OBITUARY

OBITUARY + «SLOWLY WE ROT» = 35 anos de brutalidade extrema

Com o «Slowly We Rot», que completa 35 anos, os OBITUARY não só encontraram o seu próprio estilo como responderam a uma questão pertinente — como soariam os Celtic Frost a tocar death metal?

Se o death metal surgiu pela primeira vez no final dos anos 80, cortesia de grupos como os POSSESSED e os DEATH, foi outra banda da Flórida, os OBITUARY, que o concretizaram de uma vez por todas a 14 de Junho de 1989. Com o lançamento do seu álbum de estreia, sugestivamente intitulado «Slowly We Rot», estes cinco rapazes elevaram o que os grupos que os tinha precedido tinham feito a todo um novo nível de brutalidade.

Para começar, a música dos OBITUARY não era simplesmente uma forma extrema de speed/thrash metal à SLAYER com vocalizações grunhidas; era death metal puro, apoiado com riffs de guitarra de tamanho monstruoso, grunhidos e gemidos de dor no lugar das linhas vocais, e mudanças de ritmo distintas, que levavam muitas vezes as músicas a um ritmo lento e deprimente, em vez de embarcarem nas velocidades vertiginosas daqueles que eram, até então, os géneros musicais mais extremos.

É certo que, em 2024, estas inovações não parecem assim tão revolucionárias, sobretudo se tivermos em conta a quantidade de bandas de death metal que surgiram durante os anos 90 e além, dando origem a uma variedade de sub-géneros. No entanto, em 1989, os OBITUARY — juntamente com outros pares da Flórida como os MORBID ANGEL e, um pouco mais tarde, DEICIDE, CANNIBAL CORPSE e MALEVOLENT CREATION — estavam, literalmente, a traçar um novo caminho para a música extrema.

A verdade é que, mais de três décadas depois de terem sido originalmente gravados, os riffs de guitarra de Trevor Peres e Allen West continuam a soar absolutamente avassaladores, principalmente quando os músicos abrandam o ritmo até (quase) se arrastarem. No entanto, é o grunhido sobrenatural do Sr. John Tardy que se destaca mais; e também foi esse elemento que atraiu mais atenção na altura. Simplificando, o bom do John soa como se estivesse em dor, como se tivesse uma faca cravada no estômago ou algo desse género. É o som característico dos OBITUARY, e aquilo que sempre os diferenciou dos seus pares e seguidores em massa.

Junte-se a isto a produção do emergente Scott Burns, e temos o esboço para uma geração de bandas de death metal que estaria por vir. Convenhamos, aqui o som criado por Burns ainda não é tão brutalmente cristalino como seria nos anos seguintes. Na verdade, é até bastante lo-fi, faltando-lhes o dinamismo que mais tarde se tornaria a sua imagem de marca, mas o death metal ainda estava apenas a florescer e, está mais que visto, os orçamentos eram reduzidos.

Nada disso belisca a solidez de uma colecção de temas, em que alguns se destacam, principalmente os primeiros, com o tema-título à cabeça; no entanto, os OBITUARY nunca foram uma banda de singles e, como é habitual na música extrema, os seus álbuns sempre funcionaram melhor quando apreciados do início ao fim. Nesse aspecto, o «Slowly We Rot» resiste bem à audição na íntegra e, dada a intensidade da música, a sua curta duração acaba por funcionar como uma bênção.

Mesmo tendo em conta tudo o que alcançaram nos anos seguintes, o «Slowly We Rot» afirma-se como um dos melhores e mais inspirados registos dos OBITUARY. Um álbum historicamente significativo, não só no contexto da sua carreira, mas, mais importante, no contexto do death metal em geral. Sim, porque foi essencialmente aqui que tudo começou — aqui e deste lado do Atlântico, onde as bandas da Earache definiam o seu próprio nicho, que em breve se iria cruzar com o dos irmãos Tardy e dos seus pares.