Os SOUL GLO estrearam-se finalmente em Portugal e deixaram a Galeria Zé dos Bois num assombro. Apresentaram-se na sala lisboeta com os nacionais HETTA como suporte, numa noite que certamente ficará marcada na memória de todos quanto esgotaram a casa. Directamente do Montijo, os músicos nacionais abriram as hostilidades desta noite vulcânica com a sua música rápida e caótica, algures entre o screamo, o noise e o mathcore. O EP de estreiado grupo, intitulado «Headlights», foi gravado por Leonardo Bindilatti e Miguel Abras e lançado em 2022, e desde então rapidamente provaram que a sua performance ao vivo está a um nível bastante acima daquilo que seria normal dado o tempo de vida da banda, destacando-se a presença peculiar do vocalista Alex Domingos. A explosão de energia que se seguiu assim que subiram ao palco foi notável, tendo sido superada apenas quando tocaram um tema com a participação de Pedro Barreiros dos ClericBeast, também eles do Montijo. Deixaram sem fôlego o público presente, fazendo subir ainda mais a ansiedade para presenciarmos finalmente a estreia dos norte-americanos em solo nacional.
O quarto disco da banda da Pensilvânia, «Diaspora Problems» – e primeiro pela mão da já mítica Epitaph – foi amplamente elogiado pela crítica e considerado um dos melhores lançamentos de 2022 por diversos críticos, alcançando posições altas nas listas de melhores de ano da Pitchfork e Kerrang!, entre outras publicações. É um disco notável por várias razões — principalmente por dar voz a todo um movimento cultural tão importante como o black power. Musicalmente, a banda consegue sair das restrições do punk e do hardcore sem nunca sacrificar a sua essência. Trata-se, portanto, de uma proposta absolutamente contra corrente e com um sentido de humor bastante sarcástico, com uma mensagem poderosa, abordando questões variadas como raciais e de género. Todo o conteúdo lírico é fundido numa onda de guitarras e ruídos densos. Ao vivo, inevitavelmente, as subtilezas são mais achatadas. As palavras do vocalista Pierce Jordan são em grande parte indecifráveis, e todo o concerto — que não passa da meia hora no total — decorre como um borrão de energia descontrolada e em absoluta desordem, à qual é impossível ficar indiferente. Não faltaram temas como «Jump!! (Or Get Jumped!!!)((by the future))» ou «Gold Chain Punk (whogonbeatmyass?)» nesta noite de festa em que todos se juntaram no caos, em comunhão e boa disposição.
FOTOS: Solange Bonifácio