“As gravações duraram cerca de seis semanas – o que, hoje em dia, é impensável”, recorda Nick Holmes, o carismático vocalista dos PARADISE LOST, em entrevista à LOUD!.
Originalmente gravado entre Junho e Julho de 1993, nos Jacob Studios e nos Townhouse Studios, ambos no Reino Unido, o icónico quarto longa-duração dos PARADISE LOST foi produzido pelo reputado Simon Efemey e editado pela Music For Nations no dia 28 de Setembro desse ano. Precedido pelo «Shades Of God», que expandiu muito ligeiramente o doom/death metal de influência gótica e os estabeleceu como uma das melhores bandas do género, o «Icon» afirmou-se como um proverbial salto de fé.
Com o grupo a ensaiar um afastamento do som explorado nos primeiros discos, naquele que foi o último registo com Matt Archer na bateria, Nick Holmes abandonou o seu característico grunhido para adoptar um estilo mais limpo e a dupla Gregor Mackintosh/Aaron Aedy aprimorou ainda mais o estilo único que sempre a caracterizou, uma excelente interação entre os riffs esmagadores de Aedy e as melodias tristes de Mackintosh.
Mais que tudo isso; no «Icon», os PARADISE LOST afirmam-se de uma vez por todas como excelentes compositores – se a «Embers Fire» não é a melhor música de gothic metal de todos os tempos, é porque é a «True Belief». Resultado, há três décadas, estes britânicos já serviam momentos de brilhantismo que nunca foram superados.
“A nossa música estava, definitivamente, a tornar-se progressivamente mais acelerada e talvez um pouco mais acessível também”, recordou o simpático Nick Holmes, o cantor dos PARADISE LOST, via Zoom. “Andávamos a ouvir coisas mais… Não necessariamente mainstream, mas andávamos a ouvir diferentes tipos de metal. Os primeiros três álbuns estavam enraizados naquela sonoridade mais tradicional do death e do doom metal, que eram provavelmente os dois únicos estilos que ouvíamos na altura. Depois, começámos a alargar os nossos horizontes para sonoridades mais abrangentes.”
“Uma banda como os Alice In Chains, por exemplo”, continua Holmes. “Não me lembro bem quando é que eles apareceram, mas foram um daqueles grupos novos que tiveram impacto no que fizemos nos anos seguintes. O que eles faziam não era metal no sentido mais tradicional do termo, mas era negro, pesado e, acima de tudo, os temas eram óptimos. Isso influenciou-nos no que fizemos. Levou-nos a pensarmos mais em como as canções funcionavam ao vivo. Ah! Até pode parecer estranho, mas os Queensrÿche também nos influenciaram muito nessa fase – sempre fui, e ainda continuo a ser, um enorme fã deles.
As pequenas alterações nos nossos gostos pessoais acabaram por originar uma mudança no som da banda. O «Icon», como o «Draconian Times», foram discos de mutação para os Paradise Lost. Além disso, lembro-me perfeitamente que, durante o processo de composição, tentei sempre fazer coisas diferentes vocalmente – e isso representou outro passo em frente em relação ao que tínhamos feito até ali. Acho que me senti um bocado empurrado para um canto com o que tinha feito nos primeiros discos, sabes?
Agora é algo que não me incomoda nada, mas na altura estava farto das vocalizações guturais, típicas do death metal. Isso levou-me a tentar experimentar outras coisas, nem que fosse só para provar a mim mesmo que conseguia fazê-las. Comecei no «Shades Of God» e concretizei essa expansão nos álbuns seguintes.”
Quanto às sessões de gravação propriamente ditas, o músico confessa que as memórias dessa época não são tão nítidas como gostaria. “Nessa altura lançávamos um álbum por ano, por isso na minha cabeça as coisas tendem a misturar-se um bocado”, explica ele. “Naquela época conseguíamos ser bem produtivos e, mesmo assim, passar um bom bocado. Podíamos perfeitamente passar uma noite inteira nos copos, acordar e fazer alguns takes óptimos logo de manhã seguinte – o que é algo que, definitivamente, não seria possível fazermos agora. Como éramos novos, podíamos fazer tudo. Hoje em dia, se for beber copos com o pessoal, preciso de três dias para recuperar.”
“As gravações duraram cerca de seis semanas – o que, hoje em dia, é impensável. Lembro-me que a Music For Nations nos atribuiu um budget enorme, totalmente disparatado. Na verdade, acho que fomos muito sortudos por termos podido experienciar uma época em que as editoras ainda pagavam para uma banda como os Paradise Lost ir gravar a estúdios chiques, com campos de ténis, piscinas e tudo o mais… Ter tido essa experiência foi impagável”, conclui o cantor britânico entre risos.