ULVER

ULVER: Novo álbum, «Neverland», para ouvir na íntegra [streaming]

ULVER lançam novo álbum em formato digita. «Neverland» afirma-se como um disco maioritariamente instrumental, marcado pela liberdade criativa e pelo espírito de reinvenção.

Enquanto 2025 se despede, os ULVER assinalam o início de um novo ciclo criativo com o edição digital de «Neverland», o décimo quarto álbum de estúdio da mutante banda norueguesa. O álbum está disponível nas plataformas digitais, numa edição pensada exclusivamente para este formato, com as versões físicas a terem lançamento marcado apenas a 27 de Fevereiro de 2026.

Descrito pelo próprio grupo como “o som de uma fuga”, «Neverland» apresenta-se como uma viagem por territórios ainda não cartografados dentro do universo sonoro dos ULVER. Depois de uma trilogia de álbuns — «The Assassination of Julius Caesar», de 2017, «Flowers of Evil», de 2020, e «Liminal Animals», de 2024 — que recuperou estruturas mais tradicionais de canção e produção, o colectivo oriundo de Oslo opta agora por um caminho mais livre, abstracto e ainda menos previsível.

Sobre o processo criativo, os ULVER explicam de forma bastante clara a mudança de abordagem: “Com o «Neverland» decidimos abraçar um espírito mais ‘punk’ — é mais sonho, menos disciplina — simplesmente mais livre.” Essa declaração ajuda a enquadrar um álbum que abdica deliberadamente de fórmulas rígidas e se constrói a partir de impulsos, atmosferas e estados de espírito.

Musicalmente, a novidade «Neverland» abre com explosões de sintetizadores luminosos e fluxos sonoros etéreos, que estabelecem um ambiente de expectativa antes da música se expandir entre momentos de calma ambiental e passagens de misticismo quase anárquico. As texturassónicas, frequentemente oníricas e transportivas, evoluem para pulsações rítmicas de carácter hipnótico, criando um espaço sonoro denso, vibrante e, por vezes, surpreendentemente exótico.

Trata-se, em grande medida, de um disco instrumental. Para além de algumas vozes distantes e recortes vocais muito pontuais, «Neverland» desenvolve-se através de camadas electrónicas e estruturas abertas, evocando o cruzamento entre o IDM do final da década de 90 e as narrativas longas e errantes do post-rock. A ausência de canções convencionais acaba por reforçar a ideia de um percurso contínuo, quase cinematográfico, em que cada tema funciona como parte de um fluxo maior.

Não é difícil, no entanto, reconhecer ecos do passado dos ULVER ao longo da audição. O fantasma da cultura de samples pré-milénio paira sobre o LP, e alguns ouvintes poderão identificar afinidades com obras marcantes como «Perdition City» (2000), os EPs «Silence» (2001) ou mesmo «ATGCLVLSSCAP», álbum de 2016. Ainda assim, «Neverland» recusa a nostalgia fácil. Em vez de revisitar esses territórios, os ULVER usam-nos agora como ponto de partida para algo que soa distinto e contemporâneo.

Essa capacidade de reinvenção contínua continua a ser uma das marcas mais fortes da banda de Oslo, que, ao longo de mais de três décadas, se recusou a permanecer presa a um único estilo ou identidade estética. Em «Neverland», essa inquietação manifesta-se sob a forma de uma colagem de sonhos, um conjunto de imagens sonoras que existe num espaço intermédio entre géneros, épocas e referências.

Pop de mundos paralelos, alucinação sonora ou simples exercício de liberdade criativa? A própria banda deixa a interpretação em aberto. O que é certo é que «Neverland» reforça o estatuto dos ULVER como um dos projectos mais singulares e imprevisíveis da música europeia contemporânea, oferecendo um LP que convida mais à imersão paciente do que propriamente à audição imediata, afirmando-se como um convite para atravessar, sem mapa, mais um capítulo da sua permanente metamorfose artística. As pré-encomendas dos formatos físicos de «Neverland» estão disponíveis através da Prophecy Productions.