Os japoneses Boris são um verdadeiro camaleão, um dos que mais desbravou diferentes estilos na cena underground nos últimos 30 anos. Desde os primeiros lançamentos mais drone e sluge, passando pelo rock puro e duro, pelo noise, e, até com um piscar de olhos ao K-pop, estão sempre a surpreender de disco para disco. Não sendo propriamente originais na sonoridade, sempre foram genuínos, e de certa forma sempre estiveram na linha da frente, a quebrar barreiras estilistcas em todas as fases da sua carreira. O que aconteceu no sábado passado Sábado, na Galeria Zé dos Bois, foi por isto tudo algo improvável. Ver uma banda deste calibre, com este historial numa sala de capacidade muito reduzida, completamente lotada, em que tivemos a oportunidade de testemunhar este “alien” em funcionamento ali mesmo na nossa frente, sem merdas nem truques, e com um backline de meter respeito… foi realmente épico, não há outra forma de o descrever. Agora em formato de quarteto, com Atsu a assumir o papel de vocalista e incendiador, Wata a debitar riffs poderosos e solos do outro mundo, e Takeshi com a seu groove cheio de classe, e Muchio, o acréscimo de sangue novo na bateria que debitou o d-beat infernal ao longo de praticamente uma hora. Receita perfeita para uma performance em que o feeling punk desgarrado foi rei, com o público em delírio a fazer mosh e crowdsurf (incluindo o próprio roadie da banda), guitarras e outros objectos a voar, e o caos geral instalado. Mais para o final do set, tivemos direito ao habitual tsunami de drone e noise, que acabou por ser uma certa massagem para os corpos suados, depois da descarga de adrenalina a que foram sujeitos. Uma noite que certamente ficará na memória dos presentes e uma das mais brutais e extremas que já presenciámos neste espaço. O punk vive!
FOTOS: Pedro Roque