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TOOL: Porque é que o «LATERALUS» é um dos melhores álbuns da década de 2000?

23 anos depois, o «Lateralus» continua a ser TOOL no seu melhor absoluto. Esta é a história de um álbum desafiador e definidor de carreira.

Junho de 2001. A partir do momento em que lanças um álbum, passas a ser um produto“, disse Maynard James Keenan, a voz e enigmática cara mais visível dos TOOL, numa entrevista à Hit Parader apenas dois meses após o lançamento do terceiro opus de metal progressivo da banda, o muito aplaudido e, claro, reverenciado «Lateralus».

Isso é um facto da vida. Podes negá-lo a ti mesmo, mas no fundo sabes que é verdade. Ouvi fãs a dizerem que nos vendemos porque os últimos álbuns atingiram bastante sucesso. Tive de concordar com eles. Somos um produto. No entanto , somos também fiéis às coisas em que acreditamos.

No início dos anos 2000, os TOOL já eram tanto uma marca como um grupo musical. cultivando uma enorme aura de mistério, escuridão e sofisticação à sua volta — de todos os vídeo-clips taciturnos à falta de intenção promocional dentro das regras da indústria, passando pelos arranjos cada vez mais cerebrais das suas canções e pelas referências líricas elípticas, tudo fazia acreditar em músicos apostados em ir além da música.

Editado a 15 de Maio de 2001, o «Lateralus» provou que, apesar da sua grandiosidade como produto, a música continuava a evoluir e a falar por si própria. Ninguém se parecia com os TOOL porque ninguém conseguia chegar-lhes aos calcanhares. Verdade seja dita, o álbum foi editado num momento crucial — cinco anos após o revolucionário «Ænima» e um ano após o LP de estreia de Keenan com os A PERFECT CIRCLE, o apaixonante «Mer Des Noms».

Felizmente, a espera, que muitos fãs dos TOOL já aprenderam a aceitar como estilo de vida – valeu totalmente a pena. Em 2001, a banda californiana já tinha passado uma década a inventar-se e a reinventar-se, mas nós, aqui deste lado, imprensa e público, ainda não estávamos sequer perto de descobri-los. Ninguém podia culpar os TOOL por serem outra coisa que não eles próprios. Mas o que eram exactamente? E o que era o «Lateralus»? Bem, isso é ainda mais difícil de definir.

Tudo o que se ouve ao longo dos 68 minutos e 51 segundos do terceiro álbum dos TOOL está enraizado na admirável crença, por parte dos músicos, de que um álbum deve ser tratado como uma obra de arte experimentada como um todo, e não algo como algo que pode ter dividido em singles. Para terem uma ideia: o single mais curto dos TOOL tem 04:56 de duração e chama-se «Prison Sex», por isso, sim; não estamos a falar de uma banda que alguma vez se tenha vergado ao formato dos singles.

No entanto, quando a «Schism» foi “libertada” na Primavera de 2001, tornou-se no maior sucesso comercial do grupo até hoje. O disco trepou na tabela Hot 100 da Billboard, um feito que a banda não repetiria até ao lançamento do «Fear Inoculum», de 2019. Não estranhamente, em ambos os casos, o sucesso nas tabelas de vendas tornou-se na prova irrefutável de quanto ansiosamente aguardados são os álbuns dos TOOL — e do quanto importante isso é para alimentar todo o frenesim que se gera à sua volta sempre que lançam música nova.

E, depois, há a música propriamente dita, claro. Há, no centro instrumental do «Lateralus», um yin e um yang; uma dança de empurrar e puxar, de restringir e de soltar. Keenan, por seu lado, parece obcecado com a simetria e com a ideia de dois contrastes que trabalharam juntos como um só. O álbum começa com a «The Grudge», um rolo compressor de uma abertura que faz referência à mitologia romana, ao retorno de Saturno e à Árvore da Vida Cabalística. Let go” é o refrão repetido no final, um mantra que Keenan revisita ocasionalmente ao longo do álbum. Agora já não está a rezar para que ondas gigantescas afoguem os tolos. Desta vez, está à procura de respostas sobre a experiência humana, sobre o que nos divide e nos une, sobre o que podemos controlar e o que não podemos. Eventualmente, o álbum atinge o auge com o tema-título, na qual a banda usa a sequência de Fibonacci para ilustrar a simetria da vida, enquanto Keenan implora aos ouvintes para “abraçarem o aleatório.No final, podemos passar dias, até anos, a tentar perceber na totalidade o que nos estão a transmitir aqui — e é aqui que reside o verdadeiro segredo para o seu sucesso.