Foi a 4 de Janeiro de 1986 que Philip Parris Lynott, baixista e vocalista dos irlandeses THIN LIZZY, faleceu. A sua morte encerraria um ciclo de óbitos, iniciado em 80 e que, de certa forma, assinalou a passagem entre o som dos 70s e uma nova tendência, o metal dos anos 80. Lynott juntava-se assim a uma curta mas triste lista, iniciada por Bon Scott (dos AC/DC), John Bonham (dos LED ZEPPELIN) e Randy Rhoads (da banda a solo de Ozzy Osbourne). Na habitual roleta de ups and downs dos movimentos trendy da música, os THIN LIZZY, tal como os DEEP PURPLE, podem estar em baixa na popularidade, mas foram uma das bandas percursoras do conceito de twin lead guitar e das poucas no hard rock com letras dignas de serem apreciadas e interpretadas, muito graças à poesia de Lynott. A curta vida do roqueiro, levado pelos excessos aos 37 anos anos, foi recentemente alvo de uma abordagem documental em ‘Songs From While I’m Away’. Obra da autoria da também irlandesa Emer Reynolds, que recolheu declarações de vários baixistas, incluindo Adam Clayton, dos U2, bem como das filhas e viúva do artista, além de nomes como Scott Gorham, James Hetfield ou Midge Ure, membro não oficial do grupo entre 1979 e 1980. Um documentário que mostra o lado mais humano de uma estrela do rock, que também soube ter os seus momentos mais violentos e excessivos.
É esse mesmo documentário que agora surgiu numa anormal edição em que, a ele, se reúne um segundo DVD, com a actuação do grupo no término da digressão australiana do quarteto em 1978. Um terceiro disco contém apena so áudio do referido concerto. A actuação aqui apresentada, captada em Sydney, surge com novo footage, quase todo com menor qualidade visual, mas que muda bastante o sentido da edição original, antes disponível em VHS. A formação aqui presente é completamente atípica, com Mark Nauseef, vindo da IAN GILLAN BAND, a substituir, temporariamente Brian Downey. Nas guitarras, temos o habitual Scott Gorham e um Gary Moore claramente a ofuscá-lo, numa fase em que o norte-americano estava claramente em baixo no que à performance em palco diz respeito. Moore está completamente fora da sincronia no grupo, e com uma energia que o torna bem diferente da imagem de bluesman calmeirão a que nos habituou a partir dos anos 90. A edição que reúne o documentário e o concerto intitula-se apropriadamente ‘The Boys Are Back In Town (Live At The Sydney Opera House October 1978) / Songs For While I’m Away’ e é datada de 24 de Junho. Basicamente, é uma boa forma de se descobrir aquela que foi a primeira banda de sucesso saída da Irlanda e a vida de um dos mais carismáticos músicos dos anos 70.
O segundo título para rever Lynott, destina-se apenas aos mais acérrimos fãs. Nas listas de melhores discos ao vivo de sempre é regular encontrar «Live And Dangerous» no top 10. Registado com a formação mais reconhecida do colectivo, ou seja Lynott na voz e baixo, Downey na bateria, e, nas guitarras, Scott Gorham e Brian Robertson, com este último a sair pouco depois das gravações, vindo a integrar os MOTÖRHEAD uns anos depois. Inicialmente planeado como disco de estúdio, acabou como trabalho ao vivo, uma vez que o produtor Tony Visconti tinha pouco tempo livre. A sugestão para fazer um álbum ao vivo viria de Lynott e foram aproveitados diversos concertos, em Londres, Toronto e Filadélfia, num total de sete actuações. O disco esteve quase três meses no top 10 da tabela de vendas no Reino Unido, só não chegando ao número um porque a banda-sonora de ‘Saturday Night Fever’ se eternizava por lá. Acontece que, celebrando 45 anos deste trabalho tão icónico, a editora original, a Universal Music, vai lançar uma edição com oito discos, reunindo todos os concertos que serviram de base ao álbum, e que incluirá o já habitual livro com fotos raras e entrevistas a cargo de Mark Blake. O formato não é inédito, tendo já acontecido recolhas semelhantes com outros álbuns ao vivo também icónicos como são os casos de «Made In Japan», dos DEEP PURPLE, «No Sleep Til Hammersmith», dos MOTÖRHEAD, ou «Strangers In the Night», dos UFO, entre outros. A edição deste título está prevista para 20 de Janeiro e, seja por ‘Songs For While I’m Away’ ou por esta completíssima reedição de «Live And Dangerous», PHIL LYNOTT será, sem dúvida, bem recordado neste 4 de Janeiro de 2023.