A LOUD! esteve presente no último dia da edição de 2023 do WoodRock Festival, um dia que ficou marcado infelizmente pelo cancelamento da actuação dos Blues Pills devido a problemas de saúde não especificados (mas que suspeitamos que terá sido devido à gravidez de Elin Larsson aproximar-se do termo). Ainda assim restaram muitas razões mais que válidas para os amantes do stoner e psych rock marcarem presença e fazerem a festa como efectivamente fizeram. Importante também relembrar que nos dias anteriores tocaram os Desert’Smoke, Maquina, Grima e Puto, no pequeno palco “Mato Possível” e os Stones Of Babylon, Maragda, Gator, The Alligator com os Vintage Caravan a darem um concerto memorável e os Cobrafuma a tornar o mosh no WoodRock bastante apetecível.
O início deu-se um pouco mais tarde do que a hora prevista devido a alguns problemas cénicos no palco. À hora prevista também estava o recinto ainda bem despido de público, mas assim que todos os problemas foram solucionados e quando os GESSO estavam prontos para entrar em palco, o público compareceu em peso para ser agraciado pelas sonoridades pesadas e viajantes da banda portuguesa. Começando com «Strong Unholy Winds Are Coming» do álbum «Howling Grace», o rendimento colectivo foi imediato. A expectativa de ver e ouvir algumas das músicas do excelente «Nunca Os Céus Se Tornarão Lugares» não foram goradas. Aliás, mais do que poder ver e ouvir temas como «Não me Levem» e «Homens Se Tornam Réus», pudemos experienciá-los de uma forma bem mais intensa. Definitivamente uma banda a conferir ao vivo.
Já os ITWASTHEELF também são uma banda que ao vivo consegue extrapolar toda uma potência considerável que possuem em disco e a sua prestação no WoodRock não foi excepção. Um início atmosférico com «Rain» e onde foi desde logo interessante perceber que para além das teclas e dos pedais de efeitos disponíveis para criar um ambiente único, também estaria à disposição o saxofone, instrumento que ainda acentuou a aura psicadélica. «Ancestors», o segundo álbum de originais da banda esteve evidência, o que seria expectável não só por ser o trabalho mais recente da banda mas especialmente por ser um enorme disco. Pudemos ouvir ainda um tema novo, que a banda ainda não gravou e podemos desde já ficar com expectativas altas para o próximo trabalho, que não ficaremos desiludidos.
Os BLACK WIZARDS são outra banda especial, uma daquelas que metemos sempre as mãos na cabeça quando pensamos em como não têm um sucesso e reconhecimento ainda maior do que aquele que já tem, tanto dentro como fora das nossas fronteiras. «Symphony Of The Ironic Sympathy», do ainda último álbum de originais «Reflections», abriu da melhor forma o concerto que colocou todos a mexer em frente ao palco principal. Foi a primeira vez que os vimos em formato trio e podemos dizer que o groove, o poder e o misticismo mantém-se todos intactos naquilo que a banda de Joana Brito faz. Para além do destaque a «Reflections» também foram buscar a excelente «I Don’t Want To Die» ao «What The Fuzz!» e apresentaram o seu mais recente single, «Rings Can’t Buy You Dreams» e conseguiram meter todos a groovar como o rock é suposto fazer. A visceralidade das emoções sentidas através da música.
Sem Blues Pills, naturalmente o slot passou para a banda que os iria seguir, os portuenses SUNFLOWERS. Num registo bastante diferente, power trio trouxe animação psicadélica em registos hipnóticos que era mesmo aquilo que o público estava a pedir. «Electric Piety» da novidade (lançada em Abril), «A Strange Feeling Of Existential Angst». Com o repertório enorme que têm, e com qualidade, não faltaram opções, mas foi interessante ver a forma como a «Sleepy Sun» foi tocada num tempo mais lento e como esse factor ainda reforça o seu cariz mais viajante e psicadélico. Do melhor que se faz por cá em psych rock onde também shoegaze e o dreampop não são conceitos estranhos.
Infelizmente não tivemos oportunidade de apanhar a actuação dos Mike Vhiles, banda que, conforme foi anunciada pela organização, não são uma banda de substituição e terminaram a noite em grande, onde o seu disco de estreia recentemente lançado, «Mystic Dream Sequence» foi o grande destaque. A terminar em grande também terminou mais uma edição do WoodRock Festival onde nem o imprevisto abalou a celebração da música psicadélica e nos faz começar já a fazer a contagem decrescente para o próximo.
Fotos: Sónia Ferreira