TEMPESTADE TROPICAL: Estreia do novo vídeo-clip dos APHORISM [entrevista]

Mesmo após ter lançado um dos melhores discos do metal brasileiro de 2018, o intenso O Grotesco e o Desespero, que não por acaso apareceu no nosso top 10 do ano passado, o Aphorism não diminuiu a marcha em 2019. Tanto que a banda de Salvador, na Bahia, responsável por uma mistura extremamente violenta e irretocável de death metal, grindcore e crust, está prestes a soltar seu segundo trabalho nesta temporada, depois do ótimo split com o Rabujos, lançado no último mês de maio. Trata-se do single Penumbra (capa abaixo), música curta e direta, como costuma ser o melhor dos mundos neste casamento de subgêneros, cujo vídeo-clip estreia com exclusividade nesta quarta-feira, 27/11, aqui na Loud. Confira abaixo o novo vídeo, feito por Ricardo Pinheiro (Ganso) e também uma entrevista com a banda, que chegou recentemente à marca de 10 anos de estrada!

O Aphorism completou uma década de carreira em 2018, mas o primeiro full acabou saindo há pouco tempo, apenas em 2015. Por que esse tempo todo entre a formação da banda e o primeiro lançamento full?

Aphorism: A banda sempre passou por algumas instabilidades, como mudanças na formação e só a partir de 2014, com a entrada de Marcelo, que nós sentamos, conversamos e decidimos nos organizar. Estabelecemos uma rotina de ensaios, de composição e nos dedicamos a fazer as coisas andarem. Houve uma mudança na forma que encarávamos a banda e, hoje, sempre estamos discutindo o que faremos a seguir.

Ainda sobre isso, a impressão é que a banda está em seu melhor momento atualmente, em ritmo altíssimo, tanto em termos de velocidade quanto de qualidade, com o segundo full, que saiu ano passado (O Grotesco e o Desespero), o split com o Rabujos neste ano, além do single que estão lançando agora (“Penumbra”). Concorda com isso? E houve algum fator específico que tenha ajudado a banda neste sentido?

Aphorism: Sim, também sentimos que estamos num ritmo muito bom e acredito que o fato de termos encontrado uma estabilidade nesses últimos 4 anos ajudou muito nisso. Sentimos que estamos cada vez mais integrados enquanto banda, conhecendo melhor nossas qualidades, nossas limitações e tentando extrair o melhor dessa união de cinco pessoas tão diferentes. O Grotesco e o Split aparecem como resultado desse processo e esperamos, mesmo reconhecendo que é difícil, continuar mantendo esse ritmo. 

Novo vídeo dos Aphorism, que estreia com exclusividade na Loud!

Agora sobre o single novo, Penumbra. Qual a história por trás desse som, ele foi feito depois do lançamento do full e do split e foi criado na mesma época e apenas lançado agora, de forma separada?

Aphorism: Penumbra foi composta e gravada no mesmo período das músicas do split. Já era uma música que vínhamos tocando ao vivo e quando estávamos fechando as faixas do split ela estava sobrando, aí decidimos gravá-la também, pensando em lançar com um clipe agora no segundo semestre de 2019. 

O Aphorism é uma banda de Salvador, na Bahia. Por isso, queria saber como vê a cena local e também de outros estados próximos? Além do Rabujos, com quem lançaram o split há pouco, há outros nomes com quem sentem uma maior afinidade, tanto em termos sonoros quanto no modo de pensar as coisas?

Aphorism: Podemos dizer que estamos vivendo um bom momento aqui em Salvador. Temos uma frequência boa de eventos acontecendo, com diversas bandas de excelente qualidade e até uma boa quantidade de locais para tocar, se compararmos com algum tempo atrás. No interior da Bahia também temos um bom movimento de bandas se mexendo e fazendo as coisas acontecerem. Por aqui encontramos afinidade com bandas de distintos estilos, do punk ao metal e poderíamos citar algumas como: Heretic Execution, Orelha Seca, God Funeral, Kalmia, Äplästar, Mácula, Malefactor, Rottenbroth, Antiprofeta, Infected Cells, Motim 13, Act of Revenge, Jacau.

No que diz respeito a estados próximos, tocamos algumas vezes em Sergipe, Alagoas, Pernambuco e percebemos que cada cena possui suas particularidades e dificuldades, mas o que sempre encontramos em comum é o pessoal na mesma correria, buscando manter as coisas vivas e andando. Em termos de bandas, poderíamos citar: Karne Krua (SE), Ruína (PE), Visão Mórbida (PE), Mennarca (PE), Deuszebul (RN), Siege of Hate (CE), Echoes of Death (CE)…

Aliás, falando sobre a cena nacional, é fato que o underground do país, nos seus mais diversos estilos e subgêneros ligados ao metal e ao hardcore, vem vivendo na última década um momento muito bom, com bandas em altíssimo nível por todo o país, com muitas sendo inclusive reconhecidas fora daqui, e uma variedade de festivais underground meio que ligando tudo isso nacionalmente, trazendo um sentimento de unidade (Exhale the Sound, Black Embers, Metalpunk Overkill, entre muitos outros). Sei que é uma questão ampla, mas queria saber como veem isso. Pensam que há um ou mais fatores específicos que podem ter contribuído para termos uma leva tão boa de bandas ao mesmo tempo no país – expansão da Internet, bom momento econômico do país, principalmente entre 2002 e 2014, amadurecimento natural das bandas?

Aphorism: Não acreditamos que exista um fator específico, até por que as vivências e oportunidades são bem distintas em um país tão grande e desigual como o nosso. O momento realmente é muito bom, com uma grande quantidade de excelentes bandas em todo o país, mas entendemos que sempre tivemos bandas muito boas no underground brasileiro, mas que nem sempre o acesso foi tão simples e prático quanto agora. É inegável que a expansão da internet acabou facilitando o acesso a muitas dessas bandas, principalmente num país continental como o nosso. Hoje é mais fácil conhecer, entrar em contato e trocar ideia com bandas, selos, festivais, então a informação circula de forma muito mais rápida e em abundância. E uma coisa vai se conectando a outra, levando a essa unidade e à formação de uma cena realmente nacional. Sentimos de perto esse sentimento de unidade tocando com bandas de diversas regiões no Black Embers e no Metalpunk Overkill e foram sempre experiências enriquecedoras pra gente, desde o contato com as bandas, até os organizadores e o público. Essa troca de experiências também é muito importante, contribui para o amadurecimento das bandas e permite que tenhamos uma cena sempre em evolução. 

Sempre gosto de perguntar essa. Por favor, me digam três discos que mudaram a vida de vocês (de cada um) e por que eles fizeram isso.

Paulo: Napalm Death – From Enslavement to Obliteration: acredito que foi meu primeiro contato com a música extrema.

Brutal Truth – Extreme Conditions Demand Extreme Responses: um dos discos que mais escutei na minha adolescência.

Discharge – Hear Nothing See Nothing Say Nothing: motivou-me a buscar e conhecer muito mais coisa do punk, hardcore até o crust.

Rafael: Rotten Sound – Murderworks: pra mim é o melhor álbum de uma das bandas que mais gosto. Provavelmente o que mais ouvi na vida.

Nasum – Helvete: me rendeu um amor pelo álbum por conta da raiva que senti quando percebi que o cara que lavou meu carro tirou o CD do som e colocou um outro para que ele ouvisse enquanto lavava e nunca mais destrocou. Fiquei só com a capa do CD até comprar depois em vinil, enquanto ouvi um período por MP3.

Regurgitate – Deviant: nunca tive esse álbum fisicamente, mas animou muito meus anos 2000, época em que eu estava mais fechado ouvindo só grind.

Marcelo: Converge – Jane Doe: penso que foi um divisor de águas. Lembro que tinha um CD-R vermelho dele. Os arranjos, os timbres, as execuções, a urgência, enfim, a produção em geral… Tudo estava, daquela maneira incomum, no seu devido lugar. Um álbum que influenciou muita gente, sem sombra de dúvidas, e comigo não foi diferente.

Disrupt – Unrest: provavelmente minha porta de entrada no crust punk. Comi esse disco com farinha – como dizemos aqui. Achava ignorante pra caralho. É seguramente um dos álbuns que, para mim, tem maior relevância dentro do estilo.

Life is a Lie – Life is a Lie: parecia que havia uma atmosfera genuinamente sombria em torno deste disco. As canções, textos e arte/projeto gráfico operavam em perfeita sintonia. Existia essa conexão entre o hardcore e o black metal mais extremos, não num sentido apenas musical, mas também lírico e estético, que acabava soando natural. Eram peças que, à maneira como se encaixavam, vindas de uma banda nacional dentro de um contexto provavelmente mais punk do que metal, significavam algo novo pra mim à época e que eu achava muito curioso/interessante.

https://www.youtube.com/watch?v=fdYKpMUUKj4

Felipe: Nirvana – MTV Unplugged in New York: foi como conheci o rock e me interessei em aprender a tocar um instrumento.

Mastodon – Blood Mountain: já conhecia o Mastodon, mas quando o álbum foi lançado me tornei fã e passei a escutar bandas com influências mais progressivas.

Kyuss – Blues for the Red Sun: sei lá, escutei pra caralho, então vale a menção.

Filipe: Slipknot – Slipknot: até conhecer o Slipknot, os sons mais pesados ainda não estavam no meu radar. Conheci em 99, no ano de lançamento. Encomendei o CD em uma loja de discos de metal que tinha em Salvador e ele só chegou meses depois. Pirava muito no conceito estético da parada e Joey Jordison é uma tremenda influência na batera pra mim até hoje!

Between the Buried and Me – Between the Buried and Me: apesar de ter tocado quase sempre em bandas de rock e metal, na hora de ouvir eu sempre gostei de misturar muita coisa. E quando ouvi BTBAM pela primeira vez foi incrível, justamente por essa mistura louca. Não apenas nos padrões dos riffs, como também pelas influências diversas que rolam nesse CD. As linhas de batera desse álbum me ajudaram muito a criar um estilo também.

Toe – The Book About My Idle Plot on a vague Anxiety: um amigo me apresentou essa banda japonesa dizendo que eu ia gostar do batera (a essa altura já deu pra notar que as linhas de batera pesam bastante nas minhas preferências), e eu conheci por esse CD. Acho que esse é o tipo de som que é difícil desagradar alguém. É uma parada bem carregada de expressão, que me emociona bastante. O show deles que vi em São Paulo tá no meu Top 3 da vida.

Como dito no início, o Aphorism já tem mais de 10 anos de carreira. Do que vocês têm mais orgulho neste tempo?

Aphorism: Acredito que o fato de continuarmos nessa há 10 anos, produzindo, seguindo empolgados com a banda, mantendo nossa identidade, reforçando nossas convicções, permanecendo como um contraponto a essa onda conservadora e fascista que assola o país é algo que nos orgulha.

Para terminar, quais os próximos passos da banda para 2020 e 2021?

Aphorism: A ideia é continuar tocando por aí e, paralelamente, trabalhando em material novo. Já estamos com música nova e, quem sabe, podemos ter algumas novidades ainda em 2020. Estamos também tentando viabilizar uma tour fora do país em 2021, buscando casar nossas agendas pra fazer isso acontecer.