O timoneiro dos noruegueses SATYRICON junta-se às vozes de luto pela morte do internacional português e sublinha a dimensão humana da tragédia.
A morte repentina de Diogo Jota, avançado do Liverpool e da selecção portuguesa, abalou não apenas o universo do futebol, mas também o mundo da música. Um dos testemunhos mais tocantes chegou-nos de uma figura improvável: Sigurd “Satyr” Wongraven, estratega dos SATYRICON e um dos nomes mais respeitados da cena do black metal.
Adepto fervoroso do Liverpool desde criança, o músico norueguês usou a sua conta pessoal no Instagram para expressar choque, tristeza e empatia para com todos os que se sentiram, como ele, devastados com a partida precoce do futebolista português.
“Diogo Jota. Um verdadeiro jogador de equipa e um favorito dos adeptos já não está entre nós”, escreveu o líder dos SATYRICON. As palavras que se seguiram revelaram uma dor que ultrapassa qualquer fronteira desportiva ou geográfica: “Como adepto do Liverpool desde sempre, estou totalmente em descrença; como pai e homem de família, estou de coração partido.”
O tom da mensagem é sóbrio, mas profundamente comovente. Satyr não se limitou a lamentar a perda de um jogador talentoso, preferindo centrar-se na tragédia pessoal e familiar: “Um jovem homem de 28 anos, com a vida pela frente, casado há menos de duas semanas e com três filhos pequenos”, recordou ele, visivelmente abalado. “É devastador imaginar a dor da sua mulher e das crianças, dos pais que perderam dois filhos, e de uma equipa onde muitos colegas certamente o consideravam um verdadeiro amigo, e não apenas um companheiro de balneário.”
A declaração do frontman dos SATYRICON foge a qualquer tentativa de espectáculo ou de dramatização pública. É, antes de mais, uma homenagem íntima, que partilha com o mundo a dimensão emocional de quem, mesmo a milhares de quilómetros de distância e num contexto artístico completamente distinto, se sente tocado pela perda de alguém que admirava — não só pelo que fazia em campo, mas pelo que representava fora dele.
Como é natural, a reacção do músico gerou empatia entre os seguidores dos SATYRICON, muitos dos quais partilharam a surpresa de ver uma figura do black metal manifestar-se de forma tão aberta sobre uma tragédia no mundo do futebol. No entanto, para quem acompanha a carreira de Satyr, não se pode dizer que este momento de humanidade seja totalmente inesperado. Ao longo das décadas, o músico de Oslo tem revelado um lado introspectivo e comprometido com causas pessoais, como se viu quando foi diagnosticado um tumor cerebral em 2015 — experiência que lhe aguçou ainda mais a consciência da fragilidade da vida.
Por tudo isso, esta homenagem a Diogo Jota não soa apenas como mais uma mensagem num mar de homenagens. Parece ser um reflexo de como a dor, o luto e a compaixão se cruzam nos lugares mais inesperados. Numa altura em que muitos ainda procuram palavras para compreender a brutalidade da perda, as palavras do principal compositor dos SATYRICON revelam-se como um eco universal: a morte de um jovem pai, marido e ídolo desportivo é, acima de tudo, uma tragédia humana que ressoa para lá de clubes, nações ou estilos musicais.
Enquanto o mundo do futebol tenta recompor-se, e os fãs do Liverpool prestam homenagem a um dos seus mais queridos jogadores dos últimos anos, também a comunidade da música extrema encontra forma de expressar o seu pesar — recordando-nos que, no essencial, todos partilhamos a mesma vulnerabilidade. E é nesse ponto comum que a homenagem de Satyr, dos SATYRICON, se torna tão poderosa: uma voz inesperada, mas profundamente sentida, que lembra a todos que há momentos em que o silêncio não chega, e é preciso falar — com empatia, com respeito, com humanidade.