Tocar a «God Save The Queen» num barco, em frente ao Parlamento Britânico, no dia do Jubileu de Prata da monarca britânica, pode não ter sido a melhor ideia. Este foi o momento em que os SEX PISTOLS enfureceram a Rainha Elizabeth II.
No RETROVISOR de hoje não se olha para um tema. Olha-se antes para um concerto, curto. Para uma atitude. Para os SEX PISTOLS. Apontem-se os dedos, acuse-se de serem forjados. Elogie-se o colectivo, cuspa-se nele. Fale-se no proto punk dos NEW YORK DOLLS ou dos MC5. Refira-se os THE CLASH ou os RAMONES. Nada interessa. Os SEX PISTOLS são o alfinete cravado no blusão do rock. Haverá sempre um antes e um depois deles.
O hedonismo entre quatro paredes das rock stars, desce à rua e cruza-se com o niilismo e anarquismo do punk! As convenções são desmontadas, um mundo que se levava a sério, deixa de existir. O punk toma tudo de assalto. Sem ele, o universo do DIY não existia, o rock ganha outro poder de intervenção e acção que vai para lá da contestação moderada de uma JOAN BAEZ ou de um BOB DYLAN, nos anos 60. Sem o punk, nunca teria existido o thrash ou o grunge. os MAYHEM, os DARKTHRONE e os IMPALED NAZARENE perderiam todo o encanto sem aquele lado punk que lhes conferiu credibilidade no negro início.
E tudo se pode resumir a estes doze minutos. Neste trecho de vídeo, o grupo de Malcolm McLaren, perdão, o grupo de JOHNNY ROTTEN e SID VICIOUS, embarca no Queen Elizabeth River Boat. Por esta altura, em Londres, celebrava-se mais uma festa associada à Rainha Isabel.
Um mês antes, tinha sido editado o single «God Save The Queen». Que melhor manobra publicitária que subir para um barco no Tamisa, rodear-se de imprensa, porque o punk também necessita dos media, e ganhar exposição? Delicioso aquele final com Malcolm McLaren a chamar a si as atenções, vítima da “repressão policial”, ou estes, vítimas da sua capacidade de marketing.
Nos anos 60, a música chegava de barco, o célebre Radio Caroline, a milhas de terra e liberto das leis inglesas servia rock a rodos. Nos anos 70, o furacão estava num barco no próprio coração de Londres, recrutado pelos SEX PISTOLS; o Queen Elizabeth abalava o sistema. Neste vídeo não há uma música, mas um sentimento que cruza todos os seus doze minutos de duração. Uma guitarra desafinada, um baixo cru e a tensão omnipresente, a abordagem eminente da polícia.
Curiosamente, por altura de «Problems», já tudo se acertava e parecia ir correr bem, mas era altura de a ordem imperar. Nos anos 70 a polícia era física. Nos dias de hoje preferem policiar o pensamento, estabelecer linhas vermelhas e outras formas de censura, mas como canta Rotten “‘Cause I want to be anarchy/It’s the only way to be”. Para cada regra, haverá sempre a anarquia de a ultrapassar. Sem os SEX PISTOLS, talvez não existisse quem recordasse isso no rock. Se calhar, hoje em dia faz falta uma banda assim.