Mesmo sem terem tocado «Owner Of A Lonely Heart», os YES trouxeram ao Campo Pequeno, em Lisboa, um bom resumo de uma carreira que está prestes a atingir a marca das seis décadas de existência.
Após terem adiado algumas vezes esta digressão europeia, os YES regressaram finalmente a Lisboa para darem início à muito aguardada The Classic Tales Of YES. Num palco simples, com um pano branco de fundo, os músicos entraram em cena discretamente e o concerto começou ao som dea épica «Machine Messiah». A qualidade dos músicos tornou-se indiscutível logo desde o primeiro momento e o guitarrista Steve Howe revelou-se claramente o maestro que conduz a banda. A voz de Jon Davison é delicada, mas as notas e o alcance estão todas lá, sendo que o vocalista até se esforçou para falar em português (com o sotaque brasileiro), facto que o público acabou por apreciar.
No que ao alinhamento diz respeito, seguiram-se «It Will Be A Good Day (The River)» e «Going For The One», com Howe a tocar lap steel, e a usar uma acústica ao estilo da guitarra portuguesa em «I’ve Seen All Good People», mais um excelente momento da recta inicial da actuação. Foram, de resto, muitos os pontos altos ao longo desta noite – o nome da digressão não engana, com os veteranos a apoiarem o alinhamento em muito material “clássico”.
Depois da versão em formato instrumental de «America», original de Simon & Garfunkel, o público foi brindado com uma maravilhosa interpretação de «Time And A Word» (do álbum com o mesmo nome de 1970) e, quando o timoneiro dos YES apresentou «Don’t Kill The Whale», do disco «Tormato», de 1978, aproveitou para reforçar a ideia de que, na altura, já mostravam preocupações ecológicas e ambientais. A primeira parte do concerto chegaria ao fim com «Turn Of The Century», com a banda a juntar-se a Steve Howe na parte final do tema para mais um grande momento.
O que se seguiu foi, digamos, um momento muito peculiar. Houve quem pensasse que o concerto tinha terminado e a banda “esqueceu-se” de avisar que iam regressar para a segunda parte, sendo que foi preciso um membro do staff dos YES vir a palco dizer que a banda iria regressar passados vinte minutos. «South Side Of The Sky» deu então início à segunda parte do concerto, com o teclista Geoff Downes rodeado de dez teclados e sintetizadores, mas sempre de frente para o público. O som de bateria de Jay Schellen, por seu lado, revelou-se forte, bem como o som de baixo de Billy Sherwood,que estava muito bem definido.
Já na recta final, a banda fez a única viagem ao seu mais recente disco de estúdio com «Cut From The Stars», logo seguido por um medley dos quatro temas que compõem «Tales From Topographic Oceans» apresentados numa peça de 20 minutos – como Billy Sherwood tinha afirmado em entrevista à LOUD!, acabou por ser um momento novo e refrescante, mas ainda assim bem familiar. Para o encore, ficaram guardados os clássicos «Roundabout» e «Starship Trooper», que fecharam com chave de ouro uma noite mágica e mostraram um jovem de 77 anos, chamado Steve Howe, ainda cheio de genica e virtuosismo intacto a liderar uma banda ao nível do legado dos YES.
ALINHAMENTO:
Machine Messiah | It Will Be A Good Day (The River) | Going For The One | I’ve Seen All Good People
America (Simon & Garfunkel cover) | Time And A Word | Don’t Kill The Whale | Turn Of The Century
South Side Of The Sky | Cut From The Stars | The Revealing Science Of God (Dance Of The Dawn) / The Remembering (High The Memory) / The Ancient (Giants Under The Sun) / Ritual (Nous Sommes Du Soleil) | Roundabout | Starship Trooper