O último dia de VOA — HEAVY ROCK FESTIVAL, o tal “dia extra” que não estava planeado antes da pandemia ter trocado as voltas a toda a gente, decorreu debaixo de um calor abrasador, e revelou-se impróprio para cardíacos. Os dois primeiros dias d evento (cuja análise já vos trouxemos aqui e aqui) foram pautados por excelentes actuações, e pode dizer-se que a questão principal em relação a este último dia era se as bandas iriam conseguir manter o nível… spoiler alert: conseguiram! Debaixo de um sol quente, a afluência de público à hora da abertura de portas era menor que nos dois primeiros dias, mas isso acabou por mudar à medida que as horas iam passando. Os canadianos DEADLY APPLES tiveram as honras de abertura, e para quem não os conhecia, certamente que tão cedo não se irão esquecer da banda liderada pelo vocalista Alex Martel. De início ao fim, o grupo mostrou uma intensidade absolutamente contagiante, com o frontman a fazer voar o seu microfone e tripé mais vezes do que seria desejado para o material, e em que o assistente da banda fez mais “piscinas” que os próprios músicos para conseguir ir voltando a pôr tudo no sítio. Já o “samplista” da banda foi mostrando os seus dotes de dança ao longo do concerto para gaúdio da plateia. No final, Alex veio cantar e fazer mosh para o meio do público — e, no final, ainda levou um banho de água dado por um fã.
Seguiram-se os THE RAVEN AGE, que subiram ao palco quinze minutos antes do previsto – tal como tinha acontecido com os GAEREA no dia anterior – e nota-se que há uma evolução positiva na banda de George Harris, principalmente desde que o vocalista Matt James se juntou a eles. Boa presença em palco de todos os elementos, e não faltaram os temas mais orelhudos como «Promised Land» ou «Fleur De Lis» a fechar o alinhamento. Uma banda que à partida parecia não encaixar num cartaz pesado eram os ME AND THAT MAN, liderados por Nergal, dos BEHEMOTH. O próprio fez alusão a isso durante o concerto, mas assim que subiram ao palco, o que ao início parecia não fazer sentido acabou mesmo por encaixar na perfeição. Apesar da sonoridade da banda andar entre o blues/folk, a verdade é que o músico polaco agarrou o público desde início, e o seu carisma nato espalhou-se facilmente pela plateia. Temas como «My Church Is Black», «Under The Spell» ou «Burning Churches» cativaram o público, e mesmo os que poderiam não conhecer ainda este lado do frontman dos BEHEMOTH, certamente que no dia seguinte já foram às plataformas de streaming ouvir os temas.
Às 19:oo em ponto subiram ao palco os neerlandeses EPICA, que quase tiveram que actuar com um elemento a menos, já que o guitarrista Isaac Delahaye chegou ao recinto literalmente minutos antes da banda subir a palco — o seu voo atrasou e o músico teve de ser escoltado pela polícia desde o aeroporto até ao recinto. Já com uma plateia bem composta, foi ao som de «Alpha» que subiram ao palco, atirando-se logo de seguida para «Abyss Of Time». Algo que se percebe logo de início é a química e boa disposição entre os músicos e, claro, Simone Simons – dizia alguém no público, “só ela vale o preço do bilhete”. Apesar de ligeiros problemas técnicos, principalmente com o teclado de Coen, a banda não parou um minuto. Eram constantes os “duelos” entre Isaac e Coen, Isaac e Mark Jansen, Coen e Mark e Coen e Simone. Ao longo deste fim de tarde, não faltaram temas como «Cry For The Moon», «Beyond The Matrix», «Victims Of Contingency» e, a encerrar, «Consign To Oblivion». Directamente de Chicago para o mundo, chegaram os RISE AGAINST, que já não passavam por Portugal há largos anos, não se percebendo bem o porquê dessa longa ausência, já que logo ao início dos primeiros acordes de «Prayer Of The Refugee» o público presente mostrou saber as sus letras de cor. Compostos por Tim McIlrath, Zach Blair, Joe Principe e Brandon Barnes, são uma banda com grandes canções e o alinhamento parecia um best of. Mesmo canções mais recentes como «Nowhere Generation» e «Last Man Standing» já soam a clássicos. Mais uma vez importa referir o público, conhecedor dos temas da banda, que teve ainda um grande momento com «Hero Of War», com Tim e a sua guitarra acústica a criarem um ambiente intimista, e a terminar, a emblemática «Savior», a deixar no ar o desejo que ovoltem rapidamente a Portugal.
Se o dia foi quente, a temperatura da noite ficou ainda mais elevada — muito graças aos SABATON! Há poucas bandas que podem rivalizar a nível de pirotecnia com os KISS ou os RAMMSTEIN, mas estes suecos são mesmo uma delas. Foi com o habitual: “We are Sabaton, we play heavy metal and this is «Ghost Division»” que deram início às hostilidades e, logo nos primeiros quinze segundos, os “disparos” de morteiro devem ter preocupado os moradores das redondezas, que devem ter achado que estavam sobre ataque. Para quem estava no público, todas as explosões e chamas durante a hora e meia que a banda esteve em palco podem ter obrigado a uma mudança de roupa interior antes do final da noite. Quem conhece os SABATON já sabe ao que vai, e para quem os viu pela primeira vez, também não os vai esquecer tão cedo. Os suecos têm carisma para dar e vender, em palco não têm falhas, e os temas super orelhudos acabam por ser o ingrediente principal, mesmo com toda a componente cénica. Destaques? Todos! Mas «The Great War», «Soldier Of Heaven», «Carolus Rex», «Resist And Bite» – com direito a um cheirinho de «Master Of Puppets» ao início – podem-se mencionar como pontos altos. O encore foi de luxo, com «Primo Victoria», «Swedish Pagans» e a sua melodia contagiante, e a terminar «To Hell And Back». É certo que, tendo em conta a dimensão desta produção, um regresso a Portugal sem ser em festival pode ser complicado, mas o público parece querer mais SABATON, e os SABATON parecem querer mais Portugal, por isso… É fazer as contas!
Fotos: Jorge Botas