ESPECIAL SWR 22:
THE BLACK DAHLIA MURDER [entrevista]

Não interessados em ficar presos a um passado, a todos os níveis, digno de aplausos, os THE BLACK DAHLIA MURDER nunca recusam novos desafios. Uma importante mudança de formação depois e uns escassos dois anos após «Abysmal», a banda mutante liderada pela dupla Trevor Strnad voz e Brian Eschbach na guitarra, os dois únicos elementos que sobram da formação original, apresentou-se mais forte que nunca na novidade «Nightbringers». O álbum, um petardo de death/thrash, revela uma faceta mais melódica e versátil, como nos explicou o vocalista da banda.

Passaram-se apenas dois anos desde que gravaram o «Abysmal». Vocês nunca param?
Nunca! Foi, de resto, o plano que delineámos quando surgiu a oportunidade de assinar o contrato com a Metal Blade. Nessa altura, tanto eu como o Brian [Eschbach, guitarrista], que somos os únicos elementos sobreviventes da formação original, decidimos que íamos apostar tudo nisto. Sabíamos que seria uma oportunidade num milhão, por isso não havia outra opção a não ser agarrá-la com unhas e dentes, tínhamos de fazer isto funcionar, nem que tivéssemos de levar as coisas às últimas consequências. E pronto, é isso que temos vindo a fazer, trabalhando o máximo possível para fazer chegar a música à maior fatia possível de público. Fazemos digressões a cada oportunidade, tentamos estar sempre presentes, mantemos os fãs interessados, gravamos com regularidade e, pelos vistos, este método tem resultado, porque todo o esforço árduo tem dado frutos. Também ajudou que tivéssemos feito as escolhas certas deste cedo, claro.

Pode dizer-se que estiveram “no sítio certo, à hora certa”?
Sem dúvida! E ganhámos muito, sobretudo, com o facto de sermos esta banda estranha no sítio e na altura certa. A verdade é que nunca encaixámos numa cena e acho que isso ajudou. Tenham sido os meus óculos, o facto de termos todos cabelo curto quando aparecemos… Mas a verdade é que as pessoas não sabiam bem o que éramos e isso ajudou-nos a destacarmo-nos. Chamaram-nos de tudo… Primeiro era metalcore, depois já era deathcore. Eu não percebia porque raio não nos rotulavam apenas como death metal, mas às tantas vi que isso nos permitiu transcender as fronteiras do estilo e ganhámos imenso. Hoje em dia, nos concertos, o público é muito diverso – dos miúdos hardcore ao pessoal do death metal, gente com cabelo comprido ou curto, mais velhos ou novos. A mim pouco interessa em que “caixa” nos metem, desde que apareçam. Até porque é isso que nos permite continuarmos a fazer o que fazemos.

Sempre a crescer.
Felizmente, sim. Desde o início começámos logo por pensar à escala global. Sempre quisemos ser conhecidos nos Estados Unidos, claro, mas também mais além. A pre-order deste disco ultrapassou todos os recordes, nenhuma banda na história da Metal Blade alguma vez tinha vendido tantas cópias de um álbum antes da data de edição… O novo guitarrista está a ser bem recebido e as pessoas parecem legitimamente entusiasmadas em relação à banda. Os astros parecem estar todos alinhados para, se tudo correr bem, darmos outro passo em frente com o novo disco.

Que, sem fugir à fórmula que estabeleceram, denota novidades.
Sim, tentamos não nos repetir demasiado. Temos, logicamente, a preocupação de manter a nossa identidade intacta, de querer que as pessoas percebam de imediato que nos estão a ouvir quando mostramos um tema novo, mas dentro desse ballpark há sempre coisas que podemos fazer de forma diferente. Tivemos uma sorte do caraças com o Brandon [Ellis], porque além de ser um instrumentista exímio, veio trazer um outro entusiasmo ao grupo. Ele é mais novo que todos nós e isto ainda é tudo novidade para ele. É óbvio que tinha tocado com uma série de outras bandas, mas nunca tinha – por exemplo – gravado músicas dele para um disco. E, para o «Nightbringers», contribuiu com duas ou três… Foi engraçado, porque ninguém estava à espera que ele contribuísse, mas chegou-se à frente e apareceu com ideias que não nos podíamos arriscar a não aproveitar. O Brandon gosta muito de música extrema, mas a paleta de influências dele é um pouco mais vasta que a nossa, o que acabou por dar outras texturas à nossa música. Isso, claro, acabou mesmo por dar origem ao registo mais dinâmico, e provavelmente mais melódico, que já fizemos.

A noite tem sido, ao longo dos anos, um tema recorrente nas tuas letras. O que te atrai tanto nesse período em que o sol não está a brilhar?
Eu gosto de contar histórias, gosto muito deste formato – os Cannibal Corpse criaram esta cena toda. Adoro ter só três ou quatro minutos para criar uma narrativa com princípio, meio e fim. Podem ser só pequenas Tales From The Crypt, mas não podem ser só gore porque a internet levou todo o shock value que o death metal tinha… Aos seis anos um miúdo já viu gore a rodos e qualquer adolescente sabe o que é poop porn, por isso tento não ir sequer por aí. Opto por criar um terror mais misterioso, psicológico. E, sim, nesse sentido a noite sempre foi uma enorme fonte de inspiração. O metal… Nós somos vilões, man! Os metalheads são vilões da sociedade, abraçam o mal e ainda se riem na cara do diabo. À noite abraço esse meu lado mais negro, e posso celebrá-lo.

O «Nocturnal» é dos discos favoritos da vossa base de fãs. Como te soa hoje?
Continuo a adorá-lo e os únicos problemas que lhe vejo estão relacionados com a minha prestação pessoal. Basicamente, gostava de ter cantado certas partes de forma diferente, de ter usado outros padrões vocais, mas… É mesmo assim e não há nada que possa fazer agora. Cada disco deve ser um reflexo do comprimento de onda em que estamos quando o gravamos. E sim, não há como disputar que é um favorito entre os nossos fãs.

O que o torna assim tão especial?
Acho que acaba por ser uma confluência de factores, na verdade. Por um lado, foi o nosso primeiro álbum que muita gente ouviu e, por outro, estávamos a aperfeiçoar a fórmula e a atingir “o ponto de rebuçado”. O disco, no geral, é muito equilibrado e está tudo no ponto, não há ali nada fora do sítio. Começámos a usar o Pro-Tools durante o processo de escrita do «Nocturnal» e os temas foram todos construídos com princípio, meio e fim. Foi tudo bem pensado, o que nos permitiu dar um salto enorme em termos de composição. Depois a capa, os singles e as digressões que conseguimos fazer na altura – a Summer Slaughter, há dez anos, foi uma oportunidade incrível – ajudaram a cimentá-lo como um ponto de viragem na nossa carreira.