Aqui, recordamos a última passagem dos SLAYER por Portugal. Quem esteve lá para testemunhar a despedida?
Os incontornáveis SLAYER, indiscutivelmente os mais confiáveis porta-estandartes do puro thrash – intransigente, violento e perturbador por excelência – passaram o ano de 2019 a tocar pelo mundo naquela que foi a sua digressão de despedida, colocando assim um ponto final numa carreira que dura há quase quatro décadas. Por cá, os músicos californianos disseram “adeus” ao público português no segundo dia da edição de 2019 do VOA – Heavy Rock Festival.
Como muitos de devem recordar, inicialmente anunciado para o Estádio do Restelo, o evento acabou por realizar-se, por questões de segurança, na Altice Arena, que registou lotação praticamente esgotada para receber pela última vez aquela que é uma das mais lendárias e influentes bandas de sempre no espectro da música pesada. Convenhamos, não há grande volta a dar – os SLAYER são, e serão sempre, mais que apenas uma banda.
Os SLAYER são o alfa e o ómega, o começo e o fim do que é a música rápida e violenta, que não faz prisioneiros. Os SLAYER são, feitas todas as contas de somar e dividir, a mais pura representação do que é um som verdadeiramente extremo. Do LP de estreia «Show No Mercy», através de marcos como «Hell Awaits», «Reign In Blood», «South Of Heaven» e «Seasons In The Abyss», passando pelos mais recentes «God Hates Us All», «World Painted Blood» e «Repentless», o grupo encabeçado por Araya e King tem sido uma constante na vida de todos os que têm um interesse, por ligeiro que seja, na música pesada e, pelo caminho, transformaram-se num estilo de vida para muita gente.
Não é, por isso, estranho que esta derradeira passagem por Portugal tenha sido recebida de forma tão efusiva, com a antecipação a tornar-se palpável no ar à medida que o dia e o cartaz do segundo dia do VOA foram avançando, com actuações irrepreensíveis dos nacionais WAKO e Moonspell, dos franceses Gojira e dos norte-americanos Lamb Of God. Exactamente às 23:00 ouviram-se então os acordes iniciais de «Delusions Of Saviour» e surgiu projectado num enorme pano negro o icónico logótipo do grupo, provocando os já habituais gritos de “SLAAAYYEEER!!!” pelo recinto.
Com o cair desse pano o quarteto atacou de imediato, e sem qualquer piedade, «Repentless», que serviu de mote para 90 minutos de ultra brutalidade sónica, sem grandes pausas ou comunicação que não fosse apenas a essencial entre os músicos e a plateia. A partir desse momento, fez-se história na Altice Arena. Fogo, muito fogo, que ia saindo por detrás dos amplificadores, com o baterista Paul Bostaph a sentir de perto o calor expelido ao longo de grande parte das canções tocadas.
Com um alinhamento feito dos clássicos que toda a gente queria ouvir, mas que também incluiu alguns temas mais profundos da discografia do grupo, os SLAYER despediram-se dos fãs portugueses com uma actuação económica, mas incisiva q.b., provando que – apesar das enormes torres de fogo – entre eles e os fãs, a música sempre falou muito mais alto que tudo o resto. A recta final, sempre em crescendo de intensidade, com o grupo a interpretar de seguida as incontornáveis «Seasons In The Abyss», «Raining Blood» e «Angel Of Death», provocou um verdadeiro frenesim de corpos na plateia.
No entanto, o momento mais tocante acabou por ser mesmo aquele em que, já sozinho no palco, Tom Araya esteve uns minutos a contemplar silenciosamente o público, num misto de alegria e tristeza, como que a tirar uma fotografia mental da moldura humana que tinha à frente, antes de se dirigir ao microfone e se despedir com um tímido, mas sentido, “I’ll miss you guys. Adeus… Ciao!”. Verdade seja dita, se esta foi mesmo a última vez que os vimos, nós também já estamos todos com saudades.