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«Christ Illusion», o melhor álbum dos SLAYER desde «Seasons In The Abyss»?

A 8 de Agosto de 2006, os SLAYER lançaram o seu primeiro álbum com Dave Lombardo em 16 anos e assinaram um proverbial regresso à forma dos seus anos áureos.

É certo e sabido que, mesmo no seio de um grupo com interesses em comum, as opiniões tendem quase sempre a dividir-se quando chega a hora de discutir quais as bandas mais importantes de uma época. No entanto, serão poucos aqueles que se atrevem a questionar a relevância de uma banda como os SLAYER – ou o impacto de discos como «Reign In Blood», «South Of Heaven» ou «Seasons In The Abyss».

Tom Araya, Kerry King, Jeff Hanneman e Dave Lombardo, mesmo nos períodos em que esteve afastado do grupo, foram, durante mais de três décadas, os proverbiais porta-estandartes de tudo o que é hoje o som extremo.

Quando os SLAYER editaram o terceiro álbum de estúdio, o influente «Reign In Blood», a 7 de Outubro de 1986, já tinham gravado outros dois discos muito promissores, mas foi nesse preciso momento que se transformaram na lenda que são hoje. Pelo caminho, influenciaram tudo, ou quase tudo, o que foi feito em termos de música pesada desde então. Uma boa prova disso é que, tanto tempo depois, o álbum de 1986 continua a carregar o mesmo apelo animal que deixou tanta gente de queixo caído quando foi lançado.

É claro que, ao longo dos anos, muitos foram os músicos que tentaram recriar o génio e a perfeição contidos naquela contundente coleção de dez temas, mas nunca ninguém conseguiu chegar lá. E isso não é exactamente estranho; os próprios músicos perceberam rapidamente que nem valia a pena tentar e, no disco seguinte, o «South Of Heaven», trataram de colocar o pé no travão. Mesmo assim, nunca conseguiram realmente sair debaixo de uma sombra tão avassaladora.

No «Christ Illusion», o primeiro disco a materializar uma reunião da formação original em estúdio desde o muitíssimo equilibrado «Seasons In The Abyss», estiveram, no entanto, perto de consegui-lo. Com o Sr. Lombardo novamente sentado no kit de bateria, os SLAYER colocaram-se de volta no limite, forçando-se a si próprios e ao thrash a olhar para onde já tinham estado e para onde poderiam ir. Verdade seja dita, o grupo californiano nunca fez grandes concessões ao longo da sua carreira, mas neste disco recusaram-se a soar como algo que não fossem eles mesmos.

O que temos aqui, depois das experiências no universo do groove que dominaram os dois LPs anteriores — o «Diabolus In Musica» e o «God Hates Us All», de 1998 e 2001, respectivamnete é puro extremismo sonoro furioso e inovador, que funde thrash, hardcore punk e pitadas de heavy metal com uma mestria dos Diabos; o que, feitas as contas, foi exactamente que os tornou uma lufada de ar fresco em primeiro lugar.

No geral, sente-se um verdadeiro retorno ao longo do «Christ Illusion», um registo em que o quarteto soa como se visasse novamente a grandeza. A arte da capa, por exemplo, cortesia do talentoso Larry Carroll, pisca olhoao traço inconfundível da tríade «Reign In Blood»/«South Of Heaven»/«Seasons In The Abyss», de uma forma muito inteligente e, verdade seja dita, não há por aqui um único ponto baixo, com a «Skeleton Christ» a realizar finalmente todo o potencial do «Diabolus In Musica» e a «Catatonic» afirmar-se como uma descarga extremamente subestimada, quiçá uma das melhores faixas lentas que o Kerry King escreveu para os SLAYER.

De resto, ao longo de 39 minutos, os quatro músicos rasgam dez temas construídos à base de mudanças rítmicas cuspidas à velocidade da luz, riffs muito inventivos, breakdowns doentios, solos alucinantes e letras tão sombrias e implacavelmente distorcidas que reflectem uma intensidade que, por muitas voltas que se possam dar ao assunto, era indiscutivelmente só deles. Centrado no mito perverso da religião e da sua responsabilidade em tantas guerras conduzidas ao longo dos séculos, com foco na eterna luta cultural entre os dois mitos eternamente concorrentes, cristianismo e islamismo, este é um daqueles discos que continua tão actual como quando foi lançado originalmente.