TOOL

TOOL: O «Ænima» foi editado há 27 anos

Cumprem-se hoje 27 anos desde que os TOOL mudaram o panorama da música pesada dos anos 90.

Something has to change, e talvez isso tenha mesmo acontecido a muitos dos que escutaram aqueles primeiros acordes de «Stinkfist». São catorze as faixas de «Æenima», álbum que faz hoje anos, tendo já passado a marca do quarto de século — na sua versão em vinil, pelo menos, uma vez que o CD só saiu a 1 de Outubro de 1996. Constant over-stimulation numbs me, afinal estava-se em 1996, desde 1991 que discos imensos caíam nos escaparates.

Depois do sucesso de «Nevermind», dos NIRVANA, assistimos a um desfilar de next big things, bandas para o cérebro. Com o «Undertow», de 1993, os TOOL entravam adentro no cenário do rock alternativo norte-americano. O disco chegou a platina, levou-os ao Lollapalooza e, na MTV, antigo canal de música, os vídeo-clips do grupo passavam regularmente. Com o «Æenima», foram mais longe. Muito mais longe.

Just not enough parecia ser o mote. O disco entrou directamente para o número dois da Billboard, foi triplo platina, ficou nas listas de melhores lançamentos do ano, venceu um Grammy e, hoje em dia, ainda é comum figurar entre os melhores 100 discos de metal de todos os tempos. A revista britânica Kerrang! considerou-o mesmo como o sexto disco mais influente de sempre.

Em cada músico de hoje, há certamente um antes e um após escutar «Æenima». Finger deep within the borderline é onde se acorda para o significado da letra do tema que abre o disco… Metafórica, soa algo sexual numa primeira abordagem. Fist fucking é o que surge na mente e que muitos celebram, mas a metáfora corre mais fundo, sendo na realidade uma forma de acordar o público eternamente dormente.

É um proverbial grito de raiva que, fisicamente, invade as entranhas de todos aqueles que precisam de uma wake up call. O lado bonito das metáforas é que podem penetrar na ignorância dos conservadores. Alguém imaginaria um vídeo-clip sobre “fist fucking” a rodar massivamente na televisão? Mesmo assim, alguns perceberam e rapidamente a MTV passou a chamar ao tema «Song #1».

I can help you change será talvez o fio condutor ao longo de todo o disco, até mesmo a spoken word em «Message To Harry Manback» se insere nesse espírito, conjugando a mensagem telefónica de um ex-hóspede de Maynard James Keenan. Tome-se o título do álbum e na contração de dois termos está a mensagem explícita. Anima”, que em latim significa, “alma”, e “Enema, processo médico que se destina a limpar os intestinos, após uma injecção de solução salina, via ânus.

No fundo, acordar e limpar a alma. Blend and balance, porque afinal «Æenima» não é só«Stinkfist» ou «Push It». Há imensas mensagens subliminares, por vezes escondidas até nos títulos mais inocentes. E depois há «Die Eier von Satan», que preguiçosamente se pode traduzir como os “Tomates de Satanás”. Depois dos TOOL, alguém é capaz de indicar mais que cinco grupos em que as letras mereçam ser lidas e interpretadas? Pois. Este é um dos maiores valores de «Æenima».

Knuckle deep inside the borderline, continua «Stinkfist». Os nós dos dedos já penetram, algo que poderá doer, mas a que o ouvinte se acostumará. E sim, o metal também se ajustou, porventura até demasiado, e nasceu para o século XXI após discos como este ou «Times And Grace», dos NEUROSIS, que provavelmente não existiria sem «Æenima».

There’s something kinda sad about, prossegue a letra. À primeira escuta, este é um disco que pode até soar depressivo. Porventura experimental, quer no industrial de «Die Eier von Satan», quer na forma como ironicamente combina melodias em «Message To Harry Manback», ou usa títulos para brincar com situações incontornáveis, «Useful Idiot» é apenas um ruído de agulha que marca o fim do primeiro lado do vinil. How can this mean anything to me, perguntará o fã de metal, habituado aos solos metricamente colocados, que espera um “vamos lá caralho” para se mover, ou que se compara à negritude das bandas? Pois, com discos como «Æenima», o metal ganhou uma inteligência que já não se sentia desde os anos 70.

A partir dos TOOL, tudo passou a ter outro sentido, ganhou dimensão e foi para lá da adrenalina e hormonas da juventude. I’ll keep digging, será porventura a melhor mensagem para quem apreciar «Æenima», mesmo que só o descubra 26 anos depois da sua edição. Nestas quase duas décadas e meia, muitos foram os nomes que exploraram o filão contido neste disco, e ainda hoje continuam a extrair ouro, mesmo que o mundo continue a precisar de um monumental fist fucking!