Ainda não era hora de almoço e já alguns fãs começavam a juntar-se na Rua das Portas de Santo Atão para uma noite de metal puro e duro. Mesmo a essa hora, caminhar pelas imediações do Coliseu dos Recreios trazia já aquela nostalgia de outros tempos e que pensávamos perdida durante os dois anos de confinamentos e pandemia. De resto, ainda não era noite na rua e já os norte-americanos UNTO OTHERS estavam a subir ao palco para apresentar o seu mais recente disco, «Strenght», editado no ano passado. Apesar dos bons temas que a banda tem no alinhamento, e isso é indiscutível, a verdade é o rock/metal com tons góticos que praticam pareceu deslocado do restante cartaz, bem mais pesadão que aquilo que estes norte-americanos têm para oferecer. Os veteranos CARCASS, por seu lado, dispensam quaisquer apresentações. Com «Torn Ateries» na bagagem, parte dos 45 minutos que estiveram em palco serviram para tocarem alguns temas do mais recente disco, com destaque para «Kelly’s Meat Emporium», que foi interpretado logo a seguir a «Buried Dreams», do clássico «Heartwork». Aliás, esse acabou por ser o disco mais focado nesta ocasião, com três canções em destaque; além do supra-citado, ainda tocaram «This Mortal Coil» e, a fechar a actuação, o tema-título.É verdade que os 45 minutos que os britânicos estiveram em palco souberam a pouco, mas é sempre um prazer testemunhar a mestria de Bill Steer nas seis cordas.
Para muitos dos presentes, os BEHEMOTH deviam fechar a noite; para outros, estava bem assim. A verdade é que, no final, ninguém se queixou de quem tocou antes de quem, porque tanto os polacos como os ARCH ENEMY tiveram direito a exactamente o mesmo tempo de actuação. Com um pano branco de fundo, ouviu-se «Post-God Nirvana» com Nergal, de lanterna na mão, a criar um ambiente bastante eerie. Depois, com os primeiro acordes de «Ora Pro Nobis Lucifer» caiu finalmente o pano e os músicos mostraram-se em todo o seu esplendor. Os BEHEMOTH são uma das bandas mais profissionais em palco da actualidade e isso parece fazer alguma confusão a alguns fãs mais hardcore do black metal, mas isso são gostos – e não há como negar que assim uma prestação exemplar. Nergal comanda o público como poucos e, ao longo da actuação, vai acrescentando adereços quando as canções o exigem, como foi o caso da máscara em «The Deathless Sun» ou do solidéu em «Bartzabel». No baixo, Orion marca uma presença intimidadora, Inferno continua a tocar de forma exímia e, claro, Seth destaca-se com os seus solos e presença em palco, num daqueles casos em que se sente que todas as peças do puzzle estão nos sítios certo. A terminar, os fãs ainda tiveram direito a «Blow Your Trumpets Gabriel», «Versvs Christvs» e «Chant For Eschaton 2000».
As honras de encerramento ficaram então para os ARCH ENEMY, que exbiriam um backdrop antes do concerto que dizia basicamente tudo: PURE FUCKING METAL!. Pois bem, foi exctamente isso que serviram ao público neste dia quente de Outubro em Lisboa. A começar com «Deceiver, Deceiver», não deram tréguas. O foco esteve, como é habitual, na vocalista Alissa White-Gluz, que continua a revelar uma presença forte visualmente e a explorar aquele vozeirão de fazer inveja a muitos homens. Além do peso, a vertente melódica é trazida a palco pelos mestres Michael Amott e Jeff Loomis, que fizeram o gáudio dos fãs. Com novo disco às costas, a banda apresentou seis dos temas contidos no alinhamento aos fãs portugueses, com destaque para «Handshake In Hell», «In The Eye Of The Storm» e «Sunset Over The Empire», com os fãs a cantarem a melodia em uníssono incentivados por Alissa. A noite fechou ao som de «Nemesis» e, com «Fields Of Desolation» a ouvir-se, a banda despediu-se do Coliseu. No geral, foi uma noite de muito suor, mosh pit e trabalho árduo para os seguranças que, a partir da actuação dos CARCASS, não tiveram mãos a medir com as pessoas a voaram por cima da barreira. E sim, esta noite de PURE FUCKING METAL! serviu para limpar a alma.