Thrash metal! Podem ter passado já décadas desde que o género teve impacto no mainstream e todas as suas bandas mais clássicas podem até já não convencer com as suas novas criações, mas o underground continua ainda a pulsar. A provar isso, recebemos mais uma digressão imperdível que passou país, encabeçada pelos norte-americanos VEKTOR que trouxeram consigo os CRYPTOSIS, COMANIAC e ALGEBRA. Estes últimos foram a primeira banda a subir ao palco do RCA Club e, se em estúdio não têm dado nas vistas, em cima do palco a história foi diferente. Num alinhamento em grande parte dedicado ao mais recente trabalho de originais, «Chiroptera», os músicos suíços assumiram desde cedo a satisfação por estarem a tocar pela primeira vez em Portugal e, a maior curiosidade, fizeram-no em português; aliás, toda a comunicação de Ed Nicod com o público foi feita em português com sotaque. Agradeceram aos VEKTOR (cujos elementos estão a assistir e a vibrar com o concerto, revelando que acima de tudo são fãs) pela possibilidade que lhes deram de fazerem aquela que é a sua primeira digressão europeia. No final, assinaram um actuação que conquistou novos seguidores.
Os também suíços COMANIAC subiram ao palco a seguir e notou-se logo que, apesar de serem uma banda bem mais recente e com menos trabalhos editados, tinham uma confiança totalmente diferente. Um à-vontade assinalável que, embora assente sobretudo em lugares-comuns que já conhecemos dos clássicos, também resultaram num impacto maior na interpretação de temas como «Secret Seed» e «Holodox»; este último, tema-título do último trabalho de originais, que foi também o centro das atenções da setlist. Boa diversão thrash e uma vitalidade que nos faz pensar como este estilo, tendo já o historial que tem, ainda pode fazer-se sentir refrescante.
A curiosidade era enorme para ver os CRYPTOSIS, logo de seguida. A banda neerlandesa lançou um dos grandes LPs do ano passado dentro do segmento mais técnico do thrash, «Bionic Swarm», e apresentou-se em palco de forma mais elaborada do que esperado. Com três suportes de microfone que pareciam ter saído de um filme de ficção científica apocalíptico mesmo na frente do palco (a banda é um trio, portanto um ficou sempre vago), o vocalista e guitarrista Laurens Houvast andou sempre de um lado para o outro, de forma irrequieta, tal como a sua música sugere. Já Frank te Riet (baixo e voz) não só segurava a secção rítmica com solidez como também tinha efeitos que quando accionados faziam com que o baixo fosse uma espécie de maestro de orquestrações na melhor tradição de Geddy Lee, dos Rush. Técnicos, potentes e longe de serem aborrecidos, causaram um grande impacto entre o público.
Grandes expectativas para ver os VEKTOR, novamente em Portugal depois de uma grande actuação no Vagos Metal Fest em 2016. Pouco tempo depois da contratação e consequente dispensa da Century Media Records, a banda de David DiSanto demonstrou que tem garra suficiente para vencer este momento menos positivo da sua carreira. Aliás, o mesmo não transpareceu de todo numa actuação que foi demolidora do início até ao último momento. E o público esteve do lado da banda em todos os momentos, vibrando (e moshando) e não deixando de cantar muitas vezes e de forma espontânea os riffs. Até mesmo quando DiSanto avisou que iriam abrandar e tocar um tema mais calmo, que se percebeu depois ser «Collapse», a reacção do público foi a esperada (os protestos de quem queria partir o pescoço a fazer headbanging sem intervalos), mas depois não houve ninguém que não cantasse o tema. Esse, e o que veio de seguida, «Recharging The Void», um épico de thrash progressivo com nuances que até fazem lembrar por momentos bandas como Pink Floyd e Yes. Um registo de qualidade assinalável.
FOTOS: Sónia Ferreira