Uma viagem inédita às sombras de Brooklyn ganha forma quinze anos após a morte de PETER STEELE e o fim dos TYPE O NEGATIVE.
A memória sombria e magnética dos TYPE O NEGATIVE está prestes a regressar sob uma nova forma. O ex-guitarrista Kenny Hickey confirmou que a banda nova-iorquina — que está extinta desde a morte do carismático Peter Steele, em 2010 — encontra-se a preparar um álbum ao vivo oficial, actualmente em fase de mistura. “Estamos a trabalhar num álbum ao vivo neste momento”, revelou Hickey em entrevista à Loaded Radio.
“Sim, estamos no processo de mistura… Por isso, estou entusiasmado com isso. Estamos a trabalhar também na arte do disco”, avançou o músico A notícia vem reacender o interesse e a nostalgia em torno dos TYPE O NEGATIVE, uma das formações mais singulares que o metal gótico alguma vez conheceu, famosa tanto pela densidade emocional como pela ironia e melancolia que marcaram toda a sua discografia.
Formados em 1990, no coração industrial de Brooklyn, os TYPE O NEGATIVE uniram Peter Steele, Josh Silver, Sal Abruscato e o próprio Kenny Hickey num projecto que redefiniu o que o metal sombrio podia ser. Steele — nascido Petrus T. Ratajczyk a 4 de Janeiro de 1962 — tornou-se uma figura de culto: um gigante de 2,01 metros, dono de uma voz grave e hipnótica, que se tornou o centro gravitacional da banda. Antes dos TYPE O NEGATIVE, Steele já tinha deixado a sua marca nos FALLOUT e, sobretudo, nos brutais CARNIVORE, onde explorou o lado mais cru e apocalíptico da sua visão musical.
Este novo registo ao vivo dos TYPE O NEGATIVE, cuja data de edição ainda não foi revelada, promete oferecer uma janela inédita para o poder atmosférico da banda em palco. Para os fãs que nunca tiveram oportunidade de os ver, poderá ser a derradeira aproximação à energia que definia os seus concertos — onde temas como «Christian Woman», «Black No. 1», «Love You To Death» ou «Everything Dies» se transformavam em experiências quase litúrgicas.
Apesar do entusiasmo de Hickey, a hipótese de um concerto de homenagem a Peter Steele com todos os membros sobreviventes da banda permanece incerta. O guitarrista revelou que já houve conversas sobre um possível espectáculo com músicos convidados, mas o antigo teclista Josh Silver, cunhado de Hickey, ainda não se mostrou disponível para regressar ao universo TYPE O NEGATIVE. “Ele passou muito tempo a trabalhar como paramédico na cidade de Nova Iorque”, explicou Hickey, sugerindo que o afastamento de Silver da música continua a ser profundo.
A morte de Peter Steele, a 14 de Abril de 2010, vítima de falência cardíaca aos 48 anos, encerrou de uma forma abrupta a trajectória da banda. O seu último álbum, «Dead Again», de 2007, já deixava pressentir um tom de despedida, marcado pela luta do baixista/vocalista com os seus próprios demónios espirituais e existenciais. Desde então, a herança dos TYPE O NEGATIVE continuou a crescer, sobretudo entre novas gerações que descobriram a sua discografia nas plataformas digitais.
O percurso do grupo é um compêndio da melancolia e provocação que definiu o metal alternativo dos anos 90 e 2000. A estreia «Slow, Deep And Hard», de 1991, afirmou-se como uma descarga de raiva industrial e de sarcasmo, logo seguido por «The Origin Of The Feces», de 1992, que funcionou como a proverbial provocação sonora. No entanto foi com o «Bloody Kisses», de 1993, que os TYPE O NEGATIVE conquistaram o estatuto de culto, graças a hinos como «Black No. 1 (Little Miss Scare-All)» e «Christian Woman», que misturavam erotismo, depressão e humor negro num cocktail sem paralelo.
Os álbuns seguintes — «October Rust» (de 1996), «World Coming Down» (de 1999), «Life Is Killing Me» (de 2003) e «Dead Again» (de 2007) — consolidaram o som inconfundível da banda nova-iorquina, um cruzamento entre romantismo fúnebre e pesadelo urbano. Quinze anos após o seu desaparecimento, o nome TYPE O NEGATIVE continua a ressoar como um eco subterrâneo que se recusa a morrer.
Agora, num tempo em que o revivalismo gótico e o metal melancólico voltam a despertar interesse, a edição de um álbum ao vivo poderá servir não apenas como homenagem a Steele, mas como a prova definitiva de que o seu legado permanece vivo — denso, sarcástico e insondável como sempre foi. “O Peter continua connosco em tudo o que fazemos”, diria Hickey em tempos. Com este lançamento, a voz profunda e inesquecível de Peter Steele voltará a ecoar, uma vez mais, das sombras de Brooklyn para o mundo.











