Para o último dia de VAGOS METAL FEST, ficou o prato mais forte — os TRIPTYKON, liderados pelo lendário pioneiro do metal Tom G. Warrior, com um ‘setlist’ focado nos seus antigos CELTIC FROST.
A principal atracção da edição de 2023 do Vagos Metal Fest foi, sem dúvida, a banda de Tom G. Warrior a tocar exclusivamente músicas dos primórdios de outra das suas bandas, aquela que marcou (e marcará sempre) a sua carreira musical: os CELTIC FROST. Os TRIPTYKON foram fundados com o objectivo de ser uma continuação lógica dos desse grupo, portanto percebe-se que não tenha havido a necessidade de criar uma entidade nova para tocar os clássicos, como foi o caso dos Triumph Of Death, presentes este ano no SWR – Barroselas Metalfest, que prestam homenagem aos HELLHAMMER.
Até se podem perceber os argumentos críticos em relação ao facto de se tratar de um puro e assumido exercício de nostalgia, mas a verdade é que também ninguém o esconde. No entanto, tanto para os fãs, como para organização deste evento, até para a própria banda, não havia como recusar a oportunidade de fazer aqueles hinos emblemáticos soarem mais uma vez em cima dos palcos de uma forma que não só faz justiça aos mesmos como também perpétua o legado de uma das bandas mais influentes de sempre da música extrema.
E essa oportunidade foi agarrada com as duas mãos; o público preencheu de forma inequívoca o espaço em frente ao palco durante todo o concerto. A incontornável «Into The Crypts Of Rays», primeiro tema do EP de estreia do grupo, foi a escolha apropriada para abrir a celebração e, desde logo, ficaram claras duas coisas. Primeiro, o som estava no ponto, com uma aspereza cativante, que mantinha toda a crueza necessária, mas que dava um punch moderno e orgânico ao som das guitarras. Segundo, embora não tenhamos como saber com certeza, e até possa ser potencialmente blasfemo, os CELTIC FROST nunca soaram tão poderosos.
Só o facto de haver mais uma guitarra em palco tornou a parede sonora irremediavelmente irresistível e isso enalteceu todo o potencial metálico de hinos como «Dethroned Emperor» e «The Usurper». Tom G. Warrior não falou muito, mas conforme o concerto avançava ia demonstrando toda a sua simpatia e bom humor. O músico tinha ele contado à LOUD! que os CELTIC FROST tentaram tocar por cá, mas nunca o conseguiram fazer enquanto estiveram juntos.
Ainda que não seja o mesmo, isto foi o mais próximo que estivemos disso, e ninguém conseguiu fazer qualquer distinção. Fechando os olhos, e desde o primeiro “UGH!“, para muitos eram mesmo os CELTIC FROST que estavam ali, muito graças também à coesão e solidez da própria banda como um todo.
Se havia cépticos entre os presentes, por esta altura já estavam totalmente convertidos e, verdade seja dita, não havia qualquer motivo para não ser assim. Quem conseguisse a difícil tarefa de se abstrair da música e dos seus efeitos e olhasse para a multidão, podia ver um padrão e a média muito elevada de headbanging por festivaleiro. O que é perfeitamente natural, afinal é uma vontade à qual se consegue ter poucas resistências quando os riffs são assim tão potentes.
Não há, de resto, grandes dúvidas em relação ao facto de que os CELTIC FROST foram a porta de entrada de muitos fãs, e de muitos músicos também, no universo do black/death metal. E boa prova disso foi a forma como certos temas nos fizeram pensar de imediato nas covers feitas pelos DARKTHRONE, DIMMU BORGIR, SEPULTURA ou OBITUARY. Temas como «Visual Aggression», «Nocturnal Fear», «Procreation (Of The Wicked)» e «Circle Of The Tyrants» foram, de resto, momentos a que nenhum apreciador de metal extremo conseguiu ficar indiferente. De resto, toda a actuação representará um daqueles itens na bucket list que foi finalmente cumprido (por aproximação, é certo) e um dos pontos maiores de destaque nos espectáculos ao vivo em Portugal este ano.
De seguida, ainda tocaram os MIDNIGHT e os SERRABULHO para colocar o ponto final em mais uma edição do Vagos Metal Fest. Esses concertos, assim como os dos PULL THE TRIGGER, PRAETOR, URNE, PROCESS OF GUILT, HEIDEVOLK, MONUMENTS, BELPHEGOR e IMPERIAL TRIUMPHANT serão alvo de uma reportagem datalhada que será publicada nos próximos dias.
Fotos por Sónia Ferreira