O clássico do death/doom «Gothic» celebra hoje 33 anos. Para assinalar a ocasião, recordamos uma das raras ocasiões em que os PARADISE LOST tocaram o disco de 1991 do início ao fim em palco.
Em 1991, o movimento death metal estava em plena ebulição. Dúvidas restassem, bastaria dar uma vista de olhos à lista de bandas do género que lançaram discos marcantes nesse ano: MORBID ANGEL, SEPULTURA, ENTOMBED, DEATH, AUTOPSY, CARCASS, DISMEMBER, SUFFOCATION, BENEDICTION, UNLEASHED, PESTILENCE, IMMOLATION, GRAVE, ASPHYX e GORGUTS. Convenhamos, em retrospectiva e mais três décadas depois, é francamente notório que estávamos perante um dos melhores anos para qualquer subgénero no mundo da música extrema.
Aquela lista de pesos pesados em cima é impressionante, não é? Pois, mas a verdade é que falta mencionar ali um dos mais exclusivos e influentes álbuns de death/doom metal editados em 1991 — o «Gothic», dos PARADISE LOST.
Apesar de ter sido o segundo longa-duração da banda britânica, sucedendo à estreia «Lost Paradise», editada um ano antes, foi só nesse momento que os PARADISE LOST conseguiram realmente materializar o seu potencial que tinham dentro de si na plenitude. E sim, o álbum de estreia tinha sido útil para o crescimento do quinteto liderado pelo vocalista Nick Holmes e pelo guitarrista Gregor Mackintosh, mas o «Gothic» redefiniu os parâmetros do que o death metal poderia realmente ser.
Enquanto bandas como os DEATH e os ATHEIST ensaiavam uma abordagem mais técnica ao estilo, e os MORBID ANGEL, AUTOPSY e ENTOMBED mantinham uma postura mais suja e crua, os PARADISE LOST optaram por explorar doses massivas de experimentalismo, sem par naquela época.
Sintetizadores? Arranjos orquestrais? Vozes de apoio femininas? A ocasional passagem vocal limpa ou de spoken word? Segmentos que, e às vezes em músicas inteiras, diminuíam para um ritmo semelhante ao doom dos BLACK SABBATH? Tudo isso eram elementos virtualmente inéditos no espectro do death metal, numa altura em que todo o género parecia apenas interessado em soar mais brutal, mais veloz, mais técnico.
Aqui estavam os PARADISE LOST, a sufocar o death metal com um cobertor sombrio e definitivamente britânico, com o seu quê de gótico. A obra-prima resultante deu o tiro de partida para a génese de todo um novo ramo na árvore do death metal, depressivo, mas opressivo nas doses de desolação.
Sim, é fácil defender um caso sólido ao dizer que os CELTIC FROST são, um tanto ou quanto de forma acidental, os progenitores do death/doom, mas também não é difícil construir o argumento de que foram os PARADISE LOST que o aperfeiçoaram. E essa história de perfeição começa com este álbum. Temas como a incrível «Silent» pegam na agressão do death metal e diminuem a velocidade para um ritmo lento da melhor maneira possível.
A natureza pesada nos momentos mais lentos e arrastados é cruel, os elementos puramente góticos e ambiciosos em «The Painless» e no tema-título e a qualidade dos riffs, que estão entre os mais cativantes que ouvimos num disco de death metal, fazem deste um registo exemplar. E tudo o que resta é um disco que, mais trinta anos depois, ainda soa tão fresco e excitante como quando o ouvimos pela primeira vez.
Editado originalmente a 19 de Março de 1991, o «Gothic» faz hoje 33 anos e, em 2016, os PARADISE LOST comemoraram um quarto de século do lançamento do disco tocando-o na íntegra no Roadburn Festival. Podes conferir o resultado no player em baixo.