Entre memórias dolorosas e a força da criação, os sobreviventes dos SOUNDGARDEN avançam no registo póstumo com Chris Cornell.
O último capítulo da história dos SOUNDGARDEN começa, finalmente, a ganhar forma. Após anos de silêncio, de disputas legais e incertezas em torno do futuro do material gravado com Chris Cornell, o baterista Matt Cameron revelou que o álbum final da banda está “definitivamente mais de meio pronto”. A notícia surge num momento simbólico, às vésperas da entrada do grupo no Rock & Roll Hall Of Fame, numa cerimónia que decorre a 8 de Novembro deste ano.
Numa nova entrevista à Billboard, Cameron explicou que o guitarrista Kim Thayil se encontra a ultimar as suas partes, um processo que descreve como meticuloso: “O Kim está a terminar as guitarras; ele quer ter a certeza de que ficam exactamente como deseja.” O músico sublinhou, contudo, que não haverá material disponível a tempo da cerimónia. “Não há ainda uma data definida de lançamento. Pensou-se em lançar um single, mas decidimos que queremos primeiro completar o álbum por inteiro antes de mostrar alguma coisa. Estou entusiasmado para que as pessoas o oiçam.”
Como é óbvio, o sucessor do mais recente álbum dos SOUNDGARDEN, «King Animal», editado em 2012, carrega inevitavelmente um peso emocional único. Matt Cameron admitiu que ouvir novamente a voz de Cornell tem sido devastador e inspirador em simultâneo: “É uma montanha-russa de emoções. Traz picos altíssimos e baixos extremos, porque tudo nos leva de volta ao facto de ele já não estar connosco, e de nos ter deixado de uma forma que ainda levanta tantas questões. Tem sido dilacerante, mas ao mesmo tempo muito fortalecedor.”
Esse sentimento é partilhado pelo baixista Ben Shepherd, publicou um testemunho emocionado sobre o processo de revisitar o legado de Cornell em Maio: “Ouvir, como fã e como membro dos Soundgarden, um ou dois temas que o Chris trouxe há alguns anos transformarem-se diante dos meus olhos e dos meus dedos em canções completas dos Soundgarden é como sentir um glaciar a desabar do peito. Todos temos muito trabalho pela frente nesta vida… mas cada um de nós está a dar o seu melhor. Chris, estás aqui connosco. Todos sentimos a tua falta, irmão, vemos-te quando chegar a hora.”
A criação deste derradeiro álbum dos SOUNDGARDEN tem estado envolta em várias dificuldades desde a morte de Cornell, em 2017. Durante anos, a banda esteve em disputa legal com Vicky Cornell, viúva do cantor, relativamente ao acesso e utilização das gravações vocais deixadas pelo músico. Só recentemente foi possível desbloquear o processo e avançar de forma concreta para a conclusão do registo. Seja qual for a data de lançamento, este álbum promete tornar-se um documento histórico para o rock.
Para os fãs, a expectativa cresce na mesma medida em que a ferida da ausência permanece aberta. Tal como os próprios SOUNDGARDEN, entre dor e perseverança, resta-lhes manter vivo o som de Chris Cornell — não apenas como memória, mas como presença palpável no que será o seu derradeiro grito artístico.















