REFUSED

REFUSED dizem adeus em Umeå e encerram o último concerto com a icónica «New Noise» [vídeo]

“Refused is dead. Long live Refused. Na cidade onde tudo começou, os suecos REFUSED subiram ao palco pela última vez, encerrando uma trajectória que redefiniu os limites do punk e do hardcore contemporâneo.

O adeus dos REFUSED aconteceu exactamente onde fazia mais sentido. No passado dia 21 de Dezembro, em Umeå, cidade do norte da Suécia que viu nascer a banda no início da década de 90, os cinco músicos liderados por Dennis Lyxzén deram o último concerto da sua influente história. Segundo testemunhos de quem esteve no local, este foi um momento carregado de simbolismo, emoção e enorme peso histórico, transmitido em directo para todo o mundo.

O espectáculo teve lugar no Väven e correspondeu ao terceiro e último de três concertos de despedida em Umeå. Ao longo de um alinhamento extenso, composto por um total 21 temas, os suecos REFUSED revisitaram praticamente todas as fases da sua carreira, cruzando o ímpeto militante dos primeiros anos com a maturidade de uma banda que sempre recusou acomodar-se. O concerto culminou, como não poderia deixar de ser, com «New Noise», o hino que atravessou fronteiras e décadas, fechando o ciclo com a mesma urgência que, em 1998, mudou para sempre o curso do hardcore.

O alinhamento percorreu temas como «The Shape Of Punk To Come», «Liberation Frequency», «Rather Be Dead», «Coup D’état» e «Refused Are Fucking Dead», num gesto quase manifesto de tudo o que a banda representou: confronto, consciência política, ruptura estética e recusa sistemática de concessões fáceis. No encore, antes do momento final, surgiram ainda «Burn It», «Everlasting» e «Pump The Brakes», preparando o terreno para uma despedida que soou menos a fim definitivo e mais a afirmação de um legado irreversível.

Após o concerto, Dennis Lyxzén recorreu às redes sociais para reagir ao fim de semana que encerrou a história da banda, num tom simultaneamente emocionado e contido. “O fim de semana acabou e foi avassalador, para dizer o mínimo. Preciso de alguns dias para processar tudo e depois irei escrever mais sobre o assunto. Mas, por agora: obrigado a todos os que estiveram nos concertos, viram a transmissão ao vivo ou tornaram tudo isto possível. Amo-vos a todos. Refused is dead. Long live Refused. A frase final, já lendária, funciona como epitáfio e proclamação, sintetizando a filosofia que sempre definiu o grupo.

Formados em Umeå, os REFUSED tornaram-se uma das bandas mais influentes da história do hardcore, sobretudo após o lançamento de «The Shape Of Punk To Come», em 1998. Curiosamente, o impacto global do álbum consolidou-se após a separação da banda nesse mesmo ano, transformando o disco numa referência transversal, citada por artistas tão distintos como os RAGE AGAINST THE MACHINE ou FOO FIGHTERS, e elevando-o ao estatuto de obra seminal do punk moderno.

Esse percurso singular, marcado por rupturas, regressos e constantes reavaliações do próprio papel da música enquanto ferramenta política e cultural, será documentado em Exit To End, um documentário actualmente em produção e financiado através de uma campanha no Kickstarter. O filme acompanha a digressão final dos REFUSED em 2025 e constrói uma narrativa que oscila entre o passado e o presente, ligando o hardcore militante da Umeå dos anos 90 aos palcos globais do século XXI.

Segundo a sinopse divulgada, Exit To End retrata não apenas a história da banda, mas também a de uma cidade e de um país em transformação. Num contexto de recessão económica, crescimento da extrema-direita e instabilidade social, emergiu em Umeå um movimento juvenil onde punk/hardcore, veganismo e antifascismo se fundiram, criando uma identidade colectiva que ultrapassou fronteiras. A trajectória dos REFUSED surge, assim, indissociável dessa geração que recusou abdicar da ideia de mudança.

Com imagens de arquivo raras, conversas íntimas e registos ao vivo da última digressão, o documentário promete ser o retracto definitivo de uma banda lendária, que se tornou símbolo de integridade artística e resistência cultural. Portanto, o concerto final em Umeå não foi apenas um adeus, mas a confirmação de que o impacto dos REFUSED continua vivo, inscrito na história do punk e do hardcore, muito para além do silêncio que agora se segue.