RESURRECTION FEST: 05.07.2019 [reportagem]

Ao segundo dia oficial, a lama lembrava a tempestade da noite anterior, as máscaras recordavam que era dia de SLIPKNOT e algumas bóias coloridas, espalhadas pelo recinto, faziam suspeitar haver gente por SERRABULHO. Já quatro nomes tinham rolado pelos palcos do RESURRECTION quando os espanhóis MEGARA subiram ao Ritual Stage. Musicalmente um metal tão catchy quanto musculado, por vezes remanescente de Manson, com uma atitude punk de crítica social com letras em castelhano, o colectivo tem na sua vocalista uma fonte de energia e socorre-se muito bem do uso de roupas e figurantes para animar o espectáculo, sendo uma das mais agradáveis surpresas visuais de todo o festival. No palco principal seguiram-se os madrilenos BROTHERS TILL WE DIE, com um metalcore para consumo interno e, tal como a banda anterior, apoiados num vocalista com bastante presença em palco, que arrastava os restantes quatro músicos. Como que a recordar a noite anterior, um dos temas ainda teve uma intro de «Raining Blood», mas a referência ficou só por aí. Por esta altura nada melhor que visitar o palco Desert, situado na entrada/saída do recinto e até agora só observado de noite. Claramente que, de tarde, serve para descansar da violência da noite anterior, deitar o corpo ao Sol e relaxar com o stoner que ecoa do PA. Talvez por isso, a maior parte da oferta do palco fosse constituída por nomes espanhóis, quase sempre desinteressantes ou pouco motivadores, como os NEILA, oriundos de Bilbau, que por essa altura actuavam. Pelo palco principal entravam uns WHILE SHE SLEEPS, que provocaram uma wall of death logo ao segundo tema, «Anti-Social». Talvez pela hora, ou pelo espaço, o concerto do grupo de Sheffield soou inferior à anterior passagem aqui e a energia empregue em cada tema, acabava cortada com longas paragens entre cada música. O final do concerto dos britânicos trouxe os SERRABULHO ao Ritual Stage, que o quarteto transformou na “Serrabulho Rave Party”.

O que se passou a seguir ficou para a história futura desta edição do festival, e não por estarmos a falar de músicos portugueses, mas porque foi um concerto memorável, uma festa permanente com milhares a participarem a que não faltou um gaiteiro mirandês. Melhor exemplo, uma das incursões de Toca pelo público, que resultou num comboio de dezenas de pessoas que percorreu uma vasta área do festival, até o próprio vocalista se perder. Procurem o vídeo e terão um sabor do que foi o concerto. Genial! Guilhermino, o baixista da banda, referia, já depois da actuação, que “o balanço é mais que positivo” estando o grupo a ter um feedback brutal. “Damos três passos e temos pessoal em cima de nós, a dizer que gostou do concerto, até o Fernando, organizador principal, já disse que apesar de não ter visto, está a ter a informação de que o concerto foi brutal.” Não menos entusiasmado, Toca, confidenciou mesmo “vamos ver quando cá voltamos de novo, de preferência ao palco principal”. O vocalista declarou-se “tímido”, justificando a incursão pela plateia com um encolher de ombros e um “às vezes lá sai”, a propósito do comboio, que revelou “os espanhóis chamarem La Conga”, um dos maiores vistos na história do festival. Para o músico “A única coisa que falhou foi não termos os Resu Kids em palco. A senhora que os leva pelo festival veio pedir para me tirar uma foto com eles e depois explicou que eu era quem cantava “patati patata” e todos começaram a cantar.” Na realidade, à semelhança de Crisix numa anterior edição e este ano no VOA, só faltou o pedido de casamento em palco, mas Guilhermino recordou isso já ter acontecido “Na Alemanha, em palco, com aliança e tudo, que tinha sido previamente combinado, pelo noivo.

Alinhamento SERRABULHO: «Ela Fez-me Um Grão De Bico», «Don’t Fuck With Krusty», «Léche MoiLesCouilles», «Dingleberry Ice Cream», «B.O.O.B.S.», «Pito Sem Penas», «Sweet Grind O’Mine», «Caguei Na Betoneira», «Pentilhoni Nu Culhoni», «Pubic Hair In The Glasses»

Foto gentilmente cedida pela banda

Em seguida, main stage, para ver os TRIVIUM com uma das maiores audiências diurnas de toda a edição, parecendo mesmo superar a dos Gojira no dia anterior e um Matt Heafy a usar o concerto do dia anterior para picar o público espanhol. “Ontem tocámos em Portugal, o melhor público que tivemos em toda a digressão, hoje é a última data e quero que sejam melhores”. Mais à frente as referências aos circle pit lusos serviriam para instigar ainda mais um público claramente rendido à actuação dos norte-americanos, cantando em conjunto todos os seus hits. Se os Serrabulho tinham encaixado perfeitamente entre dois concertos concorridos, os WORMED apanharam com aquele momento de debandada em que todos procuram as tendas ou a praça de alimentação. A juntar a isso, mesmo os mais resistentes, foram desistindo face a uma exibição pouco inspirada do grupo. Com os ARCH ENEMY o público persistia, mas já era menos o entusiasmo face a um concerto tão bom quanto formatado. Alissa White-Gluz esforça-se e tem uma excelente presença, assim como são incontornáveis as presenças musicais de Amott, D’Angelo ou Loomis, mas face à oferta do cartaz, fica ali a sensação de faltar algo. Apesar de tudo, um dos momentos épicos do festival aconteceu durante a actuação do grupo sueco, com um elemento da assistência, em cadeira de rodas, a fazer crowd surfing até ao palco. Infelizmente, em momento algum a banda pareceu perceber isso e a pessoa, apesar de todo o esforço, ficou-se pelo fosso.

Ao mesmo tempo, os nacionais THE BLACK WIZARDS começavam a tocar no Desert Stage, assinado um concerto que seguiu em crescendo — a LOUD! não assistiu a tudo mas, segundo relatos, a banda nacional foi reunindo cada vez mais pessoas à sua frente. Nas palavras de Joana Brito, “o Resu foi sem dúvida o maior festival espanhol no qual já tocamos, algo em que já andávamos a falar há algum tempo. Acabou por acontecer e estamos muito contentes”. Para a guitarrista e vocalista, no grupo sempre houve “grande carinho por parte da plateia em Espanha e desta vez não foi excepção, até ficamos bastante admirados em ter tanta a gente a ver o nosso concerto uma vez que tocámos ao mesmo tempo que os Arch Enemy, o que significa haver espaço para todos.

Alinhamento THE BLACK WIZARDS: «Fire», «Freaks and Geeks», «I Don’t Mind», «Build Your Home», «Imposing Sun», «Waiting For A Train», «I Don’t Wanna Die»

O dia dos mascarados continuava com os AVATAR no Ritual Stage, numa actuação cheia de energia, em que a pose prevaleceu sobre a música. Sem dúvida que interessante, mas novamente, a alma esteve ausente. E, depois, vieram então os SLIPKNOT. O grupo de Corey Taylor oferece hoje um excelente show visual, os seus membros continuam sempre em movimento, e quando se tem tantos e tão poderosos hits na carteira, é impossível dar um mau concerto. Mesmo assim, e apesar de tudo, o som resultou algo embrulhado, retirando algum brilho a uma actuação inédita no festival, mas, no entanto, tão à medida do seu público. Numa manobra que começa a ser clássica, o fim do concerto dos cabeças-de-cartaz resultou em dois nomes fortes a actuarem em simultâneo, diminuindo o impacto na saída das trinta mil pessoas que por esta altura enchiam o espaço. CRADLE OF FILTH no Ritual e CONVERGE no Chaos tentavam travar o público em debandada, curiosamente correndo melhor aos primeiros. No entanto, a energia de ambos perdeu claramente na comparação com os Slipknot, face a um público exausto com tanta música. E se estes sofreram, Crisix, no palco principal, faziam a festa como só eles sabem, mas não evitaram a saída dos milhares que recolheram antes do final.

MEGARA
NEILA
WHILE SHE SLEEPS
SERRABULHO
SERRABULHO
SERRABULHO
TRIVIUM
TRIVIUM
ARCH ENEMY
THE BLACK WIZARDS
THE BLACK WIZARDS
THE BLACK WIZARDS
AVATAR
SLIPKNOT
SLIPKNOT
SLIPKNOT
SLIPKNOT
SLIPKNOT
CONVERGE
CRADLE OF FILTH