Após mais de três décadas de história, os britânicos MY DYING BRIDE despediram-se finalmente da sua voz de sempre.
A longa e dolorosa relação entre MY DYING BRIDE e o seu vocalista fundador Aaron Stainthorpe chegou oficialmente ao fim. As lendas britânicas do doom anunciaram hoje, 9 de Outubro, a separação definitiva do cantor, encerrando assim uma das colaborações mais icónicas, duradouras e influentes do género. O comunicado, publicado nas redes sociais do grupo, não deixa dúvidas quanto ao caráter ponderado da decisão.
“Os MY DYING BRIDE decidiram seguir caminhos separados do Aaron Stainthorpe. Por favor, compreendam que esta decisão não foi tomada de ânimo leve, razão pela qual o nosso silêncio inicial foi muito doloroso — na verdade, precisávamos de tempo para reflectir e considerar cuidadosamente a resposta a este estado de distanciamento e abandono em que de repente nos encontrámos”, lê-se na nota oficial.
O texto prossegue num tom melancólico, mas resoluto: “A nossa decisão colectiva de seguir em frente sem o Aaron não é algo que alguma vez pensássemos ser forçados a dizer, mas para garantir a continuidade do legado daquilo que tanto prezamos, simplesmente temos de ultrapassar esta fase. Embora a mudança possa ser difícil, estamos a fazer o possível para trazer este novo capítulo com uma poderosa positividade.” Os MY DYING BRIDE esclareceram ainda que não se encontra em pausa: “Os MY DYING BRIDE não estão num hiato, nunca estiveram. Desejamos sinceramente ao Aaron toda a sorte do mundo nos seus novos projectos a solo.”
A saída de Aaron Stainthorpe, que há meses parecia inevitável, surge na sequência de um afastamento progressivo do vocalista relativamente ao grupo. Durante o Verão, o guitarrista Andrew Craighan tinha deixado pistas sobre a situação numa entrevista à Metalirium, revelando que o cantor já se encontrava desligado das actividades dos MY DYING BRIDE.
“Apesar de todos os problemas, a banda estava disposta e pronta para realizar os concertos restantes em 2024, mas, infelizmente, não havia vocalista disponível. Descobrimos isso à última hora, o que levou ao cancelamento de todas as datas. Dado que o álbum «A Mortal Binding» tinha acabado de ser lançado, não estávamos preparados para ficar parados. Foi então que decidimos reunir-nos para discutir a hipótese de um substituto, e o Mikko Kotamäki foi a escolha unânime”, explicou Craighan.
O guitarrista também clarificou o estado de comunicação com Stainthorpe: “Como o Aaron se distanciou realmente da banda, apenas sabemos das suas actividades através das redes sociais e de entrevistas online. Entrámos em contacto com ele em Março de 2025 para saber quais eram as suas intenções em relação aos MY DYING BRIDE, mas nunca nos respondeu. Soube-se pelas redes que ele estava em pausa. Embora afirme que ainda faz parte da banda, não temos qualquer contacto com ele desde Abril de 2024.”
O substituto, que ainda não e sabe se será apenas temporário ou definitivo, é Mikko Kotamäki, famoso pela sua carreira nos SWALLOW THE SUN, e já subiu ao palco com os MY DYING BRIDE em concertos pela Europa (incluindo uma actuação em Lisboa), Austrália e Ásia. A recepção por parte dos fãs tem sido moderadamente positiva, com muitos a reconhecerem na sua voz uma afinidade bastante natural com a melancolia e a densidade emocional que sempre definiram o som dos músicos britânicos. Nesse sentido, a possível integração de Kotamäki não só garante a continuidade da actividade da banda ao vivo, como também pode sugerir uma revitalização criativa num momento de transição.
Fundados em 1990 em Bradford, no Reino Unido, os MY DYING BRIDE tornaram-se um dos pilares do doom metal europeu, ao lado dos Paradise Lost e dos Anathema. A voz grave e declamativa de Aaron Stainthorpe, combinada com as guitarras melódicas e o lirismo trágico da banda, definiu uma estética sombria e poética que marcou gerações. Discos como «Turn Loose The Swans», «The Angel And The Dark River» e «The Dreadful Hours» são hoje considerados clássicos do género, e a figura de Stainthorpe — com o seu timbre inconfundível e presença austera — tornou-se inseparável da identidade da banda.
O futuro dos MY DYING BRIDE ainda não foi detalhado, mas as palavras de Andrew Craighan e o tom do comunicado oficial apontam para uma fase de reconstrução serena e determinada. Após mais de 30 anos de carreira, a banda mostra-se disposta a continuar a trilhar o seu caminho de dor e beleza, agora com uma nova voz a ecoar entre as sombras.