A cantar o destino, o sofrimento, o coração partido, a conexão dos MY DYING BRIDE com o público luso foi quase imediata – e o grupo britânico encontrou uma vasta legião de aliados no típico cinzentismo português.
Por esta altura, os MY DYING BRIDE são daquelas bandas que já não precisam de apresentações. Ao lado dos Paradise Lost e Anathema, completaram a tríade do doom britânico que explodiu no início dos 90s, sendo que foram essenciais na ingrata tarefa de estabelecer os parâmetros para toda a fusão death/doom e de a cimentar, por direito próprio, como subgénero da música extrema.
É, convenhamos, preciso ter estado a viver debaixo de uma pedra para não conhecer ou sequer saber, nem que seja só de passagem, o que faz o talentoso colectivo liderado por Aaron Stainthorpe.
Abraçando o imaginário gótico e cinzentão tipicamente britânico, entre lápides cobertas de musgo, os músicos de assinaram, no espaço de apenas 48 meses, algumas das pedras basilares de um estilo que, nos anos seguintes, deu origem a toda a vaga de bandas apostadas em fazer música pesada e lenta, morosa e sorumbática, carregada de melodias capazes de fazer chorar até as pedras da calçada…
Os, hoje, já clássicos «Symphonaire Infernus Et Spera Empyrium», «As The Flower Withers», «Turn Loose The Swans» e «The Angel And The Dark River» estabeleceram a sonoridade, influenciaram toda uma geração e viram o nome da banda inscrito para todo o sempre no panteão da música extrema.
Com o (mais directo) «Like Gods Of The Sun» e o (mais experimental) «34.788%… Complete», talvez inspirados pela imensidão de grupos a tentarem recriar o génio que fez os seus primeiros discos, os MY DYING BRIDE optaram por uma abordagem por um afastamento ligeiro da sonoridade com que eram até ali conotados, e que, ainda assim, deu origem dois discos diferentes mas também marcantes para quem os foi seguindo.
Após uma fase de reconfiguração, com o sexto e sétimo álbuns, «The Light At The End Of The World» e «The Dreadful Hours», os MY DYING BRIDE optaram então por dar um passo atrás e continuaram a explorar o som doom/death que os tornou famosos em primeira instância, alargando o raio de acção, abraçando o rock gótico sem vergonha e até o extremismo do black metal. Verdade seja dita, a sequência recente de «Fell The Misery», «The Ghost Of Orion» e «A Mortal Binding», que foi lançado já este ano, acabou por revelar-se um prova irrefutável de que estamos perante um daqueles casos em que banda e o seu público cresceram lado a lado, apoiando-se nos momentos críticos e estabelecendo laços inquebráveis.
Em Portugal, talvez porque nunca conseguiram manter uma presença constante por cá (desde a estreia memorável no Pavilhão do Dramático de Cascais, como “suporte” aos Iron Maiden na fase do Blaze Bailey), transformaram-se numa espécie de culto, sendo muito os que os vêem e têm como referência. Felizmente, todo este amor e respeito são genuinamente recíprocos, com os músicos ingleses a desenvolverem uma relação com o público lusitano apesar da distância. A reacção entusiasta com a qual são brindados a cada um dos seus novos, e cada vez mais raros, passos, prova-o; e os números não deixam margem para dúvidas.
Senhores de uma entrega emocional palpável a cada nota ou linha vocal, notas e linhas vocais que agarram o ouvinte de forma intensa e a que ninguém, nem o mais empedernido dos corações metaleiros, consegue ficar indiferente, os MY DYING BRIDE encontraram no nosso país os aliados perfeitos. Não é, de resto, muito difícil perceber porquê – do registo mais explicitamente doom/death às paisagens encantadoras, e muito melancólicas, que sempre marcaram os seus lançamentos, passando pela solidão que dominou grande parte do que gravaram nos anos, tudo nas suas canções respira fado.