t know your own sexuality.“, só podia ser mesmo assim. A inclusão de
Andy LaRoque neste disco revela-se um toque de génio, com os solos a fluírem como nunca antes e um Gene Hoglan incrível estrear-se atrás do kit.

08. «CRYSTAL MOUNTAIN»
[«Symbolic», 1995]

O «Symbolic» reflectiu uma mudança na direcção da melodia que a maioria das bandas estava a adicionar ao death metal naquela época. Juntamente com os CARCASS e os AT THE GATES, os DEATH ajudaram a preparar o caminho para que os ganchos e as melodias infecciosas começassem a infiltrar-se num género predominante antagónico. Com as letras místicas reforçadas por uma melodia egípcia, «Crystal Mountain» é o ponto mais alto do penúltimo álbum do grupo.

09. «SPIRIT CRUSHER»
[«The Sound Of Perseverence», 1998]

No contexto dos DEATH, o trabalho mais expansivo que Chuck Schuldiner assinou foi este. No som geral e na composição, os temas distanciam-se da fórmula tradicional do death metal, tornando ainda mais aparentes os elementos progressivos e de fusão da secção rítmica a colidirem de frente com as descargas de melodia e agressividade. Mesmo assim, o peso do riff do refrão de «Spirit Crusher» faz com que o ouvinte se sinta esmagado.

10. «FLESH AND THE POWER IT HOLDS»
[«The Sound Of Perseverence», 1998]

A canção definitiva do derradeiro e mais inventivo álbum dos DEATH. Com a B.C. Rich Stealth de Chuck a cortar como uma navalha afiada e no centro das atenções, é o mentor do projecto que conduz o tema, que culmina num solo emocional capaz de demonstrar em segundos toda a sua habilidade e versatilidade como guitarrista. Passion is a poison laced with pleasure bitter sweet / One of many faces that hides deep beneath.