ROTTEN SOUND

ROTTEN SOUND lançam novo single e anunciam a batalha por um amanhã possível [streaming]

Os veteranos finlandeses ROTTEN SOUND regressam com um manifesto político em forma de devastação sonora — e o segundo single de avanço, intitulado «Idealist», já pode ser escutado em baixo.

Após sobreviverem ao apocalipse no seu último longa-duração, os ROTTEN SOUND voltam à carga com mais uma explosão sonora pronta a arrasar certezas e ideologias, sendo que o novo EP da banda oriunda de Helsínquia, intitulado «Mass Extinction», promete ser um dos trabalhos mais intensos e politicamente incisivos da carreira dos finlandeses. Num comunicado, os músicos descrevem o disco como uma reacção furiosa às pragas que corroem a sociedade moderna — da desinformação à polarização — condensando toda essa raiva em menos de dez minutos de grindcore puro, rápido e cirurgicamente destructivo.

O segundo single de avanço para o disco, «Idealist», abre caminho para «Mass Extinction», e chega-nos carregado de urgência, velocidade e uma mensagem que, mesmo ligeiramente mais esperançosa do que o primeiro tema revelado, não deixa espaço para indiferença. Além disso, a faixa demonstra a capacidade contínua dos ROTTEN SOUND para se reinventarem dentro de um género que privilegia o choque, sem abdicarem da sua agressividade característica.

Há aqui uma tensão latente entre pessimismo estrutural e esperança possível, expressa numa descarga que recusa conformismo e procura clareza entre ruína e reconstrução. Em «Idealist», os ROTTEN SOUND canaliza toda a frustração acumulada e vontade de mudança para um ataque sonoro bem directo, que se afirma como chamado de atenção para um mundo em transformação constante.

Num comunicado, Keijo Niinimaa, a voz dos ROTTEN SOUND, descreve a nova faixa como “um hino D-beat cínico sobre a nossa luta por um futuro melhor”, explicando ainda que, apesar da dureza do tema, acredita que existe espaço para transformação, afirmando que “acredito que tempos melhores virão, mas parece impossível encontrar um novo patamar para a humanidade”. Na sua reflexão, o músico revela que a composição nasceu de uma tensão prolongada: “a transição parece demorar uma eternidade. Essa frustração levou-me a escrever a letra desta canção”.

Sobre o impacto colectivo dos ROTTEN SOUND na construção de «Idealist», Keijo acrescenta que os riffs de Mika e a pulsação rítmica de Sami criam uma energia circular que empurra a audiência para a catarse, sublinhando que “os riffs do Mika e os grooves do Sami abrem o círculo para um mosh”. O título da canção assume a forma de declaração, convocando uma figura muitas vezes subestimada ou ridicularizada: o idealista, alguém que, perante o colapso iminente, recusa desistir.

Recorde-se que o primeiro tema de avanço, «Brave New World», já tinha deixado bem claro o tom do disco: um ataque frontal contra a manipulação e o medo, conduzido por uma muralha de blastbeats e riffs que soam como um protesto em chamas. A canção foi apresentada com um vídeo-clip realizado pela Shaumbra ArtVisuals e abre o EP com uma introdução retirada de um discurso de Jim Jones, figura infame que serve de ponto de partida para uma reflexão brutal sobre o perigo da cegueira ideológica e da obediência cega a líderes divisivos.

“Trust no one”, grita Keijo Niinimaa sobre a bateria devastadora de Sami Latva e as guitarras demolidoras de Mika Aalto. A mensagem é clara: num mundo dominado por desinformação, teorias da conspiração e censura, a confiança tornou-se um luxo raro. Nas palavras da própria banda, “a «Brave New World» é uma das faixas mais agressivas do novo EP. É sobre como desinformação, polarização, as teorias da conspiração e a censura que levaram as pessoas a um estado de desconfiança. O nosso forte sentido de comunidade tem sido substituído por cepticismo e medo. A luta por informação fiável é agora uma batalha constante.”

Com «Mass Extinction», os ROTTEN SOUND reafirmam o seu estatuto como uma das formações mais duradouras e respeitadas do grindcore. Formados nos anos 90, os finlandeses conseguiram algo raro dentro do género: longevidade. Desde 2004 que a formação composta por Aalto, Niinimaa e Latva se mantém estável, solidificando uma identidade sónica que combina a urgência do punk d-beat com o peso do death metal sueco, tudo acelerado até ao limite da combustão.

O novo EP é o décimo primeiro registo da discografia da banda, e acaba por funcionar como uma espécie de extensão temática do anterior «Apocalypse», mas com um foco mais incisivo na crítica social. Todas as oito faixas de «Mass Extinction» partilham um ADN comum: são curtas, bem abrasivas e corrosivas, como se tivessem sido clonadas a partir do mesmo material tóxico. Contudo, o resultado não é apenas um eco do passado — é uma evolução natural, mais compacta, mais directa e ainda mais devastadora.

Verdade seja dita, para os finlandeses ROTTEN SOUND, a agressão nunca foi apenas estética; mas sim uma linguagem de resistência. O seu grindcore não serve apenas para exorcizar frustrações, mas para confrontar realidades políticas e humanas, usando o ruído como catalisador para a reflexão. Em «Mass Extinction», somos colocados novamente nesse ponto de intersecção entre a fúria e a lucidez — um manifesto em ritmo de explosão.

Com mais de três décadas de carreira e uma reputação construída sobre intensidade intransigente, os ROTTEN SOUND continuam a provar que o grind pode ser tanto uma arma política quanto uma forma extrema de arte. «Mass Extinction» é, em última análise, espelho de um mundo em colapso — distorcido, barulhento, mas brutalmente honesto. Entretanto, a banda já confirmou também que vai apresentar o EP ao vivo numa digressão pela América do Sul no próximo mês, antes de embarcar num périplo europeu em 2026, com passagem pelo Xapada Fest. Se a ferocidade de «Brave New World» é indicativa do que está por vir, os palcos do velho continente podem esperar uma verdadeira hecatombe sónica.

01. Recycle | 02. Ride Of The Future | 03. Gone | 04. Polarized | 05. Brave New World | 06. Empty Shells | 07. Idealist | 08. Mass Extinction