O ano é 2004, ainda o Rio tinha Rock no cartaz. Era a primeira edição em Portugal. O 4 de Junho tinha um cartaz pesado, com INCUBUS, SEPULTURA e MOONSPELL. A encabeçar, METALLICA. Ao entardecer, SLIPKNOT. Por essa altura, a banda de São Francisco já há muito actuava by the book. Um livro que eles tinham reescrito, é certo, mas previsível. Também o público que os seguia, já esperava o habitual ‘arroz’, a cerveja morna e poder dizer que esteve lá, ou “Eu fui”. A segura normalidade da meia-idade. Porém, haviam os maggots. Os SLIPKNOT não eram novidade por cá. Um par de anos antes, com «Iowa», tinham feito ajoelhar o, então, Pavilhão Atlântico. Literalmente. Depois, no Ermal, tinham motivado uma onda, que resultou naquela que certamente será a mais curta actuação de sempre em festivais nacionais. NICKELBACK. Só que agora, o território era outro. A pesada década de 80, juntava-se à de 90, e esperavam os reis. Porém, haviam os maggots. Millennials alimentados a raiva, energizados com uma bateria tão tribal quanto pulsante, a transpirarem adrenalina. “Inside my shell I wait and bleed”, terá sido assim que os fãs aguardaram aquele final de tarde, face à complacência da velha guarda. Seguramente escutando-os discutir entre «Master Of Puppets», «And Justice For All» ou «The Black Album». “I wander out where you can’t see”, naquela romaria familiar aos METALLICA.
E chega o final da tarde, ocaso do astro rei. Os nove vermes entram em palco. O #1 puxa o ritmo na bateria e um rolo compressor percorre o Parque da Bela Vista. «(SIC)», «The Blister Exists», aqueceram, mas quem traz na manga «Duality», «Disaster Piece», «People = Shit», «Spit It Out» ou «Heretic Anthem», não precisa de fillers. Um rolo compressor não pergunta se pode, apenas prossegue. Além disso, haviam os maggots. Se os METALLICA e seus seguidores eram 555, então os SLIPKNOT e os seus seguidores eram 666. “Let me see your devil horns in your fucking hand” grita Corey Taylor, antes dos riffs massivos que dão lugar a «Heretic Anthem» E na bateria, entre drum rolls e blast beats, lá estava o génio musical por trás de toda a energia, Joey Jordison. Corey cospe as primeiras linhas vocais… “I’m a popstar threat and I’m not dead yet” ou “Like a dead beat winner, I want to be a sinner”, até “Breakdowns, obscenities its all I want to be”. E este era apenas um dos temas. E este era apenas um hino. No palco, nove palhaços demoníacos. Na plateia, milhares de maggots que apareciam ao ritmo do #1. O concerto pode ser visto na íntegra aqui.
Não deixa de ser simbólico que, dois dias depois, ambos os grupos se encontrassem no Download, em Inglaterra. O mítico sucessor de Donington. Também lá estavam os SLAYER. Lars sente-se doente e fica impossibilitado de tocar. Uma breve reunião em backstage e Joey emparelha com Dave Lombardo, com os dois a ocuparem o lugar atrás da bateria e a assegurarem assim que os METALLICA não tivessem de cancelar o concerto. Quase vinte anos depois, Joey já não está entre nós, mas os maggots cresceram. Veio o slam, o metalcore, deathcore… os SLIPKNOT puseram a violência sonora num outro patamar. “I fight for the unconventional/My right, and it’s unconditional/I can only be as real as I can/The disadvantage is, I never knew the plan”.