BLACK SABBATH

BLACK SABBATH: «HEAVEN AND HELL», o início de uma segunda vida

Editado a 25 de Abril de 1980, o primeiro LP dos BLACK SABBATH com DIO no lugar de OZZY marcou o começo de uma nova era na carreira da banda britânica.

27 de Abril de 1979. depois de um agravamento do comportamento cada vez mais errático de Ozzy Osbourne, os outros três membros dos BLACK SABBATH — o guitarrista Tony Iommi, o baixista Geezer Butler e o baterista Bill Ward — decidiram que estava finalmente na altura de despedirem o seu vocalista. Verdade seja dita, não é nenhum segredo que o lendário grupo britânico estava a passar por um mau bocado quando, no Verão de 1978, se fez à estrada para promover o álbum «Never Say Die!».

À beira da destruição alimentada pelo álcool e pela cocaína, os músicos estavam a promover um disco do qual não estavam particularmente orgulhos e que, recentemente, Butler apontou mesmo como aquele que é, para si, o pior álbum da banda. “Diria que o «Never Say Die!» é facilmente o pior álbum que fizemos“, confessou o baixista.

A principal razão para isso é que tentámos orientar a nossa carreira e produzir o álbum nós mesmos. Queríamos fazer tudo sozinhos mas, na verdade, nenhum de nós tinha a menor ideia do que fazer. Por essa altura, estávamos a gastar mais tempo com advogados e tribunais, em vez de nos focarmos na escrita e no estúdio. Tínhamos muita pressão sobre nós, e a composição foi prejudicada.

Editado a 29 de Setembro de 1978, o «Never Say DIe!» manteve como o último álbum dos BLACK SABBATH com Ozzy até à edição de «13», de 2013.

À semelhança do seu antecessor, o «Technical Ecstasy», de 1976, o oitavo longa-duração dos BLACK SABBATH não foi propriamente bem recebido pelo público — nem pela crítica. Para agravar a situação, todas as noites estavam a ser ultrapassados pela banda “suporte”, uns jovens e impetuosos VAN HALEN, que tinham acabado de lançar o «Van Halen II» e estavam prestes a inaugurar uma nova onda de hard rock melódico feito de guitarras virtuosas. 

A rejeição foi especialmente difícil para Osbourne, que começou a questionar o seu valor. Com o ânimo em baixo, o vocalista mostrou-se relutante em participar no processo de composição de um novo álbum com a banda e, em vez de se juntar aos seus parceiros, foi-se afundando nas drogas e no álcool. Numa entrevista recente, Geezer Butler nota que, além dos problemas com Ozzy, a banda estava a tentar progredir demasiado musicalmente.

Na minha opinião, acho que perdemos completamente o norte“, confessou ele. “Deixámos de fazer as coisas que faziam dos Black Sabbath o que eram e começámos adoptar uma abordagem mais melódica; o que, olhando para trás, foi um erro. O Ozzy sempre quis soar como a versão antiga do Black Sabbath, enquanto eu e o Tony queríamos expandir mais a nossa sonoridade. No entanto, analisando as coisas tantos anos depois, acho que o Ozzy provavelmente estava certo porque a nossa expansão musical fez-nos perder a essência dos Black Sabbath.

Apesar de não ter sido exactamente surpreendente, a decisão de o despedirem atingiu Osbourne como uma tonelada de tijolos. Lembro-me que, na altura, estávamos a fazer alguns ensaios em L.A. e eu andava drogado, mas andava drogado sempre”, diz Ozzy na sua auto-biografia, ‘I Am Ozzy’. “Era óbvio que o Bill [Ward] tinha sido enviado pelos outros, porque não era exactamente o tipo de pessoa que se chegasse à frente para comunicar uma decisão destas. Não consigo lembrar-me exactamente do que me disse… Mas o ponto principal era que o Tony [Iommi] achava que eu era um verdadeiro loser e uma perda de tempo para todos os envolvidos.

No seu próprio livro de memórias, ‘Iron Man’, Iommi defende-se: “O Ozzy parece pensar que fui eu que fiz toda a pressão, mas estava apenas a falar em nome da banda e a tentar fazer com que as coisas funcionassem. Portanto, alguém tinha que se mexer. […] Nessa altura estávamos juntos há uma década, mas chegámos a um ponto em que já não nos conseguíamos dar uns com os outros. Havia muita droga a circular, cocaína, Quaaludes e Mandrax, e havia bebida e madrugadas e mulheres e tudo o mais. A verdade é que nunca discutimos, mas é difícil chegar às pessoas, comunicar e resolver as coisas quando toda a gente está fora de si.

Por mais chocante que o incidente tenha sido na altura para todos os envolvidos, a verdade é que acabou mesmo por funcionar mais ou menos a favor de todos —os envolvidos pelo menos a curto prazo. Os BLACK SABBATH escolheram Ronnie James Dio para assumir o lugar atrás do microfone e, juntos, fizeram um dos mais conceituados LPs do grupo, o «Heaven And Hell», que foi editado no dia 25 de Abril de 1980.

Quando entrou em cena, o ex-vocalista dos Rainbow, transformou completamente o som do grupo, substituindo o idiossincrático lamento maligno de Ozzy por um estilo mais teatral e tecnicamente controlado. A progressiva mudança estilística do peso para um hard rock mais intrincado e melódico que havia fracassado nos últimos álbuns da década de 70 parecia agora perfeitamente adequada à voz de Dio, com canções como a acelerada «Wishing Well» a serem impulsionadas por uma harmonização crescente, pelos riffs de Iommi e pela secção rítmica forte e distinta composta por Butler e Ward.

De muitas formas, o «Heaven And Hell» mostrou ao mundo uns BLACK SABBATH quase irreconhecíveis da forma como tinham começado há pouco mais de uma década. No entanto, os ecos do passado, que ainda se faziam ouvir, ligados a uma sensação salutar de rejuvenescimento deram origem a alguns dos temas mais fortes que gravaram desde o «Sabbath Bloody Sabbath», de 1973.

No que toca a piscar o olho ao passado, o «Heaven And Hell» está cheio de pérolas. Logo na abertura, o riff da «Neon Knights» recorda o andamento da «Paranoid», mas o resultado final afirma-se como mais sério, mais dinâmico e mais fantasioso também. A «Children Of The Sea» mostra-os a adoptarem uma postura bem mais melancólica e errante — e recupera a exploração de uma sensibilidade que, em discos anteriores, já tinha entrado e saído do foco dos músicos em várias ocasiões.

O épico tema-título destila rock’n’roll fervilhante, e termina com um outro de guitarra misterioso enquanto a poeira baixa. No entanto, não é só do refinamento de ideias já usadas que se trata aqui. Há experiências com sintetizadores, algo tipicamente 80s, em «Die Young»; a «Lonely Is The Word» e o seu final bem cinematográfico eleva-os a terrenos de teatralidade que nunca tinham pisado antes; a «Walk Away» apresenta um riff que faria corar muitos artistas de AOR — tudo isto são exemplos de que o quarteto conseguiu expandir com sucesso o alcance da sua música e vingar os fracassos nos álbuns que fizeram no final dos anos 70 .

Após o lançamento, o «Heaven And Hell» transformou-se mesmo num dos álbuns de maior sucesso comercial dos BLACK SABBATH e introduziram-nos aos 80s com um espírito renovado e os afastou da beira da morte em que estavam a oscilar.