Para quem quiser mergulhar desde já no novo ritual de som e espírito de BLACKBRAID, o novo LP já pode ser escutado do início ao fim — e o futuro do black metal norte-americano, mais do que nunca, passa por aqui.
A poucas horas do lançamento oficial, o novo álbum de BLACKBRAID, intitulado «Blackbraid III», já pode ser ouvido em baixo, cortesia do próprio criador do projecto, Sgah’gahsowáh, também conhecido como Jon Krieger. Com lançamento agendado para amanhã, sexta-feira, 8 de Agosto, e composto por um total de dez temas — incluindo uma versão de «Fleshbound», dos suecos LORD BELIAL —, o disco reforça de forma inequívoca a evolução contínua de um dos projectos mais singulares da actual cena extrema norte-americana.
Fiel ao seu universo sonoro e espiritual, BLACKBRAID surge ainda mais feroz, ainda mais lírico e, acima de tudo, ainda mais ambicioso. Desde que a estreia «Blackbraid I», explodiu inesperadamente em 2022 com a devastadora «Barefoot Ghost Dance on Blood Soaked Soil», que Sgah’gahsowáh se afirmou como um criativo radicalmente distinto dentro da cena black metal. Quebrando convenções geográficas e sonoras, o artista oriundo da região dos Adirondacks, com raízes na cultura indígena Mohawk, criou um universo onde o peso do metal se entrelaça com a espiritualidade ancestral e a contemplação da natureza.
O segundo disco, «Blackbraid II», consolidou essa abordagem, expandindo o leque instrumental e dando um mergulho ainda mais fundo na herança nativa, com o uso de flautas, percussões tribais e ambiências meditativas. Em «Blackbraid III», tudo isso atinge um novo clímax. O tema de abertura, «Wardrums At Dawn On The Day Of My Death», surge a partir de guitarras acústicas delicadas antes de explodir numa avalanche de blastbeats e guitarras cortantes.
Remetendo para o lado mais atmosférico e singular de bandas como os WAYFARER e WOLVES IN THE THRONE ROOM ou WAYFARER, mas mantendo-se firmemente enraizado no universo Krieger, o tema apresenta versos que tocam a transcendência: “As my final visions become me / The eagles shall rise to carry me home…”. É uma expressão de beleza brutal, entre o crepúsculo e a redenção. Mais à frente, «The Dying Breath Of A Sacred Stag» arrasta-nos para um remoinho de intensidade, onde as melodias negras se fundem com ataques rítmicos viscerais.
A seguir, «The Earth Is Weeping» oferece uma pausa melódica que poderia muito bem ilustrar uma cena de western espiritualizado, preparando o caminho para a colossal «God Of Black Blood», que conjuga o peso de BATHORY com a ferocidade dos SATYRICON, enquanto a flauta indígena flutua sobre o caos, firmando o disco como uma obra tanto física quanto espiritual. «Traversing The Forest Of Eternal Dusk» prolonga esse transe com um solo de guitarra inesperadamente lírico, conduzido por flauta, antes de desembocar na tempestade épica de «Tears Of The Dawn» — um colosso de dez minutos onde a luz e a sombra se entrelaçam com uma grandiosidade emocional rara.
O final com «And He Became The Burning Stars» é igualmente cinematográfico, talvez o momento mais poderoso de todo o álbum, carregado de pathos cósmico e simbologia ancestral. Para terminar, a versão de «Fleshbound», original dos LORD BELIAL, encerra o LP com um piscar de olho às raízes escandinavas do género, mas parece quase um epílogo tímido após a força avassaladora do material original. Mesmo assim, serve como um ponto de ligação quase perfeito entre o legado europeu do black metal e a nova fronteira espiritual traçada por BLACKBRAID.
Feitas as contas, este «Blackbraid III» representa o amadurecimento de um artista que se recusa a fazer concessões à norma. Não há vestígios de acessibilidade calculada ou de aberturas ao mainstream: este é um disco de visão, de resistência estética, e de profunda comunhão com forças arcaicas. Como sempre, BLACKBRAID move-se como uma entidade solitária e determinada, onde cada instrumento é extensão da mesma alma — e essa alma arde mais intensamente do que nunca. Os formatos físicos de «Blackbraid III» podem ser encomendados aqui.
















