PARADISE LOST

PARADISE LOST: Novo álbum, «Ascension», para ouvir na íntegra [review + streaming]

Trinta e cinco anos depois, os PARADISE LOST entregam um álbum que consolida a sua carreira e ainda se atreve a explorar novas camadas emocionais.

Após mais de três décadas de carreira, os PARADISE LOST continuam a afirmar a sua relevância no panorama internacional do metal. Em 2025, a banda apresenta «Ascension», o seu décimo sétimo álbum de estúdio, sucedendo a «Obsidian» de 2020. Cinco anos de espera, condicionados pela pandemia, não enfraqueceram a força da banda; pelo contrário, permitiram que os britânicos, liderados por Nick Holmes e Greg Mackintosh, preparassem um trabalho coeso e cuidadosamente construído.

Durante o período de confinamento, ambos encontraram tempo para trabalhar em HOST, lançando o álbum «IX», que serviu como experiência criativa paralela e aquecimento para este regresso. «Ascension» abre com «Serpents On The Cross», faixa que revela imediatamente o equilíbrio entre peso e melodia característico dos PARADISE LOST. A produção, simultaneamente nítida e esmagadora, permite que cada detalhe se destaque, refletindo um som moderno sem perder o factor intemporal que define a identidade da banda.

A voz de Nick Holmes mantém a força habitual, mas ganha camadas de maturidade emocional, com a alternância entre linhas vocais limpas e guturais a surgir de forma natural. O trabalho de guitarra de Greg Mackintosh continua a ser um dos elementos centrais, claro. Com riffs que equilibram força e melodia, o Sr. Mackintosh constrói solos e linhas que entram na memória do ouvinte. Em faixas como «Salvation», a abordagem é contida, mas precisa, demonstrando experiência e um domínio da composição que reforça a solidez do disco sem recorrer a excessos técnicos.

O primeiro single de avanço para o disco, «Silence Like The Grave», ilustra bem a versatilidade de «Ascension». Holmes descreve a faixa como “uma das mais rápidas” do álbum, mas mantém a urgência característica da banda, unindo peso e lirismo num refrão que combina intensidade e emoção. “O título vem da crença em ascender para um lugar melhor, na ficção da Terra para o céu, e de todos os requisitos que isso implica”, comenta Nick Holmes sobre a temática do álbum. “Na vida real, as pessoas estão sempre a tentar chegar a um lugar melhor desde o nascimento, a tentar ser melhores pessoas, apesar de a única recompensa ser a morte.”

Mais do que uma colecção de faixas individuais, «Ascension» funciona como uma viagem coesa. As passagens mais lentas e atmosféricas recebem espaço para respirar, enquanto os momentos agressivos atingem com precisão. No centro do álbum, canções como «Sirens» e «The Precipice» demonstram a capacidade de criarem atmosferas densas, não só alternando entre pesado e melódico, mas construindo narrativas emocionais complexas.

A escolha da capa, inspirada em “The Court Of Death” (1870-1902), reforça a ligação dos PARADISE LOST a temas de mortalidade e espiritualidade sem recorrer a pretensões intelectuais. E sim, o som integra elementos de todas as fases da carreira dos PARADISE LOST: há ecos do doom inicial, da grandiosidade gótica da década de 90 e da robustez dos registos mais recentes, mas tudo surge de forma natural, sem recorrer exactamente à nostalgia.

Esse equilíbrio permite que «Ascension» se sinta contemporâneo, mantendo a identidade consolidada da banda. Para os fãs antigos, muitos dos quais recuperaram nos últimos anos, pode ser um regresso a casa, consolidando a ligação com uma discografia extensa; para novos ouvintes, funciona como uma porta de entrada perfeita para compreender a relevância e a versatilidade dos PARADISE LOST. Em suma, um bom testemunho de como uma banda veterana consegue manter-se ainda relevante, evoluindo sem perder a essência.