A 28 de Agosto de 2001, os SLIPKNOT lançaram um inegável clássico contemporâneo da música extrema.
Mais de duas décadas depois, o «Iowa» continua a não ser apenas um disco importante, mas sim verdadeiro marco de carreira para os SLIPKNOT e um avassalador de arranque para a música pesada do século XXI. As memórias deste disco remontam a 17 de Maio de 2001. Lisboa. Pavilhão Atlântico. Pela primeira vez a banda do estado norte-americano do Iowa actuava em Portugal. Foi também o primeiro concerto do grupo numa digressão que já antecipava a edição de «Iowa», meses mais tarde.
De catorze temas, executados naquela noite, quatro eram estreias mundiais. E foi logo no arranque que tudo começou, com todo um pavilhão a escutar «People = Shit». Por alguma razão muita imprensa europeia tinha feito voar correspondentes para Lisboa. Provavelmente, terá sido apenas dos melhores concertos que passaram por aquele pavilhão. Apenas.
«Iowa» editava-se a 28 de Agosto de 2001. Fazer um segundo álbum nunca é fácil. Fazer um sucessor à altura do disco homónimo de 1999, era complicado. Superá-lo seria inesperado e quase impossível. Os nove palhaços do Iowa e Ross Robinson conseguiram a última opção, criando um disco monstruoso, que só não foi maior porque a história se viria a cruzar com o grupo.
Apesar da melodia do coro de uma «My Plague», por exemplo, «Iowa» é o álbum mais extremo do grupo e, para muitos, nunca foi superado pelo que veio a seguir, seja ao vivo, ou em estúdio. Na altura, o sucesso prévio tinha criado uma pressão que quase desfez os SLIPKNOT. As tensões internas levaram a que o guitarrista Jim Root apenas participasse em dois temas, por exemplo. Talvez por isso a palavra “fuck” apareça 38 vezes. Recordar que este era um disco destinado aos tops e a receber bastante airplay na rádio e tv.
Reza a lenda que Corey Taylor (que afirmou recentemente que quando se trata de música e arte, o grupo sempre fez o que quer) se cortou em estúdio, para poder cantar com mais intensidade. Drogas e álcool também tiveram a sua quota parte na produção de um disco feito de raiva. Interna e externa, no caso dos SLIPKNOT. Apesar de a editora ainda ter hesitado lançá-lo, este chegou a terceiro lugar no top de vendas. Provavelmente o mais pesado a ter conseguido o feito.
E se o trabalho não escalou mais alto, foi porque dias depois acontecia o 11 de Setembro. De repente tudo parava, a imprensa focava-se no drama das Torres Gémeas e o impulso de «Iowa» acabava cortado, antes de atingir o seu máximo. A raiva de «Iowa», por si já extrema, acabava a explodir no momento errado. Os SLIPKNOT acabam censurados, e a MTV praticamente não passou os seus vídeos.
A capa original representava um bode negro, e mais tarde acabou a ser substituída por uma fotografia mais subtil, mesmo assim agressiva, mas não tão perceptível. Idealizada por Clown, o bode chama-se Eeyore, e faz a ligação ao anterior álbum, e à faixa «Scissors». Assumida pelo próprio como “contendo diversas metáforas”. A intro «515» é perturbadora o suficiente para preparar o ouvinte para o carrossel sonoro que se segue. 515 é o código postal de Iowa, note-se.
Segue-se «People = Shit», ainda hoje um dos melhores e mais emblemáticos temas do grupo, e daí em frente blastbeats chocam com guitarras de death metal e scratch, enquanto coros berram mensagens não tão subliminares. «Disasterpiece», «My Plague», «The Heretic Anthem», «Left Behind», foram apenas alguns dos mísseis sonoros libertados com o disco. A destruição viria nos meses seguintes e ficava registada em «Disasterpieces», de 2002. A banda sonora para o caos afinal tinha saído dias antes deste acontecer.